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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Nossas roupas são troca<strong>da</strong>s por um avental branco anônimo, colocam em<br />

nosso pulso um bracelete de identificação com um número. Ficamos sujeitos a<br />

regras e regulamentos institucionais. Não somos mais um agente livre; não<br />

temos mais direitos; não pertencemos mais ao resto do mundo. E estritamente<br />

o mesmo que se tornar um prisioneiro, e reminiscente, de modo humilhante,<br />

do nosso primeiro dia de aula. Não somos mais uma pessoa — somos agora<br />

um recluso numa cela.<br />

OLIVER SACKS, COM UMA PERNA SÓ<br />

17 Intensifica<strong>dor</strong>es <strong>da</strong> <strong>dor</strong><br />

Se o movimento pró-asilo é destinado a aju<strong>da</strong>r os pacientes a enfrentarem o desafio final <strong>da</strong> morte, o hospital<br />

moderno típico parece destinado a tornar seus pacientes indefesos diante de to<strong>da</strong> e qualquer <strong>dor</strong>. Confinados em<br />

um quarto particular, estéril, enre<strong>da</strong>dos em uma série de tubos e fios, objeto de olhares conhece<strong>dor</strong>es e conversas<br />

sussurra<strong>da</strong>s, os pacientes sentem-se como se estivessem sozinhos, presos em uma armadilha. Nesse ambiente<br />

estranho, a <strong>dor</strong> viceja. Algumas vezes me pergunto se os laboratórios farmacêuticos idealizaram o esquema dos<br />

hospitais modernos numa tentativa de promover o uso dos medicamentos para aliviar a <strong>dor</strong>.<br />

Recebi uma dose <strong>da</strong> medicina moderna em 1974 quando finalmente concordei com que um cirurgião removesse<br />

minha incômo<strong>da</strong> vesícula biliar. Depois de uma vi<strong>da</strong> inteira percorrendo os corre<strong>dor</strong>es dos hospitais, eu deveria<br />

ter sabido o que esperar. Logo aprendi, porém, uma nova perspectiva — a do paciente. Na cirurgia, descobri que é<br />

muito mais abençoado <strong>da</strong>r do que receber.<br />

Fiquei o dia inteiro num quarto branco, despido de quaisquer distrações exceto um aparelho de televisão e sua<br />

irritante programação diurna. (Por que alguém não decora o teto dos quartos do hospital, uma vez que é para eles<br />

que a maioria dos pacientes olha?) Uma série de técnicos passou pela minha cela. Eu não ouvira ordens assim tão<br />

bruscas desde meus dias na Colônia de Treinamento Missionário.<br />

—Levante a manga.<br />

— Abaixe as calças.<br />

— Fique quieto.<br />

— Vire de lado.<br />

— Dê-me o braço.<br />

—Respire fundo.<br />

— Tussa.<br />

O enfermeiro que man<strong>da</strong>ra que eu abaixasse as calças estava segurando uma son<strong>da</strong>. Chamei to<strong>da</strong> a minha<br />

coragem para protestar.<br />

— Por que preciso de son<strong>da</strong>? — Eu sabia do perigo de infecção e, além disso, quem quer um tubo de borracha em<br />

suas partes íntimas?<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 159

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