19.05.2013 Views

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tornar-se farmacêutico. Aos 31 anos foi diagnosticado como leproso e enviado às pressas para Carville, onde<br />

passou o resto <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. Ele escreveu uma autobiografia pungente, Alone No Longer [Não mais solitário] e<br />

fundou o The Star [A estrela], um jornal dos pacientes que atraiu assinantes de to<strong>da</strong>s as partes do mundo. Stanley<br />

foi quem me contou muitas <strong>da</strong>s histórias do passado de Carville.<br />

Quando o conheci, Stanley perdera todo o contato sensorial <strong>da</strong>s mãos e dos pés e havia ficado cego recentemente.<br />

Cicatrizes e úlceras cobriam suas mãos, face e pés, oferecendo um testemunho mudo do abuso involuntário que<br />

seu corpo suportara pelo fato de não sentir <strong>dor</strong>.<br />

Stanley contou-me que quando seus olhos começaram a ficar secos ele procurou alívio cobrindo-os com<br />

compressas molha<strong>da</strong>s. Ficava de pé junto à pia e deixava a água correr até que achasse ter chegado à temperatura<br />

apropria<strong>da</strong>. Infelizmente perdera as sensações e não podia avaliar a temperatura, algumas vezes escal<strong>da</strong>va as mãos<br />

e o rosto, resultando em cicatrizes e mais deformi<strong>da</strong>des.<br />

A cegueira complicou muito a vi<strong>da</strong> de Stanley, e ca<strong>da</strong> vez mais ele simplesmente não saía do quarto. Conseguiu<br />

manter suas responsabili<strong>da</strong>des com o The Star fazendo alguém ler os artigos para ele e usando um ditafone para<br />

escrever. Stanley era um homem inteligente, e eu gostava de visitá-lo. Sensível à minha mais leve inflexão de voz,<br />

percebia rapi<strong>da</strong>mente o significado por trás do que eu dizia. Questionou-me sobre atitudes em relação à doença<br />

nos diferentes países e queria ser informado de quaisquer novos avanços no tratamento <strong>da</strong> lepra.<br />

A medi<strong>da</strong> que a doença progredia no corpo de Stanley, entretanto, os bacilos desenvolveram uma resistência às<br />

nossas melhores drogas, e seus médicos tiveram de recorrer à estreptomicina, um poderoso antibiótico que tem o<br />

efeito colateral de causar a destruição do nervo auditivo. Tragicamente, Stanley Stein começou a perder a audição,<br />

seu último elo com o mundo exterior. Ele não podia mais ouvir noticiários nem livros recitados. A conversa com<br />

os amigos tornou-se extremamente difícil.<br />

Ao contrário de Helen Keller, Stanley não podia sequer usar a linguagem de sinais táteis, pois a lepra <strong>da</strong>nificara<br />

seu sentido do toque. Lembro-me de ter entrado no quarto de Stanley, desejando tornar conheci<strong>da</strong> minha<br />

presença. Ele não podia ver-me e era tão insensível ao toque que eu tinha de agarrar sua mão e sacudi-la<br />

vigorosamente para que sentisse qualquer coisa. Seu rosto iluminava-se quando percebia que tinha um visitante e<br />

procurava inutilmente no criado-mudo o seu aparelho auditivo. Eu o encontrava para ele e depois gritava bem<br />

perto do aparelho, e por algum tempo ain<strong>da</strong> pudemos nos comunicar. Mas em pouco tempo a surdez prevaleceu.<br />

Uma visita a Stanley durante os últimos meses de sua vi<strong>da</strong> era quase insuportável. Incapaz de ver, ouvir e sentir,<br />

ele acor<strong>da</strong>va desorientado. Estendia a mão e não sabia o que estava tocando, falava sem saber se alguém o ouvia<br />

ou respondia. Certa vez eu o encontrei sentado numa cadeira resmungando para si mesmo em tom monótono:<br />

— Não sei onde estou. Alguém está aqui no quarto comigo? Não sei quem você é e meus pensamentos ficam<br />

girando. Não consigo ter novas idéias.<br />

A absoluta solidão de Stanley Stein me perseguia. "A solidão agu<strong>da</strong>", escreveu Rollo May, "parece ser o pior tipo<br />

de ansie<strong>da</strong>de que o ser humano pode sofrer. Os pacientes nos dizem com frequência que a <strong>dor</strong> corrói fisicamente o<br />

seu peito, ou parece o corte de uma lâmina na região do coração". Por falta de <strong>dor</strong>, Stanley Stein sofreu uma <strong>dor</strong><br />

ain<strong>da</strong> maior. Seu cérebro, com to<strong>da</strong> a sua vivaci<strong>da</strong>de, inteligência e erudição, continuava intacto. Os caminhos<br />

para o cérebro, porém haviam secado, um a um os nervos principais morreram. Até mesmo o olfato desapareceu<br />

quando a lepra invadiu o revestimento do nariz de Stanley. Exceto pelo pala<strong>da</strong>r, to<strong>da</strong>s as entra<strong>da</strong>s do mundo<br />

exterior estavam agora bloquea<strong>da</strong>s, e a caixa de marfim que fora a armadura <strong>da</strong> mente tornou-se a sua prisão.<br />

Com todos os recursos do Serviço de Saúde Pública Norte-americano à nossa disposição, podíamos fazer pouca<br />

coisa além de tornar os últimos dias de Stanley Stein tão confortáveis quanto possível Ele morreu em 1967.<br />

NOVAS FERRAMENTAS<br />

Cheguei aos Estados Unidos numa época propícia para a pesquisa científica. O governo financiou generosamente<br />

programas médicos mesmo quando, em nosso caso, beneficiavam principalmente pessoas em outros lugares. (A<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 105

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!