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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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interrompido.<br />

Quando eu cursava a facul<strong>da</strong>de de medicina, médicos italianos estavam realizando um teste estranho — cuja<br />

repetição é improvável — que sugere que o ato <strong>da</strong> cirurgia em si pode ter um efeito placebo. Em 1939, os<br />

cirurgiões italianos aprenderam que a angina pectoris, <strong>dor</strong> cardíaca, podia ser grandemente reduzi<strong>da</strong> amarrando,<br />

ou ligando, as artérias mamárias internas, talvez disponibilizando mais sangue para o coração. Depois desse<br />

procedimento, os pacientes sentiam-se melhor, tomavam menos pílulas de nitroglicerina e podiam exercitar-se<br />

pela primeira vez sem <strong>dor</strong>. As notícias se espalharam e em pouco tempo cirurgiões em todo o mundo estavam<br />

praticando a mesma técnica e confirmando as descobertas iniciais.<br />

Enquanto isso, os inova<strong>dor</strong>es italianos começaram a se perguntar se o índice de sucesso demonstrava apenas um<br />

efeito placebo. 3 Eles recrutaram um grupo de pacientes para participar de um estudo que, se proposto hoje,<br />

suscitaria graves questões éticas. Metade dos pacientes sofreu cirurgias para expor e ligar as artérias mamárias<br />

internas, enquanto a outra metade teve as artérias mamárias simplesmente expostas, e não liga<strong>da</strong>s. Em outras<br />

palavras, metade dos pacientes se submeteu à anestesia geral para que seu peito fosse aberto e depois prontamente<br />

costurado. De forma surpreendente, os dois grupos mostraram melhoras comparáveis depois <strong>da</strong> cirurgia: a <strong>dor</strong><br />

diminuiu, eles passaram a tomar menos pílulas e podiam exercitar-se mais. Os italianos concluíram que o próprio<br />

ato <strong>da</strong> cirurgia produzira um efeito placebo em seus pacientes.<br />

Funcionários <strong>da</strong> saúde aprenderam a aceitar o efeito placebo, e algumas vezes fazemos uso dele para nosso<br />

proveito. To<strong>da</strong>via, confesso que sempre que vejo o efeito placebo de perto, fico maravilhado com os recursos <strong>da</strong><br />

mente humana, que pode alcançar a cura a partir de uma transação de confiança e engano.<br />

Na Índia, nossa médica encarrega<strong>da</strong> <strong>da</strong> reabilitação, Mary Verghese, sempre envidou esforços para manter-se a<br />

par <strong>da</strong>s últimas tecnologias. Discutimos certa vez sobre a prudência de investir numa máquina de ultra-sonografia.<br />

Eu nunca tinha usado o ultra-som, que estava sendo elogiado na literatura médica e nas propagan<strong>da</strong>s como um<br />

tratamento de ponta para reduzir o tecido cicatrizado e aliviar a rigidez nas juntas. Mary queria comprar a<br />

máquina imediatamente; eu permanecia cético.<br />

Mary eventualmente ganhou o debate, e em pouco tempo a primeira máquina de ultra-sonografia em to<strong>da</strong> a Índia<br />

estava zumbindo em seu departamento. A agitação no hospital foi grande. Era parte para me apaziguar, Mary<br />

concordou em supervisionar um teste em cem pacientes que tinham rigidez nas juntas dos dedos. Todos deveriam<br />

receber exatamente o mesmo tratamento de fisioterapia e massagem, mas só a metade seria exposta à máquina de<br />

ultra-sonografia. Sua escala inicial de movimentos foi registra<strong>da</strong> de maneira que no final pudéssemos comparar<br />

resultados objetivos. Durante todo o teste, os fisioterapeutas de Mary insistiram em que estavam <strong>da</strong>ndo a mesma<br />

atenção e encorajamento tanto para o grupo de ultra-som quanto para o de controle.<br />

Quando chegou finalmente o dia <strong>da</strong> avaliação, tive de engolir a minha desconfiança. As fichas mostravam<br />

claramente que o tratamento com ultra-som funcionara em todos os setores anunciados. A melhora dos pacientes<br />

era inegável.<br />

Algumas semanas mais tarde, um representante <strong>da</strong> empresa que nos vendera a máquina apareceu para ver se tudo<br />

estava a contento. Ele ouviu nossos relatórios com satisfação e sugeriu compartilhar nossas descobertas com<br />

outros hospitais. Ligou a máquina, ela zumbiu e ele colocou um copo d'água debaixo <strong>da</strong> cabeça do aplica<strong>dor</strong> de<br />

ultra-som. A superfície <strong>da</strong> água permaneceu lisa e um olhar perplexo apareceu em seu rosto. Abriu a parte de trás<br />

<strong>da</strong> máquina, enfiou a cabeça lá dentro e exclamou:<br />

— Olhe, esta máquina nunca funcionou! Quando a expedimos, não ligamos a cabeça do ultra-som porque<br />

pode <strong>da</strong>nificar-se. Continua desliga<strong>da</strong>.<br />

Mary Verghese, rápi<strong>da</strong> em perceber a implicação, ficou abati<strong>da</strong>.<br />

— Mas o que significa esse zumbido? — ela perguntou finalmente.<br />

— Oh, isso é apenas um ventila<strong>dor</strong> — explicou o técnico. — Podem acreditar, vocês não estiveram recebendo<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 131

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