A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
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egistros.<br />
O sistema funcionava bem e produziu um benefício colateral extraordinário: os pacientes se ocupavam tanto em<br />
cui<strong>da</strong>r do sofrimento uns dos outros que se esqueciam dos seus próprios. Notei uma que<strong>da</strong> de quase 50 por cento<br />
nos pedidos de medicamentos para <strong>dor</strong>. Em minhas ron<strong>da</strong>s noturnas, descobri que pacientes que geralmente<br />
precisavam de comprimidos para <strong>dor</strong>mir estavam pacificamente a<strong>dor</strong>mecidos quando eu chegava. Depois de<br />
algumas semanas desse programa de emergência, o hospital recrutou mais enfermeiros e aliviou os pacientes de<br />
seus deveres voluntários. As dosagens subiram imediatamente, e a atmosfera usual de desamparo e letargia se<br />
reinstalou.<br />
Perguntaram certa vez ao dr. Karl Menninger:<br />
— O que o senhor aconselharia uma pessoa a fazer se ela sentisse um colapso nervoso se aproximando?<br />
A resposta dele:<br />
— Feche sua casa, atravesse os trilhos do trem, encontre alguém necessitado e faça algo para aju<strong>da</strong>r essa<br />
pessoa.<br />
Nesse espírito, se eu tivesse mais alguns anos nesta terra, poderia ser tentado a franquear uma nova linha de<br />
facili<strong>da</strong>des de enfermagem destina<strong>da</strong> a substituir o desamparo por uma sensação de significado, incorporando de<br />
alguma forma ativi<strong>da</strong>des produtivas na rotina diária.<br />
Visitei na Inglaterra uma instituição que combinava uma casa de idosos com um programa de creche diurna. O<br />
efeito nos residentes foi extraordinário. Era difícil dizer quem se beneficiava mais, as babás idosas, que<br />
irradiavam alegria por sentir-se necessárias, ou as crianças, que se aqueciam com to<strong>da</strong> aquela atenção. Não<br />
verifiquei as fichas médicas deles, mas tenho certeza de que os residentes também requeriam menos remédios<br />
para aliviar a <strong>dor</strong>.<br />
Quase na mesma ocasião, visitei uma casa de repouso mais tradicional num bonito cenário. O piso branco<br />
brilhava e funcionários corriam por to<strong>da</strong> parte polindo os corrimões e a mobília. O diretor, agindo como guia,<br />
apontou para o equipamento de última geração. Ele explicou que aquela instituição tinha como característica<br />
quartos individuais para assegurar a máxima privaci<strong>da</strong>de. Quando saímos ao ar livre, notei com surpresa que não<br />
havia pacientes aproveitando o jardim espaçoso, apesar do clima agradável <strong>da</strong> primavera.<br />
— Oh, não permitimos — replicou ele —, costumávamos fazer isso, mas tantos residentes ficaram resfriados<br />
e com alergias que decidimos mantê-los dentro de casa.<br />
Afirmou até que muitos pacientes estavam confinados ao leito:<br />
— Esses idosos, como sabe, são frágeis, sempre correm o risco de cair e quebrar uma perna.<br />
Enquanto an<strong>da</strong>va pelos corre<strong>dor</strong>es, meu coração afundou. Vi pacientes muito bem cui<strong>da</strong>dos vivendo em quartos<br />
impecáveis, com seus espíritos sendo consumidos.<br />
RESISTINDO<br />
Lembro vivamente de um faquir que tratei na Índia. Embora tivesse me procurado para tratamento de uma úlcera<br />
péptica, fiquei fascinado com a sua mão esquer<strong>da</strong>, que ele mantinha levanta<strong>da</strong> como a de um policial de trânsito<br />
perpetuamente fazendo o sinal para parar. O homem não queria que eu trabalhasse na mão ou no braço, mas<br />
contou-me o que acontecera. Quinze anos antes, fizera um voto religioso de nunca mais abaixar a mão ou usá-la.<br />
Os músculos atrofiaram, as juntas se fundiram e a mão estava agora tão fixa em sua posição como um galho de<br />
árvore.<br />
Esse faquir com a mão rígi<strong>da</strong> demonstra os limites dos cui<strong>da</strong>dos médicos, pois quaisquer técnicas corretivas se<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 173