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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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população leprosa registra<strong>da</strong> nos ' Estados Unidos era — e continua sendo — cerca de seis mil.) Car-ville tinha<br />

praticamente tantos funcionários quanto pacientes, e conseguimos obter equipamento para pesquisa que teria<br />

parecido excessivo na Índia. Por exemplo, eu logo ouvi falar de uma tecnologia fascinante, a termografia, que se<br />

mostrou promissora para aplicações médicas, e encomendei uma uni<strong>da</strong>de de quarenta mil dólares para a nossa<br />

clínica. O termógrafo era uma máquina complexa para medir a temperatura.<br />

Na Índia havíamos reconhecido a importância de monitorar a temperatura dos pés e <strong>da</strong>s mãos dos pacientes.<br />

Insensíveis à <strong>dor</strong>, eles geralmente não sabem quando <strong>da</strong>nificaram o tecido abaixo <strong>da</strong> superfície, mas o corpo reage<br />

enviando um suprimento maior de sangue para a área prejudica<strong>da</strong>. Um ponto de infecção no pé, por exemplo,<br />

requer de três a quatro vezes o suprimento normal de sangue a fim de curar a feri<strong>da</strong> e controlar a infecção. Eu<br />

treinara minha mão para detectar esses "pontos quentes", de modo que aprendi a perceber uma mu<strong>da</strong>nça de<br />

temperatura tão pequena quanto um grau e meio Celsius e algumas vezes um grau e um quarto. Caso sentisse um<br />

ponto quente no pé de um paciente, sabia que provavelmente indicava infecção e mantinha-me então vigilante. Se<br />

a temperatura alta persistisse, tirava uma radiografia para ver se o osso encoberto tinha rachado.<br />

Agora, no termograma do monitor ou numa folha impressa, eu podia ver um pé inteiro de uma vez, mostrando<br />

variações de temperatura tão pequenas quanto um quarto de grau. As áreas frias <strong>da</strong> pele apareciam como verdes<br />

ou azuis, as mais quentes eram violeta, laranja ou vermelhas; as mais quentes de to<strong>da</strong>s brilhavam com a cor<br />

amarela ou branca. O termógrafo era fascinante e divertido de operar porque produzia mapas coloridos <strong>da</strong> mão e<br />

do pé. Experimentamos a máquina durante meses antes de compreender seu ver<strong>da</strong>deiro potencial: a exatidão do<br />

termógrafo permitia detectarmos problemas num estágio tão inicial que aju<strong>da</strong>va a compensar a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>dor</strong>.<br />

De modo geral, no instante em que um pé entra em contato com uma tacha de metal e começa a fazer pressão<br />

sobre ela, os terminais de <strong>dor</strong> gritam, impedindo que a pessoa venha a machu-car-se seriamente. Meus pacientes<br />

de lepra, por faltar-lhes esse sistema de alarme, continuariam an<strong>da</strong>ndo e enterrariam a tacha no pé, um problema<br />

que havíamos aprendido a contornar tratando agressivamente e rápido esses ferimentos visíveis. Muito mais difícil<br />

era o <strong>da</strong>no causado por feri<strong>da</strong>s de pressão: estas se desenvolviam sob a superfície e só se abriam em úlcera<br />

num estágio posterior. O termógrafo nos oferecia, pela primeira vez, a capaci<strong>da</strong>de de espreitar sob a pele e<br />

observar tal inflamação antes que ela fosse exposta na superfície <strong>da</strong> pele. Podíamos agora ver<strong>da</strong>deiramente<br />

prevenir as úlceras, detendo mais cedo a rachadura do tecido.<br />

Se o termógrafo revelasse um ponto quente na mão ou no pé, podíamos imobilizar o membro por alguns dias, ou<br />

pelo menos reduzir o peso a ser suportado, a fim de proteger o paciente de maiores <strong>da</strong>nos e curar o problema<br />

incipiente. Comparado a um sistema sadio de <strong>dor</strong>, é claro que o termógrafo high-tech era bastante rústico, pois<br />

detectava o problema após o fato, e não antes (a beleza <strong>da</strong> <strong>dor</strong> é que ela permite que você saiba a hora em que está<br />

se machucando). Não obstante, ele nos deu uma nova precisão para monitorar problemas em potencial. Comecei a<br />

pedir que os pacientes de Carville comparecessem regularmente para exames de mãos e de pés com o<br />

termógrafo. 2<br />

Os primeiros meses dessas clínicas foram frustrantes. Lembro-me de minha primeira sessão de termógrafo com<br />

José, um paciente com certificado negativo que viera <strong>da</strong> Califórnia para ser monitorado a ca<strong>da</strong> seis meses. Os<br />

dedos dos pés de José haviam encolhido como resultado <strong>da</strong> absorção do osso, e feri<strong>da</strong>s causa<strong>da</strong>s por pressão<br />

impediam que a infecção fosse elimina<strong>da</strong>. To<strong>da</strong>via, ele teimosamente recusava usar sapatos ortopédicos.<br />

— São feios demais — declarou.<br />

José tinha um rosto limpo, sem marcas, e ninguém suspeitava de que fosse leproso.<br />

— Tenho um bom trabalho vendendo móveis. Se usar sapatos feios, alguém pode suspeitar de que tenho alguma<br />

doença e então perderei o emprego.<br />

Eu tinha esperança de que o termógrafo pudesse persuadir José a engolir o orgulho. Ele nunca levara muito a sério<br />

nossas advertências porque seu pé parecia ótimo por fora. Agora, com o termógrafo, eu iria mostrar a José<br />

exatamente onde a inflamação estava em desenvolvimento.<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 106

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