A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
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cérebro (terceiro estágio). A menina olha para o joelho, vê sangue e agora o cérebro consciente predomina. O<br />
medo enfatiza a <strong>dor</strong>. A mãe se torna importante e é para ela que a criança se volta. A mãe sábia primeiro abraça a<br />
filha, substituindo o medo pela segurança. A seguir examina o machucado, lava a feri<strong>da</strong>, cobre com um curativo<br />
colorido e man<strong>da</strong> a criança brincar novamente. A menina esquece a <strong>dor</strong>. Mais tarde, à noite, quando na<strong>da</strong> está<br />
distraindo a mente, a <strong>dor</strong> pode voltar, e seus pais serão chamados para cumprir seu dever.<br />
Durante todo esse tempo, os sinais de <strong>dor</strong> não mu<strong>da</strong>ram muito. Neurônios leais no joelho estiveram enviando<br />
relatórios de <strong>da</strong>no durante to<strong>da</strong> a tarde e noite. A percepção <strong>da</strong> menina à <strong>dor</strong> varia mais pela extensão em que a<br />
<strong>dor</strong> foi bloquea<strong>da</strong> no segundo estágio pela informação competitiva e, no terceiro estágio, pela desenvoltura dos<br />
pais em acalmar a ansie<strong>da</strong>de.<br />
Nos adultos, que têm uma reserva maior de experiência e emoções para servi-los, a mente desempenha um papel<br />
mais importante. Como médico passei a apreciar ca<strong>da</strong> vez mais a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mente em alterar a percepção <strong>da</strong><br />
<strong>dor</strong> em uma ou outra direção. Podemos nos tornar peritos em converter a <strong>dor</strong> na condição mais grave, que<br />
chamamos de sofrimento. Ou, pelo contrário, podemos aprender a aproveitar os vastos recursos <strong>da</strong> mente<br />
consciente para nos aju<strong>da</strong>r a li<strong>da</strong>r com a <strong>dor</strong>.<br />
SENTIMENTO DE ORFANDADE<br />
Na escola de medicina encontrei principalmente a <strong>dor</strong> no primeiro estágio. Os pacientes me procuravam com<br />
queixas específicas sobre sinais periféricos ("Meu dedo dói", "Meu estômago dói", "Meus ouvidos estão<br />
zumbindo"). Nenhum paciente jamais disse algo como isto:<br />
— Entre as transmissões que estão entrando em minha medula espinhal, os sinais de <strong>dor</strong> de meu dedo foram<br />
julgados de valor significativo para serem enviados para o cérebro.<br />
Ou:<br />
— Estou sentindo <strong>dor</strong> no estômago; pode, por favor, administrar uma droga como a morfina ao meu cérebro para<br />
que eu consiga ignorar os sinais de <strong>dor</strong> emanando de meu estômago.<br />
Embora eu tivesse de confiar no relatório do paciente do primeiro estágio para aju<strong>da</strong>r-me a diagnosticar a causa <strong>da</strong><br />
<strong>dor</strong>, logo compreendi a importância de responder desde o início ao terceiro estágio. Eu agora iria provavelmente<br />
classificar os estágios de <strong>dor</strong> na ordem inversa, <strong>da</strong>ndo proeminência ao terceiro estágio. O que tem lugar na mente<br />
<strong>da</strong> pessoa é o aspecto mais importante <strong>da</strong> <strong>dor</strong> — e o mais difícil de tratar ou mesmo compreender. Se pudermos<br />
aprender a li<strong>da</strong>r com a <strong>dor</strong> neste terceiro estágio, iremos provavelmente ter sucesso em manter a <strong>dor</strong> em seu lugar<br />
adequado, como um servo, e não um senhor.<br />
Conheci, certa vez, uma bailarina que sentia <strong>dor</strong>es fortes no pé ca<strong>da</strong> vez que fazia uma determina<strong>da</strong> manobra na<br />
ponta do dedão. O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, exigia essa manobra 32 vezes no curso do balé e por essa<br />
razão ela temia o Lago dos Cisnes. Sempre que a música tocava no rádio, ela desligava o aparelho.<br />
— Sinto a <strong>dor</strong> em meu pé quando ouço esses acordes! — disse<br />
O que tinha lugar em sua mente afetava o que percebia no pé.<br />
Tomei consciência do poder <strong>da</strong> mente quando tratei um sol<strong>da</strong>do chamado Jake, o herói de guerra com as pernas<br />
destruí<strong>da</strong>s que recuava com medo de uma agulha hipodérmica cheia de penicilina. Mais tarde, eu soube que a<br />
atitude de Jake na frente de batalha, por estranha que tivesse parecido na ocasião, era uma reação clássica aos<br />
ferimentos de combate. O dr. Henry K. Beecher, <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina de Harvard, cunhou o termo "Efeito<br />
de Anzio" para descrever o que observou em 215 vítimas <strong>da</strong> praia de Anzio na Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Apenas<br />
um de ca<strong>da</strong> quatro sol<strong>da</strong>dos com ferimentos graves (fraturas, amputações, peitos ou cérebros perfurados) pedia<br />
morfina, embora esta estivesse à disposição deles. Aqueles homens simplesmente não precisavam de aju<strong>da</strong> com a<br />
<strong>dor</strong>, e de fato muitos deles negavam sentir qualquer <strong>dor</strong>.<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 126