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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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e o inchaço são devidos a um surto de sangue no local, e o pus, composto de fluidos linfáticos e células mortas, é<br />

uma prova <strong>da</strong>s batalhas celulares trava<strong>da</strong>s a favor do corpo. O aumento de calor no ferimento resulta do esforço<br />

do corpo para enviar mais sangue à parte afeta<strong>da</strong>. Uma febre mais generaliza<strong>da</strong> faz circular o sangue mais<br />

rapi<strong>da</strong>mente e, convenientemente, cria um ambiente mais hostil para muitas bactérias e vírus.<br />

De fato, quase to<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de corporal que vemos com irritação ou desgosto — bolhas, calos, febre, espirros,<br />

tosse, vômito e, é claro, <strong>dor</strong> — é um emblema <strong>da</strong> autoproteção do corpo. Enquanto era presidente, George Bush<br />

ficou embaraçado com um episódio de vômito num jantar oficial no Japão. Ele talvez devesse ficar grato. Fico<br />

maravilhado com o mecanismo fisiológico envolvido no ato de vomitar, que recruta grande número de músculos<br />

para inverter violentamente seus processos normais: destinados a fazer descer o alimento pelo trato digestivo, eles<br />

agora se reagrupam para expelir invasores indesejáveis. Como o presidente Bush aprendeu, o reflexo trabalha a<br />

nosso favor sempre que sente o perigo, sem levar em conta as circunstâncias. Da mesma forma, um espirro,<br />

abrupto e inevitável, irá expulsar objetos e germes estranhos <strong>da</strong> mucosa nasal com uma força comparável à de um<br />

furacão. Até os mais desagradáveis aspectos do corpo são sinais de seus esforços em direção à saúde.<br />

A gratidão tornou-se minha reação reflexiva à <strong>dor</strong>, e posso testemunhar que essa mu<strong>da</strong>nça fun<strong>da</strong>mental de atitude<br />

modificou realmente o efeito <strong>da</strong> <strong>dor</strong> em mim. Não me aborreço mais quando volto a encontrar-me com a minha<br />

<strong>dor</strong> crônica nas costas pela manhã. Posso estremecer e gemer quando tento vestir-me, mas também sintonizo a<br />

mensagem <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Ela me lembra de que doera muito menos se eu não me curvar, mas puser os pés, um de ca<strong>da</strong><br />

vez, numa cadeira para colocar as meias ou atar os ca<strong>da</strong>rços dos sapatos. Dá também sugestões vela<strong>da</strong>s de que<br />

devo reformular meus compromissos e repousar um pouco mais, ou fazer exercícios para tornar mais flexíveis as<br />

juntas rígi<strong>da</strong>s. Sempre que possível tento seguir seus conselhos, pois sei que meu corpo não tem um advogado<br />

mais leal do que a <strong>dor</strong>.<br />

Há não muito tempo, depois de carregar uma maleta numa longa viagem marítima, tive uma crise dolorosa e<br />

longa por causa de um nervo pinçado em minhas costas. A princípio, absolutamente não me lembrei de sentir<br />

gratidão, meu sentimento foi de irritação e desânimo. Quando percebi que a <strong>dor</strong> não desapareceria rapi<strong>da</strong>mente,<br />

decidi então aplicar conscienciosamente o que acreditava sobre a gratidão. Comecei a enfocar várias partes do<br />

meu corpo, em uma espécie de la<strong>da</strong>inha de agradecimento.<br />

Flexionei os dedos e pensei na ativi<strong>da</strong>de sincroniza<strong>da</strong> de cinquenta músculos, uma porção de tendões fibrosos e<br />

milhares de células nervosas obedientes que tornavam possível tal movimento. Girei minhas juntas e refleti sobre<br />

a magnífica engenharia existente nos tornozelos, ombros e quadris. Um mancai de automóvel dura sete ou oito<br />

anos quando adequa<strong>da</strong>mente lubrificado; o meu passava de setenta anos, com lubrificação auto-renovável, sem<br />

folga para manutenção.<br />

Respirei profun<strong>da</strong>mente e imaginei as bolsas em meus pulmões encerrando pequenas bolhas de oxigénio e<br />

ocupa<strong>da</strong>s em alojá-las a bordo de uma célula sanguínea que as transportaria ao cérebro. Meus músculos cardíacos<br />

batem cem mil vezes por dia, impelindo esse combustível ao seu destino. Respirei várias vezes, renovando to<strong>da</strong>s<br />

as funções de meu corpo com ar fresco e puro. Depois de dez respirações senti-me levemente atordoado.<br />

Meu estômago, baço, fígado, pâncreas e rins estavam funcionando tão eficientemente que eu nem percebia sua<br />

existência. Sabia, entretanto, que numa emergência eles achariam um meio de alertar-me, mesmo se tivessem de<br />

recorrer ao truque de tomar células empresta<strong>da</strong>s de um tecido vizinho.<br />

Fechei os olhos e experimentei por um momento um mundo sem visão. Estendi a mão e toquei as folhas, a casca<br />

de uma árvore e a grama ao meu re<strong>dor</strong>, absorvendo sua textura com a ponta dos dedos. Pensei em minha família e,<br />

quando a imagem dela surgiu em minha mente, maravilhei-me com a capaci<strong>da</strong>de extraordinária do cérebro para<br />

chamá-la ao nível <strong>da</strong> consciência. A seguir abri os olhos e on<strong>da</strong>s de luz imediatamente penetraram neles.<br />

Mesmo em seu pior estado, com sete déca<strong>da</strong>s de i<strong>da</strong>de e dolorido, meu corpo oferecia razões convincentes para<br />

agradecimento e até louvor. Não me ocorreu reclamar a Deus pelo desconforto que experimentava; eu conhecia<br />

perfeitamente a alternativa terrível de uma vi<strong>da</strong> sem <strong>dor</strong>.<br />

No estágio final <strong>da</strong> la<strong>da</strong>inha, voltei minha atenção para a região <strong>da</strong> <strong>dor</strong> em si. Pensei nas vértebras, tão bem<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 138

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