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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Só precisava de feltro, adesivo e violeta genciana (um antis-séptico). Arranjei esses materiais e alguns pacientes<br />

para ela. Observá-la no trabalho era como observar um escultor magistral. Primeiro raspava ou cortava o feltro em<br />

cama<strong>da</strong>s bem finas. Depois de tratar a feri<strong>da</strong> num pé, passava cola ao re<strong>dor</strong> do machucado e colocava então<br />

meticulosamente o feltro em várias espessuras, dependendo dos contornos do pé. Estava, com efeito, criando uma<br />

entressola que se movia com o pé, em vez de com o sapato.<br />

A irmã Lilla certamente sabia como curar feri<strong>da</strong>s e parecia feliz em fazer exatamente isso o dia inteiro. De alguma<br />

forma, nessa pequena mas essencial tarefa, ela aprendera a encontrar a ver<strong>da</strong>deira alegria mediante o serviço. (A<br />

não ser que tenha tratado o pé ferido de um paciente de lepra, você não pode imaginar quão notável é essa<br />

declaração.) Ela ficou conosco vários anos e depois, como o tio Robbie, sentiu o impulso de ir embora. Não tive<br />

notícias <strong>da</strong> irmã Lilla durante quase uma déca<strong>da</strong>, até que visitei um leprosário em Israel. Vi ali um paciente<br />

usando uma entressola forma<strong>da</strong> por finas cama<strong>da</strong>s de feltro. A irmã Lilla estivera realmente ali, contaram-me.<br />

Várias vezes, mais tarde, em diferentes partes do mundo, observei a mesma marca registra<strong>da</strong> de tratamento com<br />

feltro e soube que a irmã Lilla passara por lá. Penso também em Leonard Cheshire. Nos primeiros dias do nosso<br />

projeto com pacientes de lepra, eu estava trabalhando no depósito de barro que chamávamos grandiosamente de<br />

"Uni<strong>da</strong>de de Pesquisa de Mão" quando um inglês de aparência distinta abaixou-se para entrar.<br />

— Tenho um interesse especial nos incapacitados — disse ele —, e soube que você trabalha com pacientes de<br />

lepra. Importa-se se eu ficar observando?<br />

Dei-lhe as boas-vin<strong>da</strong>s e durante três dias aquele homem ficou sentado num canto, observando-nos. No final do<br />

terceiro dia, ele me disse:<br />

— Notei que você tem de recusar certas pessoas... as muito idosas ou muito enfermas para serem aju<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

pela sua cirurgia. Interesso-me por esses pacientes. Gostaria de ajudá-los.<br />

Leonard Cheshire contou-me então sua história. Durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial ele servira como capitão de<br />

grupo, uma Posição de destaque na Força Aérea Real inglesa. Esteve em ação tanto na Europa como na Ásia,<br />

ganhando a Cruz <strong>da</strong> Vitória e muitas outras recompensas. No fim <strong>da</strong> guerra, o presidente Harry Truman pediu a<br />

Winston Churchill que escolhesse dois observa<strong>dor</strong>es britânicos para acompanharem Enola Gay, a fim de demonstrar<br />

que a decisão de lançar a bomba atômica fora dos Aliados, e não unilateral. Naquele dia, 6 de agosto de 1945,<br />

Leonard Cheshire olhou <strong>da</strong> sua janela na cabina do piloto e viu vaporizar-se to<strong>da</strong> uma ci<strong>da</strong>de e seus habitantes. A<br />

experiência o transformou profun<strong>da</strong>mente. Depois <strong>da</strong> guerra começou uma nova carreira dedica<strong>da</strong> aos<br />

incapacitados, fun<strong>da</strong>ndo as Casas Cheshire para Doentes. Hoje, a organização Cheshire administra duzentas casas<br />

para os incapacitados em 47 países (Leonard Cheshire morreu no início de 1993).<br />

Entre elas há uma casa em Vellore, na Índia, onde vivem cerca de trinta pacientes de lepra. Em termos médicos,<br />

eles estão além <strong>da</strong> aju<strong>da</strong>. Mas, como Leonard Cheshire demonstrou eloquentemente para mim, não estão além <strong>da</strong><br />

compaixão e do amor. Menciono essas cinco pessoas por terem sido muito importantes na formação de minhas<br />

próprias crenças sobre como a <strong>dor</strong> e o prazer algumas vezes trabalham juntos. Na superfície, eles podem parecer<br />

singularmente inadequados: um depósito de lixo, um abrigo para os sem-teto, uma oficina de sapateiro, uma<br />

clínica de pés e um lar para os incapacitados são cenários na<strong>da</strong> promissores para aprender sobre o prazer. Não<br />

obstante, essas são pessoas que julgo felizes no sentido mais profundo <strong>da</strong> palavra. Elas alcançaram um shalom do<br />

espírito suficientemente poderoso para transformar a <strong>dor</strong> — a sua própria <strong>dor</strong> assim como a de outros. "Felizes os<br />

que carregam sua parte <strong>da</strong> <strong>dor</strong> do mundo: com o passar do tempo conhecerão mais felici<strong>da</strong>de do que aqueles que a<br />

evitam", disse Jesus (tradução de J. B. Phillips).<br />

HERANÇA DE UMA MÃE<br />

O que aprendi com a dra. Pfau, o abade Pierre e os outros reforçou uma <strong>da</strong>s primeiras lições de meus pais nas<br />

montanhas Kolli Malai <strong>da</strong> Índia. Minha mãe, especialmente, deixou-me um forte legado, o qual levei anos para<br />

apreciar plenamente.<br />

Referi-me várias vezes à vi<strong>da</strong> de minha mãe nas chama<strong>da</strong>s "Montanhas <strong>da</strong> Morte", onde nasci. Morei com meus<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 186

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