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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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orgulhoso de seus sapatos novos, que têm tiras de velcro em lugar de cordões, tornando-os mais convenientes para<br />

as suas mãos deforma<strong>da</strong>s.)<br />

Examino os pés e as mãos deles e os cumprimento pela sua vigilância, e depois nos sentamos para uma xícara de<br />

chá. Lembramos dos velhos tempos e nos atualizamos com respeito às nossas vi<strong>da</strong>s. Sa<strong>da</strong>n mantém registros para<br />

uma missão de leprosos que supervisiona 53 clínicas móveis. Namo tornou-se um fisioterapeuta de reputação<br />

nacional. Palani é chefe de treinamento na uni<strong>da</strong>de de fisioterapia do hospital Vellore. Ouço as histórias deles<br />

sobre trabalho e família e minha mente se reporta aos meninos cheios de cicatrizes, medrosos que se apresentaram<br />

como voluntários para a cirurgia experimental.<br />

Não acumulei fortuna em minha vi<strong>da</strong> de cirurgião, mas sinto-me muito rico por causa de pacientes como esses.<br />

Eles me dão muito mais alegria do que a riqueza poderia conferir-me. Em Namo, Sa<strong>da</strong>n e Palani tenho a prova<br />

indiscutível de que a <strong>dor</strong>, até mesmo a <strong>dor</strong> estigmatizante e cruel de uma doença como a lepra, não precisa<br />

destruir. — O que não me destrói me fortalece —, costumava dizer o dr. Martin Luther King, e vi esse provérbio<br />

ganhar vi<strong>da</strong> em muitos de meus ex-pacientes.<br />

Certa vez Sa<strong>da</strong>n chegou a dizer-me: — Estou contente por ter tido lepra, doutor Brand.<br />

Ao ver meu olhar incrédulo, passou então a explicar:<br />

— Sem a lepra eu teria gastado to<strong>da</strong> a minha energia tentando subir na socie<strong>da</strong>de. Por causa dela, aprendi a cui<strong>da</strong>r<br />

dos pequeninos.<br />

Uma declaração de Helen Keller me veio à mente quando ouvi essas palavras: "Estou grata pela minha deficiência<br />

física, porque através dela encontrei o meu mundo, a mim mesma e ao meu Deus". Embora eu certamente nunca<br />

desejasse a lepra ou as aflições de Helen Keller para ninguém, sinto-me confortado pelo fato de que, de alguma<br />

forma, nos misteriosos recursos do espírito humano, até a <strong>dor</strong> possa servir a um propósito mais elevado.<br />

Não posso esquecer-me de um último exemplo de <strong>dor</strong> e prazer trabalhando juntos. Ao contrário de meus pacientes<br />

de lepra, que não escolheram o campo de batalha no qual lutavam, algumas pessoas aceitam voluntariamente o<br />

sofrimerito como um ato de serviço. Elas descobrem também que podem servir a uma finali<strong>da</strong>de superior.<br />

Encontrei alguns "santos vivos" em meus dias, homens e mulheres que, com grande sacrifício pessoal, se<br />

dedicaram a cui<strong>da</strong>r de outros: Albert Schweitzer, Madre Teresa, discípulos de Gandhi. Ao observar esses<br />

indivíduos raros em ação, porém, qualquer ideia de sacrifício pessoal se desvanece. Acabo tendo inveja, e não<br />

pena deles. No processo de entregar a vi<strong>da</strong>, eles a encontram e alcançam um nível de contentamento e paz<br />

virtualmente desconhecido pelo resto do mundo.<br />

M. Scott Peck escreve: "Busque simplesmente a felici<strong>da</strong>de e provavelmente não irá encontrá-la. Busque criar e<br />

amar sem levar em conta a sua felici<strong>da</strong>de e provavelmente será feliz grande parte do tempo. Procurar a alegria em<br />

si mesma não a levará a você. Trabalhe para criar comuni<strong>da</strong>de e irá consegui-la — embora nem sempre<br />

exatamente de acordo com seus desejos. A alegria é ura efeito colateral incapturável, to<strong>da</strong>via absolutamente<br />

previsível, <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deira comuni<strong>da</strong>de.<br />

Sinto-me privilegiado por ter servido entre a comuni<strong>da</strong>de mundial de obreiros no campo <strong>da</strong> lepra. Assim como<br />

aprendi a maior parte do que sei sobre a <strong>dor</strong> graças aos pacientes de lepra, aprendi muito do que sei sobre a alegria<br />

com pessoas esplêndi<strong>da</strong>s que se dedicaram a cui<strong>da</strong>r desses pacientes. Já me referi a algumas delas — Bob<br />

Cochrane, Ruth Thomas, Ernest Fritschi —, e quando penso na alegria que surge espontaneamente do serviço,<br />

outras me vêm à mente. Eu as menciono aqui no filial como um tributo, não especialmente por causa de suas<br />

realizações, mas por serem aquelas que me ensinaram o mais alto nível de felici<strong>da</strong>de — a vi<strong>da</strong> com V maiúsculo.<br />

Penso na dra. Ruth Pfau, uma médica alemã e freira que trabalha agora num moderno hospital do Paquistão.<br />

Quando a visitei pela primeira vez na déca<strong>da</strong> de 1950, ela se instalara num imenso depósito de lixo junto ao mar.<br />

Moscas zumbiam por to<strong>da</strong> parte, enchendo o ar com o seu ruído, e muito antes de chegar onde ela se encontrava,<br />

um cheiro fétido queimou minhas narinas. A dra. Pfau trabalhava ali por ser o lugar onde os pacientes de lepra,<br />

mais de cem deles, se instalaram depois de terem sido expulsos de Karachi. Ao aproximar-me pude distinguir<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 184

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