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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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intercurso, o que levou a problemas no casamento, e com o tempo começou a sentir <strong>dor</strong> constante. Tentou todos<br />

os comprimidos disponíveis para alívio <strong>da</strong> <strong>dor</strong> e até submeteu-se à cirurgia para cortar nervos, mas na<strong>da</strong> adiantou.<br />

Infeliz e desespera<strong>da</strong>, ela foi com o marido ao hospital de Vellore para uma consulta.<br />

— Não tenho amigos. Meu casamento está desmoronando. Por favor, pode aju<strong>da</strong>r-me? — disse-me ela.<br />

Um neurocirurgião em nossa equipe havia aperfeiçoado uma técnica de lobotomia suficientemente avança<strong>da</strong> no<br />

cérebro que minimizava o impacto desumano, mas algumas vezes aju<strong>da</strong>va nos problemas psiquiátricos e na <strong>dor</strong><br />

crônica. Ele fazia orifícios dos dois lados <strong>da</strong> cabeça, passava um arame através deles e depois, como se fatiando<br />

um queijo, usava o arame para cortar as vias nervosas e separar parte dos lobos frontais do resto do cérebro. O<br />

médico explicou os riscos à mulher, que imediatamente concordou com a cirurgia. Estava disposta a tudo.<br />

A lobotomia foi um grande sucesso em todos os aspectos. A mulher emergiu <strong>da</strong> cirurgia completamente livre do<br />

sofrimento que a atribulara durante uma déca<strong>da</strong>. O marido não notou diferenças em sua capaci<strong>da</strong>de mental, mas<br />

só pequenas mu<strong>da</strong>nças de personali<strong>da</strong>de. A <strong>dor</strong> deixou de ser um fator na vi<strong>da</strong> deles. Mais de um ano depois<br />

visitei esse casal em Bombaim. O marido falou entusiasticamente sobre a lobotomia e a própria mulher parecia<br />

calma e satisfeita. Quando perguntei sobre a <strong>dor</strong>, ela respondeu:<br />

— Oh, ain<strong>da</strong> continua, mas não me preocupo mais com isso. Sorriu docemente e riu baixinho:<br />

— De fato, ain<strong>da</strong> é uma agonia. Mas não me importo.<br />

Na ocasião achei estranho ouvir palavras sobre agonia de uma pessoa com um comportamento tão calmo:<br />

nenhuma careta ou gemido, apenas um sorriso amável. Ao ler sobre outras lobotomias, porém, descobri que ela<br />

mostrava uma atitude realmente típica. Os pacientes informam sentir "uma pequena <strong>dor</strong> sem a grande <strong>dor</strong>". O<br />

cérebro que passou pela lobotomia não mostra uma reação aversiva forte, por não mais reconhecer a <strong>dor</strong> como<br />

uma priori<strong>da</strong>de dominante na vi<strong>da</strong>.<br />

Os pacientes lobotomizados raramente pedem medicamentos. Um neurocirurgião alemão que realizara muitas<br />

lobotomias pré-frontais contou-me certa vez:<br />

— O procedimento tira <strong>da</strong> <strong>dor</strong> todo o sofrimento.<br />

O primeiro e o segundo estágio <strong>da</strong> <strong>dor</strong>, os estágios do sinal e <strong>da</strong> mensagem, prosseguem sem interrupção. Mas<br />

uma mu<strong>da</strong>nça radical no terceiro estágio, a reação <strong>da</strong> mente, transforma a natureza <strong>da</strong> experiência.<br />

Placebo<br />

Os placebos (latim para "quero agra<strong>da</strong>r") ganharam o respeito relutante do establishment (autori<strong>da</strong>des<br />

estabeleci<strong>da</strong>s) simplesmente por funcionarem tão bem. Na<strong>da</strong> mais que pílulas de açúcar ou soluções salinas, eles<br />

não obstante mostram ser muito eficazes no alívio <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Cerca de 35 por cento dos pacientes de câncer<br />

informam ter sentido alívio substancial depois de um tratamento com placebo, praticamente metade do número<br />

dos que encontram alívio na morfina.<br />

Quase por definição, os placebos realizam sua mágica no nível <strong>da</strong> resposta ao controle <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Engolir uma<br />

cápsula de açúcar não tem absolutamente qualquer efeito nos neurônios na periferia ou na medula espinhal. Os<br />

placebos introduzidos no leite ou alimento sem conhecimento do paciente também não farão efeito. O que importa<br />

é o poder <strong>da</strong> sugestão e a fé consciente do indivíduo nas proprie<strong>da</strong>des de cura do placebo.<br />

Testes recente indicam que os placebos podem acionar a liberação <strong>da</strong>s en<strong>dor</strong>finas que matam a <strong>dor</strong>, um exemplo<br />

<strong>da</strong> "crença" do cérebro superior no tratamento traduzindo-se em mu<strong>da</strong>nças fisiológicas reais. Os placebos<br />

trabalham melhor quando o paciente confia plenamente na sua eficácia. Em um experimento, 30 por cento dos<br />

pacientes de câncer afirmaram ter recebido alívio depois de uma pílula de placebo, 40 por cento depois de uma<br />

injeção intramuscular de placebo e 50 por cento depois de receber placebo gota a gota na veia. Alguns pacientes<br />

chegam até a ficar viciados em placebos, apresentando sintomas de abstenção quando o tratamento é<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 130

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