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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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piscar. Os pacientes de lepra insensíveis não percebem esses sinais de <strong>dor</strong>. Assim como os bacilos prejudicam os<br />

nervos nas pontas dos dedos <strong>da</strong>s mãos e dos pés, eles também <strong>da</strong>nificam os sensores que provocam o reflexo de<br />

piscar. Dormentes, os sensores na superfície do olho nunca dão início a esse reflexo. Margaret logo assistiu a uma<br />

vívi<strong>da</strong> cena do tipo de abuso que pode acontecer a um paciente cujos olhos são insensíveis à <strong>dor</strong>: um homem<br />

coçou vigorosamente seus olhos abertos com uma mão coberta de calos duros e enormes. Não era de surpreender<br />

que seus pacientes estivessem ficando cegos!<br />

A pesquisa feita por Margaret confirmou que grande parte <strong>da</strong> cegueira dos leprosos não era uma consequência<br />

inevitável <strong>da</strong> infecção, mas um subproduto causado por um problema nos nervos. Ela preferiu trabalhar primeiro<br />

com os pacientes insensíveis que não haviam perdido os nervos motores. Para este grande grupo, a solução<br />

parecia simples: precisava apenas examiná-los regularmente e ensiná-los a piscar conscientemente, e não por<br />

reflexo. Se educasse os mais jovens em relação aos perigos, eles certamente poderiam piscar a ca<strong>da</strong> minuto ou<br />

dois. A alternativa era a cegueira.<br />

Com grande esperança, Margaret começou uma campanha educativa entre esses pacientes, treinando-os para<br />

piscar ca<strong>da</strong> vez que ela levantasse um cartão. Eles obedeceram entusiasmados durante uma hora ou duas. Mais<br />

tarde, porém, quando an<strong>da</strong>va entre eles, notou o mesmo olhar de olhos arregalados, fixos. Ela tentou<br />

desperta<strong>dor</strong>es, campainhas e outros dispositivos para marcar o tempo. Estes funcionaram temporariamente, mas<br />

os pacientes logo perderam o interesse ou se tornaram imunes ao sinal. Colocou então óculos neles para proteger<br />

seus olhos contra objetos estranhos; continuavam, entretanto, sem os benefícios essenciais do ato de piscar.<br />

Em desespero, examinamos procedimentos cirúrgicos que pudessem ser úteis. Sir Harold Gillies havia<br />

desenvolvido uma técnica elegante para aju<strong>da</strong>r as pessoas com paralisia de Bell, que também sofrem de<br />

problemas no músculo responsável pelo reflexo de piscar. Seu procedimento inova<strong>dor</strong> incluía uma promessa até<br />

para os que sofriam de paralisia completa <strong>da</strong> pálpebra. Envolvia soltar uma extremi<strong>da</strong>de de parte do músculo<br />

temporal, que controla a contra-ção <strong>da</strong> mandíbula e a mastigação, e ligá-la a um filamento <strong>da</strong> apo-neurose que<br />

atravessa as pálpebras. Este ajuste tornava mais fácil para os pacientes piscarem conscientemente, pois agora o<br />

mesmo músculo controlava tanto o movimento de mastigar quanto o fechamento <strong>da</strong> pálpebra. Margaret só tinha<br />

de ensinar os pacientes a cerrarem periodicamente os dentes — ou, melhor ain<strong>da</strong>, pedir que mascassem chiclete<br />

—, e o olho obtinha a lubrificação necessária.<br />

O procedimento funcionou bem e ain<strong>da</strong> é usado em grande escala na Índia. Quando um paciente de lepra masca<br />

chiclete vigorosamente ca<strong>da</strong> vez que sai de casa num dia poeirento, seu olho recebe a proteção necessária. A<br />

cirurgia produz alguns efeitos colaterais singulares — a pessoa pisca rapi<strong>da</strong>mente ao mastigar um pe<strong>da</strong>ço de carne<br />

—, mas o paciente consciencioso pode manter a cegueira literalmente afasta<strong>da</strong> simplesmente através do ato de<br />

mastigar.<br />

Damos graças por termos sido lembrados de nunca subestimar a contribuição <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. A solução de problemas<br />

motores para restaurar a habili<strong>da</strong>de de piscar de um paciente não resolveu porém os problemas sensoriais bem<br />

mais difíceis. Até mesmo nossos pacientes mais entusiastas, que conscientemente tentavam evitar a cegueira,<br />

também fracassavam. A não ser que retivessem alguma sensação de <strong>dor</strong> residual na superfície do olho que os<br />

alertasse para uma sensação de <strong>dor</strong> ou secura, eles esqueciam de piscar ou mastigar. Haviam simplesmente<br />

perdido a motivação; para que piscassem com perfeita regulari<strong>da</strong>de, era preciso sentir <strong>dor</strong>. Precisavam dessa<br />

compulsão.<br />

Quando um paciente perdia to<strong>da</strong> a sensação de <strong>dor</strong>, tínhamos de reverter a um procedimento muito menos<br />

satisfatório. Usando agulha e linha, costurávamos juntas a pálpebra superior e inferior bem aperta<strong>da</strong>s nos cantos,<br />

deixando apenas uma abertura no centro suficiente para permitir a visão. Em vista de tão pequena parte do olho<br />

ficar exposta, lágrimas lubrificantes se acumulavam ao re<strong>dor</strong> <strong>da</strong> córnea e a umedeciam, embora o paciente nunca<br />

piscasse. Os pacientes odiavam o efeito <strong>da</strong> sua aparência final, assim como detestavam tudo o que os fizesse<br />

parecer diferentes, mas pelo menos isso fazia com que sua vista fosse preserva<strong>da</strong>. Até hoje, esse procedimento<br />

simples, embora seja um medíocre substituto para as células de <strong>dor</strong> silencia<strong>da</strong>s, serve como um notável<br />

conserva<strong>dor</strong> <strong>da</strong> visão para os pacientes de lepra.<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 93

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