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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Numa dessas viagens ele caiu de cabeça numa fen<strong>da</strong>, batendo no fundo de pedra. O impacto comprimiu suas<br />

vértebras espinhais, causando rompimento de discos na parte superior <strong>da</strong>s costas, e logo a artrite tomou conta dos<br />

ossos. Hansel passou a viver com <strong>dor</strong> intensa e constante. Consultou vários especialistas e todos lhe disseram a<br />

mesma coisa:<br />

— Você terá de viver com essa <strong>dor</strong>. A cirurgia não <strong>da</strong>rá resultado.<br />

Com o passar dos meses e anos, Hansel aprendeu vários meios de li<strong>da</strong>r com a <strong>dor</strong>. Por medo de problemas<br />

maiores, ele cortou muitas de suas ativi<strong>da</strong>des. Com o tempo, porém, ficou desanimado. A vi<strong>da</strong> sedentária o<br />

deprimia. Hansel finalmente conversou com o médico sobre os seus temores.<br />

— Tenho medo de ficar pior, mas isso está me enlouquecendo. Sinto-me paralisado pelo medo. Diga-me, o<br />

que devo evitar especificamente? O que poderia causar mais <strong>da</strong>nos?<br />

O médico pensou por um momento e respondeu:<br />

— O <strong>da</strong>no é irreversível. Suponho que recomen<strong>da</strong>ria não pintar beirais — isso esforçaria demais seu pescoço.<br />

Mas, em minha opinião, você pode fazer o que a <strong>dor</strong> lhe permitir.<br />

Segundo Hansel, essas palavras do médico lhe deram uma nova motivação. Pela primeira vez, compreendeu que<br />

estava no controle <strong>da</strong> sua <strong>dor</strong>, seu futuro, sua vi<strong>da</strong>. Decidiu viver <strong>da</strong> única maneira que sabia — com um<br />

sentimento de abandono. Voltou a subir montanhas e a guiar expedições.<br />

A <strong>dor</strong> de Tim Hansel não desapareceu. Mas sim o seu medo. Ele descobriu que com a redução do medo, sua <strong>dor</strong><br />

também eventualmente diminuiu. Estive com Tim e creio nele quando diz que a <strong>dor</strong> não tem mais efeito negativo<br />

na quali<strong>da</strong>de de sua vi<strong>da</strong>. Ele aprendeu a dominá-la, porque não mais a teme.<br />

— Minha <strong>dor</strong> é inevitável — diz ele. — Mas a minha infelici<strong>da</strong>de é opcional.<br />

IRA<br />

Os cirurgiões de mão temem uma condição acima de to<strong>da</strong>s as outras: a "distrofia reflexa do simpático" (DRS), uma<br />

manifestação particular do fenômeno <strong>da</strong> mão rígi<strong>da</strong>. Depois de um ferimento ou processo cirúrgico simples, <strong>dor</strong><br />

severa pode começar a espalhar-se por um membro. Os sintomas surgem às vezes depois que a cirurgia numa<br />

junta ou tendão parecia no início inteiramente bem-sucedi<strong>da</strong>. A mão do paciente sai do gesso parecendo ótima;<br />

mas, dia após dia, centímetro após centímetro, uma <strong>dor</strong> gradual, excessiva se insinua. Os músculos apresentam<br />

espasmos periódicos. A mão incha e a pele estica. Com o tempo, inexplicavelmente, a mão se fecha e fica tão<br />

rígi<strong>da</strong> quanto a de um manequim.<br />

Muitas coisas podem causar isso (reação a uma infecção, por exemplo), mas o fenômeno DRS também pode<br />

desenvolver-se por simples medo ou ira. A pessoa que não tem um acompanhamento médico adequado pode ficar<br />

surpresa com a <strong>dor</strong> em uma mão que acabou de sair de uma tala. Se fica amarga e ressenti<strong>da</strong>, resistindo a qualquer<br />

movimento que possa causar <strong>dor</strong>, essa mistura de emoção e falta de entendimento começará a afetar a mão.<br />

A ira provocou o caso mais dramático de mão rígi<strong>da</strong> que já vi. Na Índia, tratei uma mulher que perdera a ponta do<br />

nariz. Ao suspeitar <strong>da</strong> infideli<strong>da</strong>de <strong>da</strong> esposa, o marido vingou-se mordendo o nariz dela, estragando assim a sua<br />

beleza. Lakshmi veio tratar-se comigo <strong>da</strong> mão, e não do nariz. Ela tinha um rosto lindo, apesar <strong>da</strong> pele grossa ao<br />

re<strong>dor</strong> do nariz cirurgicamente reparado, mas ao contar-me a história <strong>da</strong> mão rígi<strong>da</strong>, sua face contorceu-se de raiva<br />

— curiosamente contra o cirurgião que reparara o nariz, e não contra o marido que o mordera.<br />

A história jorrou numa torrente de palavras, e uma vez que Lakshmi não tinha conhecimento médico, tive<br />

dificul<strong>da</strong>de para entender exatamente o que acontecera. Ela fora a um cirurgião plástico em Madras, que<br />

concordou em mol<strong>da</strong>r uma nova ponta para o seu nariz com tecido abdominal. Depois de um procedimento<br />

perfeitamente aceitável (que havíamos usado nos pacientes leprosos por algum tempo), ele transplantou a pele do<br />

abdome para o rosto em dois estágios. Primeiro cortou uma tira de pele do abdome, deixando-a presa à barriga<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 163

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