A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
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de formigamento? As duas técnicas funcionam parcialmente ao gerar novos sinais nervosos que predominam<br />
sobre a "porta" espinhal. Como explica a teoria de controle-<strong>da</strong>-porta espinhal, os nervos <strong>da</strong> medula espinhal<br />
atravessam o canal relativamente estreito logo abaixo <strong>da</strong> medula oblongata do cérebro, e quando o gargalo fica<br />
obstruído por sensações estranhas, as mensagens de <strong>dor</strong> tendem a diminuir. Sufocados pela competição, os sinais<br />
de <strong>dor</strong> são convertidos em mensagens e enviados ao cérebro.<br />
A eficiência dos ETNs varia de paciente para paciente, mas notei um benefício positivo. Quando um paciente de<br />
<strong>dor</strong> crônica aprende que pode controlar a <strong>dor</strong> até certo ponto, bastando girar o botão de uma máquina, a <strong>dor</strong> parece<br />
subitamente menos ameaça<strong>dor</strong>a, mais tolerável. Dessa forma o ETN, um tratamento <strong>da</strong> <strong>dor</strong> dirigido ao segundo<br />
estágio, causa igualmente impacto sobre a percepção <strong>da</strong> <strong>dor</strong> no terceiro estágio. Ele reduz o medo e a ansie<strong>da</strong>de,<br />
dois intensifica<strong>dor</strong>es habituais <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Com o tempo, o paciente pode deixar de usar inteiramente a máquina. Se<br />
não tiver ficado amigo dela, o paciente pelo menos aprendeu a viver com ela. Aprovo sinceramente esse exercício<br />
de treinamento para o domínio <strong>da</strong> <strong>dor</strong>, embora apresente uma tendência a passeios à meia-noite, escovas de cabelo<br />
e banhos quentes como meios de alcançar o mesmo fim.<br />
A área dos odontologistas também está experimentando o ETN. Uma vez que a maioria dos pacientes considera a<br />
agulha como a parte mais desagradável do cui<strong>da</strong>do dentário, os pesquisa<strong>dor</strong>es estão sempre buscando meios de<br />
prover anestesia sem agulhas. Em uma técnica, um dentista usando o ETN coloca um eletrodo fino na mão do<br />
paciente, outro por trás <strong>da</strong> orelha e um terceiro enrolado em algodão ao lado do dente que requer tratamento. Para<br />
grande parte dos indivíduos testados, uma corrente bran<strong>da</strong> de quinze mil ciclos por segundo pode fornecer alívio<br />
<strong>da</strong> <strong>dor</strong> equivalente à novocaína.<br />
Muitos remédios que exigem receita médica administram a <strong>dor</strong> no estágio <strong>da</strong> mensagem. As proprie<strong>da</strong>des<br />
analgésicas do ópio foram reconheci<strong>da</strong>s durante a maior parte <strong>da</strong> história registra<strong>da</strong>, e varie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> papoula são<br />
cultiva<strong>da</strong>s em todo o mundo. Só recentemente, porém, foi descoberto que a droga produz efeito direto tanto na<br />
medula espinhal como no cérebro. Moléculas do tipo do ópio (a família do ópio inclui drogas poderosas, como<br />
codeína, morfina e heroína) se ligam a pontos receptores de opiatos na medula espinhal, reduzindo a proporção<br />
em que as células deflagram e reduzindo o número de mensagens envia<strong>da</strong>s ao cérebro. Novas técnicas epidurais<br />
gotejam o narcótico diretamente no canal espinhal, afetando as raízes do nervo sensorial que se introduz na<br />
medula espinhal, uma anestesia precisa que tem condições de prover alívio para situações extremas de <strong>dor</strong>, como<br />
as do câncer pan-creático. 2<br />
A técnica mais radical de gerenciamento <strong>da</strong> <strong>dor</strong> é a cirurgia invasiva, e os procedimentos cirúrgicos dirigidos ao<br />
segundo estágio parecem os mais promissores, embora não perfeitamente seguros. A cirurgia para a <strong>dor</strong> no<br />
terceiro estágio, dentro do próprio cérebro, envolve muito risco e frequentemente deixa de resolver o problema: a<br />
<strong>dor</strong> reaparece depois de algum tempo. Cortar os nervos periféricos que produzem os sinais de <strong>dor</strong> no primeiro<br />
estágio pode aliviar algumas <strong>dor</strong>es crônicas, especialmente a nevralgia facial, mas não há garantia de que bloquear<br />
a <strong>dor</strong> no seu local de origem irá fazê-la desaparecer.<br />
O fenômeno complexo <strong>da</strong> <strong>dor</strong> não pode ser facilmente "consertado", nem mesmo pelo melhor cirurgião do<br />
mundo. Li um relatório de um piloto de carros de corri<strong>da</strong> que perdeu o antebraço esquerdo num acidente na pista.<br />
O homem sofreu <strong>dor</strong>es no membro fantasma e depois que implantes elétricos nos nervos locais não a aliviaram, o<br />
cirurgião abriu a medula espinhal dele. Para sua grande surpresa, descobriu que os nervos que iam do braço para a<br />
medula espinhal do homem já haviam sido cortados pelo acidente. Os sinais de <strong>dor</strong> não poderiam ser enviados<br />
pela periferia; a própria medula espinhal estava gerando uma mensagem que o cérebro interpretou como "Meu<br />
braço esquerdo está doendo". Nem mesmo a cirurgia na medula espinhal, porém, dá garantia permanente contra a<br />
<strong>dor</strong>. Como um ato de misericórdia, os cirurgiões podem retirar uma seção <strong>da</strong> medula espinhal de um paciente de<br />
câncer que tenha uma curta expectativa de vi<strong>da</strong>, mas se o paciente viver mais de dezoito meses, a <strong>dor</strong> algumas<br />
vezes volta. O cérebro ou outra parte <strong>da</strong> medula espinhal encontra misteriosamente um meio de ressuscitar as<br />
mensagens de <strong>dor</strong>.<br />
Não sou um neurocirurgião e só posso lembrar de algumas vezes em que concordei em tratar a <strong>dor</strong><br />
cirurgicamente. A mais notável envolveu uma indiana chama<strong>da</strong> Rajamma, que sofria de tique doloroso (fie<br />
douloureux) torturante, uma nevralgia severa <strong>da</strong> face. Imprevisível e espasmodicamente ela era sacudi<strong>da</strong> por uma<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 152