19.05.2013 Views

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

aos nervos.<br />

Carville era líder em todo o mundo no que dizia respeito à terapia experimental com medicamentos para lepra,<br />

mas a equipe pareceu desinteressa<strong>da</strong> por nossas descobertas sobre a insensibili<strong>da</strong>de à <strong>dor</strong>. Descrevi numa palestra<br />

como tivemos sucesso em derrubar o mito <strong>da</strong> "carne má" e enfatizei que os <strong>da</strong>nos aos pés, mãos e olhos podiam<br />

ser grandemente reduzidos caso os pacientes aprendessem algumas precauções básicas. Quando desci <strong>da</strong><br />

plataforma, o diretor deu esta resposta enigmática:<br />

— Muito obrigado, doutor Brand, por nos falar sobre o seu trabalho. Todos notamos que usa o termo lepra.<br />

Aqui em Carville nós a chamamos de mal de Hansen.<br />

Ele sentou-se e eu tive minha primeira lição sobre a importância do uso <strong>da</strong> linguagem politicamente correta na<br />

América. A seguir, o diretor me chamou de lado e disse em tom condescendente:<br />

— O seu pessoal na Índia parece estar fazendo um trabalho interessante. Concordo que acidentes e estresse<br />

possam causar <strong>da</strong>nos às mãos dos pacientes. Mas estou nesta área há muito tempo e posso assegurar-lhe que o<br />

mal de Hansen, por si mesmo, é responsável pelo encurtamento desses dedos. 1<br />

Recebi uma última censura em Carville ao perguntar sobre algumas biópsias de nervos. Em minha visita ao oeste<br />

dos Estados Unidos, parei em St. Louis para usar o microscópio eletrônico. Descobri que não era possível analisar<br />

nervos conservados em formol. Eu precisava de nervos frescos. Pensei encontrar uma solução em Carville: se<br />

cirurgias fossem marca<strong>da</strong>s, eu poderia simplesmente pedir ao cirurgião que coletasse alguns pequenos pe<strong>da</strong>ços de<br />

nervos que tivessem morrido e não pudessem mais ser usados. Nossos pacientes na Índia doavam alegremente<br />

seus nervos mortos para que os estudássemos. Mas aqueles eram os Estados Unidos, e não a Índia, e a equipe<br />

ficou choca<strong>da</strong> com meu pedido.<br />

— Nossos pacientes têm plena consciência dos seus direitos e não concor<strong>da</strong>riam em ser usados como cobaias! —<br />

disseram eles.<br />

Eu tinha muito que aprender sobre o conceito americano de direitos pessoais.<br />

OS GATOS DE DENNY-BROWN<br />

A viagem patrocina<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção Rockefeller possibilitou praticamente tudo o que eu desejava, mesmo sem o<br />

microscópio eletrônico. Um encontro fortuito em Boston ajudou a resolver o desconcertante mistério <strong>da</strong><br />

destruição dos nervos. Quase todos os especialistas em neurologia que consultei tiveram a mesma reação confusa<br />

ao analisar meus espécimes de nervos: "Nunca vi na<strong>da</strong> como essa patologia dos nervos." A única exceção foi o dr.<br />

Derek Denny-Brown, um brilhante neurologista neozelandês que trabalhava num hospital de cari<strong>da</strong>de em Boston.<br />

O consultório de Denny-Brown era sem dúvi<strong>da</strong> o mais abarrotado que visitei na América, uma confusão de<br />

caixas, pastas de arquivo, recipientes de slides e radiografias. Os médicos que eu visitara antes costumavam<br />

lançar um típico olhar sorrateiro ao relógio a ca<strong>da</strong> meia hora ou mais. Mas não Denny-Brown. Quando apresentei<br />

um problema, seus instintos se puseram imediatamente em alerta e ele esqueceu-se do tempo. Um ver<strong>da</strong>deiro<br />

cientista. Descrevi rapi<strong>da</strong>mente nossa pesquisa sobre insensibili<strong>da</strong>de. — Traçamos quase todos os efeitos<br />

colaterais destrutivos <strong>da</strong> lepra até a causa original de <strong>da</strong>no nos nervos. Não consigo, porém, estabelecer qualquer<br />

teoria ou convencer outros a não ser que possa explicar como a lepra prejudica os nervos. Até agora, nenhum dos<br />

especialistas que visitei reconheceu esse padrão <strong>da</strong> patologia nervosa.<br />

Denny-Brown aceitou o desafio: Deixe-me ver — disse.<br />

Passou então muito tempo em silêncio, curvado sobre um microscópio, examinando os espécimes <strong>da</strong> autópsia de<br />

Chingleput.<br />

— Sabe, Brand, esses espécimes me fazem lembrar meus gatos — declarou finalmente. Pôs-se em segui<strong>da</strong> a fazer<br />

uma busca cui<strong>da</strong>dosa em suas caixas de slides de microscópio nas prateleiras, enquanto contava-me suas<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 96

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!