A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
de que seus pacientes fossem negligentes com a própria proteção pessoal.<br />
Felizmente, a enfermeira Lillelund também tinha um compromisso nórdico com o método científico. Ela permitiu<br />
que eu examinasse os pacientes com ferimentos significativos nas mãos. Logo todos estavam reunidos em<br />
formação com as mãos estendi<strong>da</strong>s. Subi e desci pelas fileiras, notando quaisquer problemas. Contei 127 pacientes<br />
que mostravam sinais de pele feri<strong>da</strong> ou inflama<strong>da</strong>. Sugeri as possíveis causas dos ferimentos enquanto os<br />
examinava: lascas de madeira, queimaduras produzi<strong>da</strong>s por uma xícara metálica de café ou por uma panela.<br />
A princípio, a enfermeira Lillelund, ao meu lado, tentou defender os pacientes.<br />
— Isso não é na<strong>da</strong> — disse a respeito de uma pequena feri<strong>da</strong> no polegar de um menino.<br />
Comentei que as pequenas feri<strong>da</strong>s tendem a aumentar e contei a ela sobre alguns pacientes que perderam o<br />
polegar por causa de infecções naquele mesmo local. Na mesma hora, ela se voltou para o garoto:<br />
— Por que não veio contar-me sobre isto, jovem? Durante o resto <strong>da</strong> visita, a enfermeira Lillelund aparentou<br />
completo desânimo. Ela não mais tentou defender os seus métodos. A visão de tantas feri<strong>da</strong>s nas mãos a<br />
convenceu <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> prevenção, e afirmou estar mortifica<strong>da</strong>, zanga<strong>da</strong> e envergonha<strong>da</strong>.<br />
— Pode acreditar, vou restaurar a ordem! — prometeu, e não duvidei dela um momento sequer.<br />
Depois de termos terminado a inspeção, ela reuniu todos os pacientes e me pediu que fizesse uma preleção a<br />
respeito de como evitar ferimentos. Falei por meia hora, permitindo que a enfermeira Lillelund recuperasse a<br />
compostura e pensasse num plano.<br />
Os pacientes de lepra mantiveram-se respeitosamente no pátio enquanto eu falava, evidentemente acostumados a<br />
uma preleção. A maioria deles tinha o rosto impassível, e fiquei imaginando quantos estavam compreendendo a<br />
minha mensagem. Não precisava ter-me preocupado. A enfermeira Lillelund fez o seu próprio discurso em<br />
segui<strong>da</strong>.<br />
— A reputação de nossa instituição está em risco — afirmou. — Deveríamos nos envergonhar! Vocês, meninos,<br />
estão se machucando e não nos avisam. A partir de hoje vou fazer uma inspeção pessoal completa a ca<strong>da</strong> três dias.<br />
Quem não tiver informado sobre um ferimento não receberá rações de alimento para levar para casa. To<strong>da</strong>s as<br />
refeições devem ser feitas na cantina.<br />
Houve um gemido geral. A enfermeira Lillelund havia utilizado a intimi<strong>da</strong>ção mais eficaz. Todos odiavam a<br />
comi<strong>da</strong> sem graça. <strong>da</strong> cantina e gostavam do privilégio de cozinhar em casa, ao estilo indiano, em fogões de<br />
carvão nos alojamentos.<br />
Parti de Va<strong>da</strong>thorasalur com sentimentos mistos, inseguro quanto a termos ou não atingido nosso alvo de<br />
comunicar um espírito de esperança e encorajamento aos pacientes do hospital <strong>da</strong> enfermeira Lillelund. Mas, seis<br />
semanas mais tarde, presenciei resultados inegáveis. Fizemos outra inspeção de mãos e dessa vez não encontrei<br />
127, mas seis ferimentos, todos protegidos adequa<strong>da</strong>mente com ataduras ou gesso. A enfermeira Lillelund estava<br />
radiante e com to<strong>da</strong> razão. Fiquei espantado ao ver os resultados <strong>da</strong> campanha dela. Com mais algumas<br />
enfermeiras Lillelund, poderíamos mu<strong>da</strong>r o curso <strong>da</strong> lepra.<br />
Notas<br />
1 O estresse repetitivo só prejudica o tecido vivo. Se eu batesse minha mão contra a mão de um cadáver, mesmo que de um morto recente, a mão já morta<br />
não sofreria mu<strong>da</strong>nças. Depois de meia hora batendo continuamente na mão de um cadáver, minha mão estaria vermelha e incha<strong>da</strong>; depois de várias horas<br />
minha mão apresentaria provavelmente uma úlcera aberta. Mas a mão do cadáver continuaria a mesma. Este fato complicou a ciência <strong>da</strong> fisiologia, porque<br />
os fisiologistas muitas vezes usam cadáveres para testar a força e durabili<strong>da</strong>de do tecido. Os tecidos dos cadáveres simplesmente não reagem ao estresse<br />
repetitivo leve, assim como não curam um ferimento. Nos tecidos vivos, o fenômeno <strong>da</strong> inflamação aumenta a resposta defensiva ao estresse repetitivo,<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 84