A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
tentam morrer. Cerca de 60 a 70 por cento dos pacientes estão na faixa do meio.<br />
— Procuram satisfazer o médico — diz Siegel. — Agem <strong>da</strong> maneira que pensam que o médico quer que<br />
ajam, esperando que este faça todo o trabalho e que o remédio não seja muito ruim...Essas são as pessoas que, se<br />
tiverem possibili<strong>da</strong>de de escolha, prefeririam ser opera<strong>da</strong>s a esforçar-se ativamente para restabelecer-se.<br />
Os restantes 15 a 20 por cento são aqueles que Siegel chama de "pacientes excepcionais". Não estão<br />
representando, são autênticos. Recusam aceitar o papel de vítimas. Siegel reconhece que este último grupo<br />
apresenta um desafio por serem no geral pacientes difíceis. Num ambiente hospitalar não se submetem sem<br />
protestos. Exigem os seus direitos, procuram segun<strong>da</strong>s opiniões, questionam procedimentos. Esse grupo, no<br />
entanto, é o que mais provavelmente irá curar-se.<br />
Ao fazer um retrospecto de minha própria carreira, devo concor<strong>da</strong>r com as categorias de Siegel. No campo <strong>da</strong><br />
reabilitação, meu principal desafio tem sido fazer com que meus pacientes aceitem que só eles podem determinar<br />
o seu destino. Posso reparar a mão deles, mas cabe-lhes a responsabili<strong>da</strong>de de fazê-la funcionar. Não terei<br />
completado o meu trabalho a não ser que os inspire de alguma forma a buscar a saúde, de modo que desejem<br />
profun<strong>da</strong>mente ficar bons. Fui abençoado por conhecer muitos pacientes excepcionais no correr dos anos,<br />
pacientes de lepra que venceram incríveis obstáculos para buscar uma vi<strong>da</strong> rica e satisfatória.<br />
Um dos pacientes mais "excepcionais" que encontrei, porém, foi o próprio Norman Cousins. Ele nunca foi meu<br />
paciente, mas nos conhecemos durante quase trinta anos e nos correspondemos ocasionalmente no período em que<br />
lutou contra a espondilite ancilosante e mais tarde com o seu ataque cardíaco. Encontrei-me com Cousins pela<br />
primeira vez no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960, quando ele estava bem de saúde e era editor <strong>da</strong> revista Satur<strong>da</strong>y review.<br />
O financista John D. Rockefeller III e Henry Luce <strong>da</strong> Time-Life haviam mostrado interesse em nosso trabalho<br />
com a lepra em Vellore e marcaram uma reunião. Lembro-me principalmente <strong>da</strong> mente brilhante e ativa de<br />
Cousins, Sua ociosi<strong>da</strong>de era insaciável e ele parecia fascinado por ca<strong>da</strong> detalhe obscuro de nossa pesquisa.<br />
A história <strong>da</strong> batalha pessoal de Norman Cousins contra o sofrimento é bem conheci<strong>da</strong> e não há necessi<strong>da</strong>de de<br />
repetir aqui seus detalhes. Cousins adotou um programa de combate aos "intensifica<strong>dor</strong>es <strong>da</strong> <strong>dor</strong>" que inspirou<br />
pacientes ao re<strong>dor</strong> do mundo. Por exemplo, lutou contra o sentimento de desamparo colocando avisos na porta de<br />
seu quarto, limitando a equipe do hospital a uma coleta de sangue a ca<strong>da</strong> três dias, a qual tinham de dividir. (Eles<br />
estavam tirando até quatro amostras por dia, principalmente por ser mais conveniente para ca<strong>da</strong> departamento do<br />
hospital obter suas próprias amostras.) Lutou contra a ira tomando de empréstimo um projetor de cinema e<br />
assistindo a filmes de comediantes, como os Irmãos Marx e Charlie Chaplin. Fez a "agradável descoberta de que<br />
dez minutos de risa<strong>da</strong>s genuínas garantiam pelo menos duas horas de sono sem <strong>dor</strong>".<br />
A abor<strong>da</strong>gem de Cousins era basea<strong>da</strong> em sua crença de que, uma vez que as emoções negativas foram<br />
demonstra<strong>da</strong>s como sendo produtoras de mu<strong>da</strong>nças químicas no corpo, então as emoções positivas — esperança,<br />
fé, amor, alegria, desejo de viver, criativi<strong>da</strong>de, diversão — deveriam neutralizá-las e aju<strong>da</strong>r na extinção dos intensifica<strong>dor</strong>es<br />
<strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Em seus últimos anos, Cousins mudou-se para a escola de medicina <strong>da</strong> UCLA e fundou um<br />
grupo de pesquisas para estu<strong>da</strong>r o efeito <strong>da</strong>s atitudes positivas sobre a saúde. 5<br />
Cousins conduziu uma pesquisa de opinião com 649 oncologistas, perguntando a eles que fatores psicológicos e<br />
emocionais julgavam importantes em seus pacientes. Mais de 90 por cento responderam que <strong>da</strong>vam maior valor<br />
às atitudes de esperança e otimismo. Um dos dons mais preciosos que nós, no setor <strong>da</strong> saúde, podemos oferecer<br />
aos nossos pacientes é a esperança, inspirando assim neles uma profun<strong>da</strong> convicção de que a força interior pode<br />
fazer diferença na luta contra a <strong>dor</strong> e o sofrimento.<br />
No início <strong>da</strong>s pesquisas com medicamentos, os novos remédios que estavam sendo testados para a <strong>dor</strong> superavam<br />
em muito os tratamentos normais oferecidos como controle. Os resultados foram tão surpreendentes que os<br />
pesquisa<strong>dor</strong>es começaram a duvi<strong>da</strong>r de suas técnicas. Descobriram então um fator-chave: os médicos estavam<br />
involuntariamente transmitindo confiança e esperança aos pacientes que recebiam as drogas experimentais. Por<br />
meio de sorrisos, voz e atitude, eles convenciam os pacientes <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de de melhora. Por esta razão, o<br />
método de assegurar que nem o médico nem o paciente sabem quais as drogas que estão sendo administra<strong>da</strong>s<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 175