A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
GRATIDÃO<br />
A noção de que aquilo que pensamos e sentimos na mente afeta a saúde de nosso corpo insinuou-se aos poucos na<br />
consciência dos médicos. Todo jovem médico aprende sobre o efeito placebo. Graças a autores populares como<br />
Bill Moyers, Norman Cousins e o dr. Bernie Siegel, a população em geral também tomou conhecimento do papel<br />
que as emoções podem representar na cura. Um observa<strong>dor</strong> um tanto excêntrico comentou:<br />
— Algumas vezes é mais importante saber que tipo de sujeito tem um germe do que qual tipo de germe tem<br />
um sujeito.<br />
O dr Hans Selye foi o ver<strong>da</strong>deiro descobri<strong>dor</strong> do impacto <strong>da</strong>s emoções na saúde e parcialmente por causa <strong>da</strong> sua<br />
influência comecei com a gratidão como minha primeira sugestão para iniciar os preparativos para a <strong>dor</strong>. Em seu<br />
laboratório de Montreal, Selye passou anos conduzindo experiências com ratos para descobrir o que prejudica o<br />
corpo. Ele escreveu trinta livros sobre o assunto, e bem mais de cem mil artigos foram publicados sobre o<br />
"sintoma do estresse" descrito primeiro por ele em 1936. Selye observou que o estresse mental faz com que o<br />
corpo produza suprimentos extras de adrenalina (epinefrina), que acelera os batimentos do coração e a respiração.<br />
Os músculos ficam também tensos, e a tensão pode levar a <strong>dor</strong>es de cabeça e nas costas. Ao pesquisar a causa<br />
original do estresse, Selye descobriu que fatores tais como a ansie<strong>da</strong>de e a depressão podem detonar ataques de<br />
<strong>dor</strong> ou intensificar a <strong>dor</strong> já presente. (Segundo a Academia Americana de Médicos de Família, dois terços <strong>da</strong>s<br />
consultas feitas a eles são instiga<strong>da</strong>s por sintomas ligados ao estresse.)<br />
Em vista de Selye ter resumido sua pesquisa quase no fim de sua vi<strong>da</strong>, ele citou a vingança e a amargura como as<br />
reações emocionais mais prováveis na produção de altos níveis de estresse nos seres humanos. De modo contrário,<br />
concluiu ele, a gratidão é a resposta que mais contribui para a saúde. Concordo com Selye, em parte porque uma<br />
grata apreciação pelos muitos benefícios <strong>da</strong> <strong>dor</strong> transformou minha própria perspectiva.<br />
As pessoas que consideram a <strong>dor</strong> um inimigo, como notei, instintivamente reagem com espírito de vingança ou<br />
amargura — Por que eu? Não mereço isto! Não é justo! —, resultando no círculo vicioso de piorar ain<strong>da</strong> mais a<br />
sua <strong>dor</strong>.<br />
— Pense na <strong>dor</strong> como um discurso que seu corpo está fazendo sobre um assunto de importância vital para você —<br />
digo a meus pacientes. — Desde o primeiro sinal, pare, ouça a <strong>dor</strong> e tente ser grato. O corpo está usando a<br />
linguagem <strong>da</strong> <strong>dor</strong> porque esse é o meio mais eficaz de chamar sua atenção.<br />
Chamo esta abor<strong>da</strong>gem de "fazer amizade" com a <strong>dor</strong>: aceitar o que é geralmente visto como um inimigo e<br />
desarmá-lo, acolhendo-o.<br />
Uma mu<strong>da</strong>nça radical de perspectiva teve lugar entre o grupo de cientistas e funcionários <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saúde em<br />
Carville, ao verem a prova diária dos benefícios <strong>da</strong> <strong>dor</strong>, tanto nas enfermarias de pacientes como no laboratório.<br />
Eles aprenderam indiscutivelmente a apreciar a <strong>dádiva</strong> <strong>da</strong> <strong>dor</strong> com gratidão. Hoje, se qualquer um de nosso grupo<br />
viesse a sofrer uma <strong>dor</strong> incurável, poderíamos ficar com medo e deprimidos. Poderíamos pedir alívio. Mas duvido<br />
que qualquer coisa pudesse abalar nossa firme crença de que o sistema <strong>da</strong> <strong>dor</strong> é bom e sábio.<br />
Acho irônico que, como médico (exceto ao tratar de pacientes privados de <strong>dor</strong>), eu deva confiar tanto nas queixas<br />
de meus pacientes sobre a <strong>dor</strong>, pois a própria <strong>dor</strong> de que reclamam é meu maior guia para determinar o<br />
diagnóstico e o curso do tratamento. Uma <strong>da</strong>s razões para alguns tipos de câncer serem mais fatais do que outros é<br />
que afetam partes do corpo menos sensíveis à <strong>dor</strong>. O câncer num órgão como o pulmão ou a parte mais profun<strong>da</strong><br />
do seio pode não ser notado pelo paciente, e os médicos não têm uma pista até que ele se espalhe para uma área<br />
sensível como a pleura, a membrana do pulmão. A essa altura o câncer pode ter entrado na corrente sanguínea e<br />
produzido metástases impossíveis de serem cura<strong>da</strong>s com tratamento local.<br />
Gosto de lembrar a mim mesmo e a outros de que mesmo em processos corporais geralmente considerados como<br />
inimigos, podemos encontrar um motivo para ser gratos. A maioria dos desconfortos deriva <strong>da</strong>s defesas leais do<br />
corpo, e não <strong>da</strong> doença. Quando uma feri<strong>da</strong> infecciona<strong>da</strong> fica vermelha e produz pus por exemplo, a vermelhidão<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 137