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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Por outro lado, o pé é destinado a suportar o peso do corpo: ele tem estruturas de suporte mais resistentes,<br />

suprimento abun<strong>da</strong>nte de sangue e mil vezes menos sensibili<strong>da</strong>de à <strong>dor</strong>. As pontas dos dedos também podem<br />

suportar bastante coação: haveria bem poucos carpinteiros se os dedos que seguram pregos e pe<strong>da</strong>ços de madeira<br />

enviassem sinais de <strong>dor</strong> ao cérebro a ca<strong>da</strong> bati<strong>da</strong> do martelo. Em ca<strong>da</strong> caso, a função de uma parte do corpo<br />

determina sua estrutura circun<strong>da</strong>nte, e a rede de <strong>dor</strong> se a<strong>da</strong>pta fielmente.<br />

Aumentando a complexi<strong>da</strong>de do sistema, os sensores de <strong>dor</strong> informam em veloci<strong>da</strong>des diferentes. Os sinais <strong>da</strong><br />

superfície <strong>da</strong> pele viajam a uma razão de 90 metros por segundo, induzindo uma reação imediata. Toque um<br />

fogão quente e seu dedo recua antes mesmo de a <strong>dor</strong> ser registra<strong>da</strong> em seu cérebro consciente. 2 Em contraste, a<br />

<strong>dor</strong> <strong>da</strong> derme ou dos órgãos internos se arrasta a 60 centímetros por segundo, de modo que vários segundos<br />

podem passar antes de ela ser registra<strong>da</strong>. A <strong>dor</strong> ou o latejar <strong>da</strong> <strong>dor</strong> lenta é mais profundo e tende a persistir.<br />

Tommy Lewis, sempre observa<strong>dor</strong>, ficou imaginando por que os técnicos de radiologia (um campo novo na<br />

época) nunca comiam ovos poché. Ao examiná-los, ele descobriu que os feixes de raios-X (as primeiras máquinas<br />

eram malprotegi<strong>da</strong>s) haviam destruído os sensores nervosos em suas cama<strong>da</strong>s externas de pele, silenciando assim<br />

o primeiro sistema de advertência <strong>da</strong> <strong>dor</strong> rápi<strong>da</strong>. Os técnicos haviam aprendido a evitar as cascas de ovo quentes<br />

porque a <strong>dor</strong> lenta e retar<strong>da</strong><strong>da</strong> era muito pior e não desaparecia facilmente.<br />

DOUTOR ESCOVA<br />

Tommy Lewis costumava ficar intrigado com o que motiva um sensor do cérebro a enviar seu sinal. Quando as<br />

pessoas que assistem a um concerto batem palmas, elas não sentem <strong>dor</strong> a princípio. Ca<strong>da</strong> vez que as mãos se<br />

juntam, as células se comprimem, <strong>da</strong>ndo um aviso de sensação de pressão. Se os membros <strong>da</strong> audiência<br />

continuarem batendo palmas por dez minutos na esperança de ganhar um bis, suas mãos começarão a ficar<br />

sensíveis, e se as palmas continuarem por muito tempo, os especta<strong>dor</strong>es sentirão bastante desconforto. Por quê?<br />

As últimas palmas não foram mais fortes do que as primeiras; a pressão, portanto, não aumentou. De alguma<br />

forma as palmas <strong>da</strong>s mãos se tornam vermelhas e incha<strong>da</strong>s, indicando <strong>da</strong>nos ao tecido, as células nervosas<br />

pressentem o perigo e enviam sinais de <strong>dor</strong> em aditamento à pressão.<br />

Do mesmo modo, se um pouco de óleo quente cai nas costas <strong>da</strong> minha mão, eu a coloco debaixo <strong>da</strong> torneira até<br />

que melhore. A queimadura deixa uma pequena marca vermelha, que logo esqueço — até tomar banho à noite. De<br />

repente, a água que parece ótima para uma <strong>da</strong>s mãos fica quente e desconfortável para a outra. Sensores de<br />

temperatura nas duas mãos estão registrando o mesmo fluxo de calor, mas a pele levemente <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong> tornou-se<br />

hipersensível, e seus detectores de <strong>dor</strong> ajustam seus limiares nessa conformi<strong>da</strong>de.<br />

Antes de pesquisar o assunto em maior profundi<strong>da</strong>de, eu imaginara a rede de <strong>dor</strong> como uma série de "fios" que<br />

corriam diretamente <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des para o cérebro, como alarmes de incêndio individuais ligados a um posto<br />

de bombeiros central. Em pouco tempo aprendi como esse conceito era ingênuo. A <strong>dor</strong> é uma interpretação<br />

sofistica<strong>da</strong> extraí<strong>da</strong> de muitas fontes.<br />

Graham Weddell, outro protegido de Tommy Lewis e conferencista júnior do University College, abor<strong>da</strong>va os<br />

mistérios científicos com o entusiasmo de um mártir. Aju<strong>da</strong>do por um assistente indiano, ele cortava pequenas<br />

janelas na carne de seu próprio braço e isolava as fibras nervosas individuais, que ligava a um osciloscópio.<br />

Weddell aplicava então vários estímulos — calor, frio, alfineta<strong>da</strong>s, ácido — à mão e observava os resultados<br />

exibidos na tela do osciloscópio. Ele acabou ficando com um antebraço parecido com um campo de teste para um<br />

mau tatua<strong>dor</strong>, mas também ganhou uma nova compreensão <strong>da</strong> <strong>dor</strong>: ela funciona mais como uma percepção do que<br />

uma sensação. 3 A fim de se tornarem sinais de <strong>dor</strong>, a descarga dos neurônios individuais devem acumular-se no<br />

tempo, mediante sinais repetidos, ou no espaço, envolvendo neurônios próximos. Os procedimentos de<br />

automutilação convenceram Weddell de que os sinais de <strong>dor</strong> emitidos por neurônios isolados têm pouco<br />

significado; o que importa são as suas interações com as células adjacentes e a interpretação supri<strong>da</strong> pelo cérebro.<br />

Weddell logo notou que o ambiente do laboratório tinha um efeito poderoso na experiência <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. A <strong>dor</strong> nunca<br />

era "objetiva". De maneira constante, os voluntários novatos nos experimentos se queixavam de sentir <strong>dor</strong> muito<br />

antes do que os voluntários regulares. Mesmo depois de informados de que poderiam desligar os estímulos<br />

dolorosos apertando um interruptor, eles não confiavam plenamente no processo de prova, e essa ansie<strong>da</strong>de<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 44

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