A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
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nervosas convergindo em um único lugar criam uma espécie de gargalo, como um posto de pedágio numa via<br />
expressa, afetando profun<strong>da</strong>mente a percepção <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Algumas mensagens precisam esperar para atravessar,<br />
enquanto outras talvez não atravessem de forma alguma.<br />
A teoria do controle espinhal <strong>da</strong> porta foi aceita pelos médicos porque parecia justificar vários enigmas do antigo<br />
modelo cartesiano <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Ela certamente oferece uma explicação para a minha técnica <strong>da</strong> escova: as muitas<br />
sensações novas de toque e pressão neutralizam os sinais <strong>da</strong> <strong>dor</strong> crónica. A teoria do controle espinhal <strong>da</strong> porta<br />
também aju<strong>da</strong> a explicar como o sobrevivente de um desastre de avião pode an<strong>da</strong>r sobre metal quente sem sentir<br />
<strong>dor</strong>: impulsos urgentes descendo do cérebro elevado bloqueiam todos os sinais de <strong>dor</strong> <strong>da</strong>s fibras ascendentes.<br />
Melzack e Wall usaram a teoria do controle espinhal <strong>da</strong> porta para esclarecer fenômenos tais como a acupuntura e<br />
os feitos dos faquires indianos (no primeiro caso, os estímulos <strong>da</strong>s agulhas anulam outros sinais; no segundo, os<br />
mestres do autocontrole utilizam seus poderes cerebrais para dominar os sinais de <strong>dor</strong> que vêm de baixo).<br />
Apesar de muitos avanços na compreensão <strong>da</strong> rede de <strong>dor</strong>, até hoje os cientistas mal conseguem penetrar a<br />
complexi<strong>da</strong>de do sistema que primeiro me surpreendeu em meus dias de estu<strong>da</strong>nte. A simples sentença "meu<br />
dedo dói" abrange uma tempestade de ativi<strong>da</strong>des neuroniais em três níveis separados. Em nível celular, os<br />
relatórios de arranhões e irritações de pele no meu dedo exigem atenção, a maioria deles não chegando à<br />
intensi<strong>da</strong>de de transmitir um sinal de <strong>dor</strong>. Se forem transmitidos, os sinais de <strong>dor</strong> do meu dedo devem competir na<br />
medula espinhal com aqueles de outras fibras nervosas — antes de serem enviados ao cérebro como uma<br />
mensagem de <strong>dor</strong>. Ao passar pela porta espinhal, a mensagem de <strong>dor</strong> pode ser silencia<strong>da</strong> por ordem do cérebro<br />
mais elevado. A não ser que a mensagem de <strong>dor</strong> continue até provocar uma reação no cérebro, eu não serei<br />
informado a respeito dela — meu dedo não vai doer .<br />
Notas<br />
1 Causalgia: <strong>dor</strong> que se apresenta frequentemente sob forma de queimação, muitas vezes acompanha<strong>da</strong> de alterações tróficas cutâneas, e<br />
consequente a lesão de nervo periférico. (Fonte: Dicionário Aurélio — Séc. XXI, virtual.)<br />
2 A reação reflexa oferece uma boa ilustração <strong>da</strong> estrutura sofistica<strong>da</strong> <strong>da</strong> rede de <strong>dor</strong>. Quando um perigo — tocar um fogão quente, pisar<br />
num espinho, piscar numa tempestade de poeira — exige uma resposta rápi<strong>da</strong>, o corpo delega a tarefa a uma alça reflexa que funciona<br />
abaixo do nível <strong>da</strong> consciência. Não há<br />
vantagem em pensar sobre o fogão, por que então perturbar o cérebro mais<br />
elevado com uma ação que pode ser trata<strong>da</strong> em nível reflexo? To<strong>da</strong>via — e me espanto com a sabe<strong>dor</strong>ia embuti<strong>da</strong> no corpo — a parte<br />
mais eleva<strong>da</strong> do cérebro se reserva o direito de ignorar a alça reflexa em circunstâncias extraordinárias. Um alpinista perito, agarrado a<br />
um precipício, não vai endireitar a perna quando uma pedra que caí atinge o tendão patelar; uma <strong>da</strong>ma <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de não deixará cair uma<br />
xícara de chá quente demais servi<strong>da</strong> em porcelana Wedgwood; o sobrevivente de um desastre de avião irá reprimir reflexos e an<strong>da</strong>r<br />
descalço sobre fragmentos de vidro e metal quente.<br />
3 Weddell progrediu até tornar-se um pesquisa<strong>dor</strong> respeitado no campo <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Ele viajou pelo mundo, testando suas teorias em pessoas na<br />
Africa e na Ásia. Certa vez, estava tendo dificul<strong>da</strong>de para explicar a alguns membros de uma tribo nigeriana por que desejava que se<br />
submetessem a alguns testes. Seu tradutor então disse: — Ele é como uma galinha ciscando na areia à sua volta até encontrar algo. —<br />
Weddell gostava de contar essa história. Afirmou que essa era a melhor definição de pesquisa científica que já ouvira<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 47