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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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velho, na Africa do Sul. Enquanto explicava minhas teorias, apontei para os grandes ferimentos na palma <strong>da</strong> mão<br />

de um de seus pacientes de lepra.<br />

— Não há dúvi<strong>da</strong> de que essas feri<strong>da</strong>s foram provoca<strong>da</strong>s por queimaduras — afirmei. — Ele provavelmente<br />

pegou uma panela de metal quente e não recebeu mensagens de <strong>dor</strong> para avisá-lo de que. deveria largá-la.<br />

O médico irritou-se.<br />

— Jovem, você está trabalhando com essa doença há menos de uma déca<strong>da</strong>. Tenho tratado dela to<strong>da</strong> a minha vi<strong>da</strong><br />

e sei que a lepra produz feri<strong>da</strong>s na palma <strong>da</strong> mão.<br />

Ele escarneceu <strong>da</strong> minha refutação. Para aquele homem, o diagnóstico era claro: a lepra formava um padrão<br />

previsível de destruição do tecido que tratamento algum poderia reverter.<br />

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou a lepra como uma <strong>da</strong>s cinco doenças de combate prioritário<br />

e começou a colocar milhões de dólares na área de pesquisa e tratamento, mas até a OMS mostrou pouco<br />

interesse na reabilitação. Uma vez que as drogas tivessem matado os bacilos ativos num paciente, a OMS o<br />

pronunciava curado. Os <strong>da</strong>nos subsequentes aos olhos, mãos e pés eram lamentáveis, mas não lhes diziam<br />

respeito.<br />

Em Karigiri argumentávamos que os pacientes de lepra tinham padrões de cura diferentes dos <strong>da</strong> OMS, e o ponto<br />

de vista desses pacientes em geral determina se o tratamento é ou não eficaz.<br />

— Estamos tratando uma pessoa, e não uma doença — eu disse —, portanto, nossos programas devem incluir<br />

treinamento e reabilitação. Se alguém que está sendo medicado continua encontrando úlceras no pé, na mão e no<br />

olho, pode simplesmente deixar de ingerir as pílulas.<br />

Meus pacientes consideravam a lepra em termos do <strong>da</strong>no evidente aos seus corpos, e não <strong>da</strong> contagem <strong>da</strong>s<br />

bactérias vivas. A pessoa livre <strong>da</strong> lepra ativa que é deixa<strong>da</strong> com as mãos e os pés aleijados, dificilmente pensa em<br />

si mesma como cura<strong>da</strong>, por mais que a OMS ou qualquer médico afirme isso.<br />

Finalmente, em 1957 um produtor italiano de filmes ajudou a promover o avanço que eu esperava. Cario<br />

Marconi, que na época morava em Bombaim, concordou em produzir um documentário sobre nosso trabalho,<br />

patrocinado pela Missão <strong>da</strong> Lepra em Londres. O resultado, Lifted Hands (Mãos Levanta<strong>da</strong>s), descreve a história<br />

de um jovem aldeão abatido que nos procurou com as mãos defeituosas, em forma de garra, e depois de extensa<br />

cirurgia teve as mãos restaura<strong>da</strong>s e ganhou uma nova perspectiva de vi<strong>da</strong>. Marconi, um perfeccionista, passou<br />

várias semanas conosco, transformando nossa rotina em um ver<strong>da</strong>deiro caos, mas agra<strong>da</strong>ndo os aldeãos que<br />

contratara como extras e assistentes.<br />

Lifted Hands provou quase imediatamente o seu valor. Terminado na hora certa, o filme causou profun<strong>da</strong><br />

impressão em uma conferência realiza<strong>da</strong> em Tóquio, assisti<strong>da</strong> por especialistas em lepra de 43 países. Eles<br />

finalmente pareceram compreender a importância de evitar e corrigir deformi<strong>da</strong>des. Só um dissidente, um<br />

cientista rígido que insistiu em <strong>da</strong>dos rigorosos, impediu o comitê de adotar uma nova política.<br />

— Não temos prova <strong>da</strong> exatidão <strong>da</strong>s afirmações do doutor Brand sobre o papel <strong>da</strong> insensibili<strong>da</strong>de como principal<br />

causa <strong>da</strong>s deformações em pacientes de lepra — declarou ele. — Não devemos aceitar quaisquer resoluções sem<br />

uma completa investigação. De maneira irônica, esse dissidente provou ser decisivo em nossa campanha. Uma<br />

equipe investigativa. de cirurgiões de mãos, cientistas médicos importantes e leprologístas apareceram em Vellore<br />

para o inquérito. Felizmente, nós havíamos mantido registros meticulosos de ca<strong>da</strong> um de nossos pacientes<br />

cirúrgicos. Seguíamos um procedimento sistemático de ditar dezenove parágrafos descritivos para ca<strong>da</strong> operação<br />

(o primeiro parágrafo trazia informações sobre o local externo antes do procedimento; o segundo sobre a<br />

preparação <strong>da</strong> pele; o terceiro sobre a anestesia; o quarto sobre a incisão, e assim por diante). Além disso,<br />

havíamos feito um registro fotográfico completo de ca<strong>da</strong> mão para demonstrar a escala progressiva de movimento<br />

e flexibili<strong>da</strong>de: seis fotos eram tira<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> cirurgia, seis fotos após a cirurgia, seis fotos depois <strong>da</strong> fisioterapia<br />

pós-operatória, e outras fotos de acompanhamento eram tira<strong>da</strong>s após os intervalos de um e cinco anos. Abrimos<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 99

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