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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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pacientes mais idosos. Entre eles notei alguns que an<strong>da</strong>vam aos arrancos, de um modo cambaio que eu nunca vira<br />

antes. Eles estavam na ver<strong>da</strong>de an<strong>da</strong>ndo na superfície externa dos pés, com os tornozelos quase tocando o chão.<br />

As plantas dos pés deles viravam para dentro e para cima, olhando uma para a outra. Era desanima<strong>dor</strong> ver alguém<br />

an<strong>da</strong>ndo em minha direção com as solas rosa<strong>da</strong>s dos dois pés plenamente visíveis a ca<strong>da</strong> passo. Compreendi<br />

surpreso que estava vendo pela primeira vez vítimas de pés tortos na vi<strong>da</strong> adulta que nunca haviam sido trata<strong>da</strong>s<br />

na infância. Calos grossos cobriam, a "parte de cima" de seus pés, muitos haviam infeccionado e criado úlceras<br />

porque a pele na parte de cima dos pés não fora feita para an<strong>da</strong>r sobre ela. Escolhi um paciente de dezenove anos<br />

para tratamento, esperando um longo processo de utilização de talas seguido de uma operação do tipo mais<br />

radical, a fim de virar o pé para cima e fixá-lo com a sola para baixo. Enquanto o examinava, mal pude acreditar<br />

em minhas mãos. Ao massagear e girar seus pés, descobri que eram flexíveis e respondiam à leve manipulação,<br />

em grande contraste com a rigidez que encontrara nos pacientes mais velhos na Inglaterra. Nenhum tecido<br />

cicatrizado se formara porque nenhum médico forçara seus pés a tomarem uma nova forma ou os corrigira<br />

cirurgicamente. Ocorreu-me que eu não deveria introduzir uma cicatriz naquele tecido virgem por meio de força<br />

coerciva. Pressionei então simplesmente os pés dele na direção <strong>da</strong> posição correta até que sentisse uma ponta<strong>da</strong> de<br />

<strong>dor</strong> e depois os engessei no lugar. Depois de uma semana, ao mu<strong>da</strong>r a tala, vi que os tecidos haviam afrouxado.<br />

Semana após semana pressionei-os um pouco mais, com talas progressivas, até que quase metade <strong>da</strong> deformi<strong>da</strong>de<br />

foi corrigi<strong>da</strong> sem cirurgia.<br />

Quando finalmente vi aquele adolescente an<strong>da</strong>i, pela primeira vez em sua vi<strong>da</strong> usando a sola dos pés, tive a<br />

certeza de que devíamos aplicar o princípio <strong>da</strong> correção lenta aos pés tortos dos bebês. Anunciei na clínica infantil<br />

que iríamos tentar um novo tratamento. Na<strong>da</strong> mais de manipulação força<strong>da</strong>. Na<strong>da</strong> mais de cirurgias produzindo<br />

cicatrizes. A partir <strong>da</strong>quele momento iríamos estimular os tecidos a fim de que se corrigissem sozinhos. Havia,<br />

porém, um problema: tínhamos de calcular de algum modo uma quanti<strong>da</strong>de de força suficiente a fim de estimular<br />

o lado mais curto do pé para que crescesse, mas não tanta força que causasse <strong>da</strong>nos e cicatrizes aos tecidos.<br />

Não vou mencionar todos os métodos que tentamos para chegar a esse cálculo, apenas o nosso método final e que<br />

obteve mais êxito. A clínica de pés tratava bebês e na Índia as mães amamentam seus filhos no peito pelo menos<br />

durante um ano. Encontramos uma chave nisto. Instruímos as mães a levarem as crianças em jejum para a clínica;<br />

ninguém deveria alimentar-se antes do tratamento matinal.<br />

A clínica já tinha uma bem mereci<strong>da</strong> reputação como a mais barulhenta do hospital; após a instituição do novo<br />

tratamento, a sala de espera tornou-se uma cacofonia de bebês berrando. No momento em que o nome <strong>da</strong> criança<br />

era chamado, a mãe entrava e ficava senta<strong>da</strong> na minha frente. Ela colocava o bebê no colo e abria o sari, expondo<br />

um seio cheio de leite. Enquanto o filho sugava avi<strong>da</strong>mente o seio, eu tirava a tala antiga e lavava o pé, depois<br />

começava a girá-lo para testar a extensão do movimento. Algumas vezes a criança olhava para mim e franzia a<br />

testa, mas o leite era a maior priori<strong>da</strong>de. Depois de avaliar o problema, eu pegava um rolo de gesso fino<br />

calcinado, umedecia-o e começava a trabalhar no pé do bebê.<br />

Chegara agora o momento crítico. Eu fitava atentamente os olhos <strong>da</strong> criança. Nesse ponto, ela ain<strong>da</strong> tinha um<br />

único interesse: alimento. Eu movia o pé gentilmente em direção à posição mais correta. Ao primeiro desconforto<br />

ela começava a olhar para o pé e para mim, a fonte do problema. Esse era o sinal! Enrolávamos rapi<strong>da</strong>mente a tala<br />

de gesso úmido ao re<strong>dor</strong> do pé e <strong>da</strong> perna, dobrando o pé para a posição mais distante que podíamos e que iria<br />

manter o bebê só olhando e franzindo a testa.<br />

Se ele largasse o mamilo <strong>da</strong> mãe para chorar, teríamos perdido o jogo. Havíamos avançado demais, forçando o pé<br />

a uma posição que colocaria o tecido sob estresse excessivo. Ao primeiro grito de protesto, tínhamos de relaxar,<br />

tirar a tala de gesso e começar com uma nova ban<strong>da</strong>gem enquanto o bebê voltava ao seio. Aprendemos que se<br />

cruzássemos essa barreira de <strong>dor</strong>, embora não pudéssemos ver qualquer <strong>da</strong>no óbvio num primeiro momento,<br />

inchaço e rigidez surgiriam mais tarde.<br />

Ao fazer uso desta técnica, obtivemos resultados dramáticos de correção total sem recorrer à cirurgia. Uma<br />

criança podia requerer cerca de vinte tratamentos, com ca<strong>da</strong> engessamento sucessivo permanecendo por cerca de<br />

cinco dias, tempo suficiente para permitir que a pele, os ligamentos e finalmente as células ósseas se a<strong>da</strong>ptassem<br />

aos leves esforços impostos sobre eles. Depois do último tratamento, mantínhamos os pés nas talas Denis Browne<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 54

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