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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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sentem consistentemente menos <strong>dor</strong>, usam menos analgésicos e ficam menos tempo no hospital.<br />

Forçados pelo governo e pelas segura<strong>dor</strong>as particulares, os hospitais têm sido obrigados a buscar novos meios de<br />

capacitar os pacientes e assim acelerar o processo de recuperação. Os médicos resmungam sobre essas restrições,<br />

mas muitos admitem em particular que a pressão ajudou de fato os pacientes a se levantarem mais depressa. Até<br />

fins de 1960, por exemplo, geralmente os pacientes ficavam no hospital durante três semanas depois de um<br />

infarto, inclusive uma semana ou dez dias completamente imóveis no leito. Agora, a maioria dos especialistas em<br />

coronárias admitiria que essa prática é negativa para a saúde psicológica e física do paciente: ela promove um<br />

sentimento de desamparo e atrasa a cura.<br />

Houve necessi<strong>da</strong>de de pressões financeiras para que os profissionais dos países ricos reconhecessem o que outros<br />

países nunca esqueceram: nossa mais importante contribuição é preparar o paciente para recuperar o controle do<br />

seu próprio corpo. Nas palavras do oncologista Paul K. Hamilton: "Do lado material, o médico só pode <strong>da</strong>r<br />

medicamentos. A força para enfrentar a doença pertence ao paciente; a tarefa do médico e <strong>da</strong> equipe de cura <strong>da</strong><br />

saúde é ajudá-lo a descobrir e usar essa força". Nos povoados <strong>da</strong> Índia, vi muito pouco do desamparo que pode vir<br />

a desenvolver-se como bactérias no hospital moderno. Os indivíduos sem acesso a grande parte <strong>da</strong> aju<strong>da</strong><br />

profissional aprenderam a se curar sozinhos, apoiados na força <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

Algumas clínicas de <strong>dor</strong> crônica combatem o desamparo negociando "contratos" com os pacientes. Primeiro, a<br />

equipe encoraja o paciente a preparar um alvo a longo prazo: jogar tênis, an<strong>da</strong>r um quilômetro, arranjar um<br />

emprego de meio período. A seguir, trabalhando em conjunto, eles dividem o alvo em outros menores, semanais:<br />

segurar uma raquete de tênis, atravessar uma sala de bengala e depois sem bengala. A equipe médica registra o<br />

progresso semanal do paciente felicitando ca<strong>da</strong> novo passo, mu<strong>da</strong>ndo assim a ênfase, que passa do desamparo às<br />

realizações.<br />

Não precisamos de profissionais pagos para tal encorajamento. Amigos e parentes podem fazer exatamente o<br />

mesmo, fechando um "contrato" com a pessoa em recuperação e depois recompensando qualquer pequena vitória<br />

sobre o desamparo. Com demasia<strong>da</strong> frequência, porém, aju<strong>da</strong>ntes bem-intencionados fazem justamente o oposto.<br />

Quando fico doente percebo que todos conspiram para impedir-me de fazer qualquer coisa.<br />

— E para o seu próprio bem, é claro — dizem eles.<br />

Ouvi pessoas com doenças terminais usando a expressão "morte antecipa<strong>da</strong>" para descrever o que é em essência<br />

uma condição força<strong>da</strong> de desamparo. A síndrome se desenvolve quando parentes e amigos tentam tornar mais<br />

suportável os últimos meses do indivíduo.<br />

— Oh, não faça isso! Sei que costuma tirar o lixo; mas, realmente, não na sua condição. Deixe que eu faço —<br />

ou — Não se canse conferindo o talão de cheques. Ficaria desnecessariamente preocupado. Vou cui<strong>da</strong>r disso de<br />

agora em diante — ou ain<strong>da</strong> —Acho melhor ficar em casa. Sua resistência está muito baixa.<br />

As pessoas que sofrem, como todos nós, querem apegar-se à segurança de que têm um lugar, de que a vi<strong>da</strong> não<br />

continuaria sem um solavanco se elas simplesmente desaparecessem, de que o talão de cheques não seria<br />

conferido sem a sua atenção especializa<strong>da</strong>. Os aju<strong>da</strong><strong>dor</strong>es sábios aprendem a buscar o delicado equilíbrio entre<br />

oferecer aju<strong>da</strong> e oferecer aju<strong>da</strong> excessiva.<br />

Quando fiz minha residência médica durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, vi prova dos benefícios positivos que<br />

podem resultar quando os pacientes sentem-se úteis. A Grã-Bretanha estava sofrendo grandes baixas na frente<br />

européia, e os militares ordenaram uma convocação súbita de enfermeiros. A equipe do nosso hospital ficou<br />

dizima<strong>da</strong>, não tínhamos escolha senão pedir aos pacientes que aju<strong>da</strong>ssem. O patriotismo estava em alta, e a<br />

maioria dos pacientes se ofereceu voluntariamente.<br />

A supervisora de enfermagem, uma mulher dinâmica que teria sido um ótimo sargento instrutor, designou tarefas<br />

para ca<strong>da</strong> paciente que podia an<strong>da</strong>r e até a uns poucos em cadeiras de ro<strong>da</strong>s. Eles iam buscar comadres, mu<strong>da</strong>vam<br />

lençóis, distribuíam alimento e água e mediam temperaturas e pressão arterial. Os poucos enfermeiros<br />

remanescentes se concentravam em li<strong>da</strong>r com receitas médicas e injeções, assim como com a manutenção de<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 172

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