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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Removi rapi<strong>da</strong>mente todos os fórceps e simplesmente fiz pressão com meu polegar enluvado, permitindo que a<br />

sua superfície enchesse a brecha. O sangramento estancou. Meu pulso estava acelerado, mas não fiz na<strong>da</strong> senão<br />

manter o polegar ali durante vários minutos até que o pânico na sala, em mim e na paciente tivesse diminuído.<br />

A seguir, falando em tom baixo, eu disse:<br />

— Agora vamos fazer uma pequena limpeza. Enfermeira, por favor, chame um anestesista. Por que não vai<br />

ver quem está de plantão?<br />

Pude sentir a paciente relaxar gradualmente sob o meu polegar. Expliquei que terminaríamos o trabalho e<br />

fecharíamos o ferimento para ela e que ficaria muito mais confortável se durante o processo estivesse <strong>dor</strong>mindo.<br />

Quando finalmente a<strong>dor</strong>meceu, ain<strong>da</strong> com meu dedo pressionando o ponto de sangramento, fiz o interno ampliar<br />

um pouco a incisão na pele e sondei até descobrir a fonte de tanto sangue. Vi imediatamente o que acontecera. O<br />

interno tinha seguido um procedimento rotineiro para uma biópsia: injetar novocaína na região do pescoço, fazer<br />

uma pequena incisão, prender o nódulo com o fórceps, puxar, dissecar ao re<strong>dor</strong> dele e cortar o nódulo na base. Ele<br />

não previra, porém, um problema: as raízes do nódulo haviam se estendido para baixo e se enrolado ao re<strong>dor</strong> <strong>da</strong><br />

superfície <strong>da</strong> veia jugular. O corte seccionara inadverti<strong>da</strong>mente um segmento <strong>da</strong> parede dessa grande veia. A<br />

mulher correra realmente o risco de sangrar até a morte. Mas tínhamos agora bastante tempo para reparar o<br />

defeito e fechar o corte.<br />

Um encontro com uma transfusão de sangue me convencera de que eu devia estu<strong>da</strong>r medicina, e este encontro<br />

com o oposto, uma severa per<strong>da</strong> de sangue, serviu para convencer-me a me especializar em cirurgia. Eu sempre<br />

apreciara o processo mecânico <strong>da</strong> cirurgia, desde os dias <strong>da</strong> dissecação. Antes deste teste, no entanto, eu não sabia<br />

qual seria a minha reação instintiva a uma emergência médica. Agora acreditava poder enfrentar as pressões de<br />

uma sala cirúrgica.<br />

À BEIRA DA REVOLUÇÃO<br />

Escolhi a cirurgia por parecer a maneira mais concreta de oferecer aju<strong>da</strong>. A guerra com a Alemanha havia<br />

começado e os hospitais estavam se enchendo de vítimas de bombardeios que precisavam de reparos cirúrgicos.<br />

Além disso, naquela época, grande parte <strong>da</strong> medicina era cirurgia; por outro lado, a tarefa de um médico era<br />

quase sempre fazer diagnósticos.<br />

Os médicos se distinguiam principalmente por sua habili<strong>da</strong>de em predizer o curso <strong>da</strong> moléstia. Quanto tempo a<br />

febre vai durar? Haverá efeitos subsequentes prolongados? O paciente vai morrer? Os pacientes se recuperavam<br />

<strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>des, mas o crédito era principalmente devido aos seus próprios sistemas de imunização, reforçados<br />

por uma pequena aju<strong>da</strong> externa. O conceito de cura radical por meio de medicação específica estava além dos<br />

limites <strong>da</strong> medicina. Uma vez identifica<strong>da</strong> e classifica<strong>da</strong> a bactéria ou o vírus que provocava a enfermi<strong>da</strong>de,<br />

éramos tão indefesos quanto os médicos de um século antes. A palavra antibiótico ain<strong>da</strong> não entrara em uso.<br />

..... A epidemia de gripe de 1918-1919, a mesma que estabelecera a reputação de meu pai nas Kolli Malai,<br />

demonstrou claramente essa impotência. As mortes provoca<strong>da</strong>s pela epidemia alcançaram um total de vinte<br />

milhões de pessoas em todo o mundo, superando até mesmo a carnificina <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial. Os maiores<br />

especialistas em medicina <strong>da</strong> época não podiam fazer mais do que meu pai fizera: ficar ao lado dos pacientes<br />

que estavam morrendo, banhá-los e oferecer sopa ou outro alimento. A aura de medo e mistério que cerca a<br />

AIDS, nesse momento, um mal que podemos isolas, identifica e sobre o qual temos condições, de acumular conhecimento,<br />

mas não uma pista sobre a sua cura — se aplicava a uma vasta gama de moléstias meio século atrás.<br />

Qualquer infecção, por mais leve que fosse, representava um perigo mortal, pois não tínhamos simplesmente<br />

meios de detê-la. Os estreptococos originários de uma pica<strong>da</strong> de agulha podiam subir pelo braço de uma<br />

enfermeira — era possível observar o progresso de uma linha vermelha fina sob a sua pele — e matá-la. Uma<br />

feri<strong>da</strong> infecta<strong>da</strong> na base do nariz tinha consequências terríveis, pois a infecção podia viajar ao longo de uma veia<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 25

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