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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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— Sim, sim, mas não são boas para mendigar — respondeu ele.<br />

Explicou então que os indianos caridosos prontamente <strong>da</strong>vam<br />

esmolas aos mendigos com a "garra leprosa" característica. Ao soltar seus dedos <strong>da</strong> posição de garra, havíamos<br />

estragado sua principal fonte de ren<strong>da</strong>.<br />

— As pessoas não dão mais esmolas generosas. Ninguém quer me <strong>da</strong>r emprego nem quer alugar um quarto<br />

para mim.<br />

Embora tivéssemos matado as bactérias ativas e reparado as mãos dele, as cicatrizes em seu rosto mostravam que<br />

tivera lepra.<br />

Meu estômago deu um nó quando John contou-me sobre a rejeição que encontrara no mundo exterior. Quando<br />

tentava entrar num ônibus público, o motorista algumas vezes o atirava para fora. Ele, um homem educado, se<br />

achava agora sem emprego e sem casa, <strong>dor</strong>mindo numa praça. O dinheiro que ganhava com as esmolas mal <strong>da</strong>va<br />

para comprar comi<strong>da</strong>. O que eu fizera, consertara seu corpo o suficiente para arruinar sua capaci<strong>da</strong>de de obter<br />

sustento?<br />

Encontramos um emprego para John na administração do hospital, mas eu sabia que isso era apenas uma solução<br />

a curto prazo para um único paciente. E todos os outros pacientes que tiveram os tendões transferidos —<br />

havíamos igualmente arruinado suas vi<strong>da</strong>s? Verifiquei e descobri que muitos tinham histórias como a de John.<br />

Nossos esforços para reparar as mãos e os pés deles claramente não os equipara para a vi<strong>da</strong> fora dos muros do<br />

hospital.<br />

Tornou-se óbvio que precisávamos de uma casa de reabilitação, uma espécie de câmara de descompressão, a fim<br />

de preparar os pacientes para a vi<strong>da</strong> fora do hospital. Escolhemos um local nos terrenos sombreados do campus <strong>da</strong><br />

facul<strong>da</strong>de de medicina, a seis quilômetros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Se quiséssemos que nossos pacientes voltassem aos seus<br />

povoados, não seria sensato construir habitações mais elabora<strong>da</strong>s do que as que encontrariam em casa e, portanto,<br />

usando uma doação de quinhentos dólares de um missionário que ia se aposentar, construímos cinco cabanas<br />

simples de tijolos e barro, ca<strong>da</strong> uma com quatro quartos. Nós as pintamos de branco e cobrimos com tetos de<br />

palha e folhas de palmeira. Aquele cenário tranquilo, arborizado, aninhado entre os montes rochosos contrastava<br />

bastante com a agitação de Vellore.<br />

Trinta pacientes se mu<strong>da</strong>ram para o Centro Nova Vi<strong>da</strong> em 1951. Todos do sexo masculino, uma vez que a lepra<br />

afetava muito mais homens do que mulheres, e naquela época misturar os sexos teria sido culturalmente<br />

inaceitável. Plantamos uma grande horta, criamos galinhas e abrimos uma tecelagem. Eu instalei uma oficina de<br />

carpintaria para a fabricação de brinquedos de madeira e ensinei os que haviam perdido dedos, a operar uma serra<br />

com o pe<strong>da</strong>l. Em pouco tempo estávamos produzindo animais de brinquedo, trens, carros, molduras e quebracabeças<br />

para vender na comuni<strong>da</strong>de. (Embora esses brinquedos fossem melhores do que quaisquer outros<br />

disponíveis na área, não venderam bem até que tomamos a desnecessária precaução de estocar os brinquedos em<br />

vapor de formaldeído para "esterilizá-los".)<br />

No terreno do Centro Nova Vi<strong>da</strong> já existia um prédio velho que requisitei para nosso uso operacional. Três metros<br />

quadrados com paredes de tijolos secos ao sol e telhado coberto com telhas, não se assemelhava em quase na<strong>da</strong> à<br />

sala branca e ilumina<strong>da</strong> que usávamos no hospital de Vellore. Não havia água corrente, tínhamos de nos lavar<br />

antes de entrar no aposento. Acrescentamos telas contra mosquitos, mol<strong>da</strong>mos uma folha de alumínio até formar<br />

uma parábola a fim de refletir luz sem sombras de uma lâmpa<strong>da</strong> de cem watts e transformamos uma mesa de<br />

cozinha em mesa de cirurgia, dotando-a de apoios para os braços e descanso para a cabeça. Compramos uma<br />

panela de pressão e a instalamos sobre um fogão de querosene, a fim de usá-la como esteriliza<strong>dor</strong> (isso funcionou<br />

bem até que um dia a panela explodiu por excesso de pressão, abrindo um buraco do tamanho <strong>da</strong> tampa no<br />

telhado).<br />

O tempo que eu gastava naquela sala pequenina era ca<strong>da</strong> vez maior. Foi ali que Ernest Fritschi e eu decidimos<br />

quais os melhores procedimentos cirúrgicos para corrigir a mão em garra e as deformi<strong>da</strong>des do pé caído e ali<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 87

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