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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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experiências com gatos — o tipo de experimentos realizados antes dos dias do movimento a favor dos direitos dos<br />

animais.<br />

— Eu costumava anestesiar os gatos e então expor um nervo, geralmente o que controlava a perna dianteira<br />

direita. Colocava um pequeno clipe de aço na superfície do nervo, como um clipe de papel num arame. Descobri<br />

que se o clipe estivesse suficientemente apertado, a pressão destruía o nervo e a perna ficava paralisa<strong>da</strong>. Dano<br />

permanente do nervo. A seguir tentei colocar um pequeno cilindro, uma bainha de aço, ao re<strong>dor</strong> do nervo, mas<br />

nunca consegui apertar suficientemente o cilindro para causar qualquer problema. Depois tentei o trauma, golpeei<br />

o nervo exposto com um instrumento sem corte. O gato estava anestesiado, é claro, portanto não sentia na<strong>da</strong>, mas<br />

o trauma fez o nervo inchar até o dobro do normal. Apesar do inchaço, entretanto, notei que não ocorreu paralisia.<br />

O nervo continuou funcionando. Resolvi finalmente golpear primeiro o nervo e depois colocá-lo na pequena<br />

bainha de aço. O nervo começou a inchar, mas dessa vez não tinha para onde se expandir por causa do cilindro.<br />

Consegui realmente uma reação com isso. Rapi<strong>da</strong>mente o gato perdeu to<strong>da</strong> a sensação e movimento nos músculos<br />

supridos por esse nervo. Aprendi muito sobre a destruição do nervo, mas não sabia o que fazer com essas<br />

descobertas, então deixei-as de lado. Isso foi há mais de dez anos. Mas, em algum lugar por aqui, tenho 'alguns<br />

espécimes.<br />

Fiquei impressionado com a memória visual de Denny-Brown, capaz de lembrar de um padrão que vira tantos<br />

anos antes. Ele finalmente localizou uma caixa empoeira<strong>da</strong> de slides de microscópio, tirou-os e colocou-os lado a<br />

lado com os espécimes de nervos de Chingleput. Sob o microscópio, eles combinavam perfeitamente. Tínhamos<br />

agora duas demonstrações independentes do mesmo padrão misterioso.<br />

— Ora, isso prova algo a você — comentou Denny-Brown com evidente orgulho. — Seus nervos leprosos estão<br />

sendo destruídos por isquemia. Algo os faz inchar e a bainha do nervo [um revestimento de gordura protéica<br />

comparável ao isolamento ao re<strong>dor</strong> de um fio] restringe o inchaço. O que acontece é que a pressão dentro <strong>da</strong><br />

bainha aumenta tanto que suspende o suprimento de sangue e provoca isquemia. Como qualquer outro tecido, o<br />

nervo morre se ficar muito tempo sem receber suprimento de sangue.<br />

Aquela tarde com Denny-Brown provou ser a consulta mais valiosa de to<strong>da</strong> a minha viagem de quatro meses à<br />

América do Norte. Eu já conhecia a isquemia anteriormente, pois a experimentara como um dos voluntários de<br />

Sir Thomas Lewis na facul<strong>da</strong>de de medicina. Lembrei-me <strong>da</strong> agonia que sentira quando a braçadeira <strong>da</strong> pressão<br />

sanguínea cortara todo o sangue que vinha de fora e meus músculos ficaram espasmódicos. De maneira irônica,<br />

justamente o mecanismo que me causara tanta <strong>dor</strong> estava fazendo agora o oposto em meus pacientes de lepra:<br />

destruía a sua sensibili<strong>da</strong>de à <strong>dor</strong>. Se tivesse mantido a braçadeira por muito tempo, horas em vez de minutos, eu<br />

também teria destruído os nervos de meu braço, levando à paralisia e per<strong>da</strong> de sensação.<br />

Pela primeira vez tive uma explicação sensata do ataque <strong>da</strong> lepra sobre o nervo. Quando os bacilos <strong>da</strong> lepra<br />

invadem um nervo, o corpo reage com uma resposta clássica de inflamação, fazendo o nervo inchar. Os bacilos se<br />

multiplicam, o corpo envia reforços e em pouco tempo o nervo em expansão comprimirá sua bainha. Assim como<br />

as bainhas de aço de Denny-Brown haviam restringido o inchaço dos nervos do gato, a bainha do nervo invadido<br />

pela lepra age como constritor e eventualmente o nervo inchado corta o próprio suprimento de sangue e morre.<br />

Um nervo morto não transporta os sinais elétricos de sensação e movimento.<br />

Enquanto eu olhava pela lente do microscópio no consultório abarrotado de Denny-Brown, algumas <strong>da</strong>s últimas<br />

peças do quebra-cabeça <strong>da</strong> lepra se encaixaram. Durante séculos, a medicina se concentrara no <strong>da</strong>no visível que a<br />

lepra provocava nos dedos dos pés, <strong>da</strong>s mãos e na face — <strong>da</strong>í o mito <strong>da</strong> "carne má". Meu trabalho com os<br />

pacientes, assim como a autópsia de Chingleput, me convenceu de que o ver<strong>da</strong>deiro problema estava em outra<br />

parte, no trajeto do nervo, mas até aquele momento eu não compreendera como os nervos eram destruídos. A<br />

explicação de isquemia <strong>da</strong><strong>da</strong> por Denny-Brown resolveu o quebra-cabeça. 2<br />

Afinal eu enxergava um quadro geral <strong>da</strong> lepra como, principalmente, uma moléstia dos nervos. Os bacilos<br />

proliferam de fato em lugares frescos, como a testa e o nariz, provocando uma reação defensiva, mas esses<br />

invasores causam mais <strong>da</strong>no cosmético que outra coisa. Os sintomas ver<strong>da</strong>deiramente devasta<strong>dor</strong>es surgem<br />

quando os bacilos invadem os nervos perto <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> pele. Ca<strong>da</strong> nervo importante é um condutor <strong>da</strong>s fibras<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 97

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