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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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seus corpos.<br />

Obreiros antigos nos leprosários, como Cochrane, se mostraram extasiados. Não mais contagiosos, com a doença<br />

agora inativa, os pacientes podiam teoricamente ser devolvidos às suas ci<strong>da</strong>des. As esperanças diminuíram,<br />

porém, quando se tornou claro que os povoados não tinham interesse em receber ninguém com um histórico de<br />

lepra. Em quase todos os casos, os pacientes tiveram de permanecer em Chingleput mesmo depois de curados.<br />

Eu não tinha certeza sobre qual a contribuição que poderia oferecer aos pacientes de lepra, mas quanto mais<br />

tempo passava entre eles, mais meu chamado se confirmava. Enquanto conduzia os testes de pesquisa, tive<br />

oportuni<strong>da</strong>de de ouvir centenas de histórias de rejeição e desespero. Banidos de casa e do povoado, os pacientes<br />

iam a Chingleput por não terem literalmente para onde ir. Haviam se tornado párias sociais simplesmente por seu<br />

infortúnio em contrair uma doença temi<strong>da</strong> e malcompreendi<strong>da</strong>. Pela primeira vez percebi a tragédia humana <strong>da</strong><br />

lepra. Com o encorajamento de Cochrane, entretanto, recebi também um sopro de esperança do progresso que<br />

poderia ser feito para reverter essa tragédia.<br />

REVELAÇÃO NA MADRUGADA<br />

Depois de investigar Chingleput e outros leprosários perto de Vellore, examinei os <strong>da</strong>dos coletados de dois mil<br />

pacientes. Ca<strong>da</strong> pasta sobre uma mão <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong> incluía diagramas <strong>da</strong> insensibili<strong>da</strong>de e extensão do movimento,<br />

assim como fotos de ossos e estragos na pele. O padrão que eu primeiro notara em Chingleput, que desafiava to<strong>da</strong><br />

a sequência convencional <strong>da</strong> paralisia, manteve-se ver<strong>da</strong>deiro: paralisia frequente em áreas controla<strong>da</strong>s pelo nervo<br />

ulnar, paralisia modera<strong>da</strong> no nervo mediano e pouca no nervo radial. Eu não conseguia pensar numa razão lógica<br />

para o nervo ulnar no cotovelo causar paralisia, enquanto o nervo mediano, 2,5 centímetros distante, se mantinha<br />

saudável; ou por que o nervo mediano não funcionasse no pulso, embora nenhum dos músculos do nervo radial<br />

estivesse paralisado.<br />

Para aumentar minha confusão, eu enviara amostras de tecidos de dedos encurtados ao professor de patologia de<br />

Vellore,Ted Gault.<br />

— O que há de errado com esses tecidos, Ted? — perguntei.<br />

Repeti<strong>da</strong>s vezes ele informou:<br />

—- Na<strong>da</strong>, Paul. São perfeitamente normais, exceto pela per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des nervosas.<br />

Normais? Eu fizera algumas <strong>da</strong>s biópsias em dedos que haviam encurtado vários centímetros de comprimento,<br />

meros tocos de dedos. Como poderiam ser normais? Eu mal podia acreditar nos relatórios até que Ted me fez<br />

olhar pelo microscópio e ver por mim mesmo. O tecido mostrava cicatrizes de uma infecção anterior, é claro, mas<br />

os ossos, tendões e músculos pareciam sadios, assim como a pele e a gordura. O que estava causando <strong>da</strong>no às<br />

mãos? Os fatos não se encaixavam.<br />

Eu desejava tentar algum tipo de cirurgia corretiva nos pacientes com paralisia motora, a maioria dos quais não<br />

sofrera muitos estragos em suas mãos por estas serem frágeis demais para causarem problemas. Esse grupo<br />

representava a melhor esperança para restaurar quaisquer pacientes leprosos a uma vi<strong>da</strong> produtiva. To<strong>da</strong>via, eu<br />

não ousava agir antes de saber por que certos músculos permaneciam saudáveis enquanto outros ficavam<br />

paralisados. Eu precisava ter certeza de que certos músculos iriam permanecer "bons", não afetados pela doença, e<br />

para isso teria de examinar todo o braço com os nervos afetados. Como é natural, eticamente, eu não podia operar<br />

um paciente vivo com o único propósito de recuperar nervos. As autópsias eram a única solução.<br />

No entanto, na Índia, as autópsias eram mais um problema do que uma solução. Os mullahs muçulmanos<br />

proibiam a mutilação do corpo após a morte, mesmo com a finali<strong>da</strong>de de doar órgãos à ciência. A fé hindu exigia<br />

que o corpo inteiro fosse queimado num fogo purifica<strong>dor</strong> até virar cinzas; portanto, os hindus muito ortodoxos<br />

resistiam à amputação por qualquer motivo. Mesmo que a gangrena ameaçasse a vi<strong>da</strong> do indivíduo, eles<br />

acreditavam que era melhor morrer agora do que serem privados de um membro em to<strong>da</strong>s as encarnações futuras.<br />

A fim de satisfazer suas necessi<strong>da</strong>des de transplantes de órgãos e trabalho de laboratório, o hospital Vellore<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 62

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