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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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até uma cavi<strong>da</strong>de (sinus) e depois entrar no cérebro. Nunca, jamais, esprema um machucado no nariz,<br />

advertíamos os pacientes. Ao tratar problemas nos olhos, ao menor sinal de infecção o olho era geralmente<br />

removido, em lugar de correr o risco de uma reação solidária no outro olho.<br />

A guerra acrescentou novos riscos, pois as feri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> batalha se tornavam campo fértil para as bactérias que<br />

causavam gangrena. Para complicar as coisas, o ambiente do hospital introduzia seus próprios perigos. Se, ao<br />

trabalhar num ferimento de grana<strong>da</strong> de um sol<strong>da</strong>do, acidentalmente facilitássemos a entra<strong>da</strong> de estafilococos<br />

numa área óssea, precipitávamos to<strong>da</strong> uma sequência de doenças crônicas. Podíamos operar novamente e extirpar<br />

o local <strong>da</strong> infecção, mas a septicemia iria certamente aparecer em outro ponto, numa junta do tornozelo ou do<br />

quadril. 2<br />

Nessa atmosfera sufocante de impotência, sopraram as primeiras brisas <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e <strong>da</strong> esperança. Primeiro<br />

ouvimos os relatórios promissores sobre a sífilis. Todos numa ci<strong>da</strong>de cosmopolita como Londres conheciam o<br />

an<strong>da</strong>r espasmódico, com os pés batendo na calça<strong>da</strong>, que marcavam o ataque <strong>da</strong> sífilis sobre o sistema nervoso<br />

central, um prelúdio provável <strong>da</strong> cegueira, demência e, finalmente, a morte. Os médicos recorriam às vezes a um<br />

tratamento drástico para os casos mais graves: infectavam delibera<strong>da</strong>mente os pacientes com malária, esperando<br />

que as febres cozinhassem e expulsassem a sífilis, e depois tratavam a malária com quinino. Na déca<strong>da</strong> de 1930,<br />

veio a notícia do tratamento bem-sucedido <strong>da</strong> sífilis com derivados de arsênico. E claro que havia perigos,<br />

especialmente para o fígado. Mas lembro-me ain<strong>da</strong> de quão moderno, quase milagroso, era o poder de impedir o<br />

avanço de uma enfermi<strong>da</strong>de.<br />

Em 1935, cientistas alemães fizeram a sensacional descoberta de que certos produtos químicos sintéticos<br />

matavam as bactérias sem prejudicar o tecido, especialmente um elemento químico vermelho chamado Prontosil<br />

(que tinha o surpreendente efeito colateral de deixar os pacientes com uma coloração rosa-claro). Cientistas<br />

britânicos que contrabandearam certa quanti<strong>da</strong>de de Prontosil no início <strong>da</strong> guerra analisaram o corante e<br />

identificaram o ingrediente ativo, a sulfanilami<strong>da</strong>, que se tornou o primeiro de to<strong>da</strong> uma nova geração de sulfas.<br />

Quando circulou pela Inglaterra a história de que uma sulfa havia salvo Winston Churchill de uma infecção<br />

bacteriana mortal na Africa do Norte, o termo "droga milagrosa" passou a fazer parte do vocabulário. Nós,<br />

estu<strong>da</strong>ntes, internos e residentes no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1940, tínhamos a vaga sensação de viver numa época de<br />

grandes avanços na história <strong>da</strong> medicina. Os professores mais velhos diziam às vezes melancolicamente:<br />

— Oh, como seria bom estar começando agora!<br />

Logo, tornou-se evidente que eu decidira entrar na escola de medicina no limiar de uma revolução.<br />

Senti a mu<strong>da</strong>nça na medicina de maneira mais dramática em dois diferentes projetos de pesquisa durante minha<br />

esta<strong>da</strong> no University College. O primeiro projeto, conduzido pouco antes dos avanços químicos, foi coman<strong>da</strong>do<br />

por um graduando chamado Ilingworth Law, um engenheiro que entrara na escola aos 45 anos, a fim de começar<br />

uma segun<strong>da</strong> carreira. Law ficou intrigado com as infecções que tendiam a irradiar-se pela mão, a partir de um<br />

machucado no dedo. Ao dissecar as mãos de cadáveres, ele estudou a hidráulica dos fluidos nos dedos. Ele<br />

injetava uma suspensão de água e negro de fumo (partículas de poeira negra do tamanho de glóbulos de pus) nos<br />

dedos e depois os curvava e endireitava repeti<strong>da</strong>mente, acompanhando o trajeto <strong>da</strong> solução.<br />

Lembro-me do entusiasmo de Ilingworth quando descobriu que o simples movimento de flexão era o principal<br />

agente para distribuir a infecção em to<strong>da</strong> a mão.<br />

— Podemos impedir que a infecção se alastre! — disse ele triunfalmente. — Basta imobilizar o dedo para que<br />

não se curve. Podemos manter a infecção numa área local e depois drená-la.<br />

Suas técnicas logo foram postas em prática em nosso hospital, e em pouco tempo seu professor estava publicando<br />

trabalhos a respeito delas, <strong>da</strong>ndo pouco ou nenhum crédito ao próprio Law.<br />

A capaci<strong>da</strong>de de conter a disseminação <strong>da</strong> infecção permaneceu na fronteira <strong>da</strong> medicina em 1939. To<strong>da</strong>via,<br />

quatro anos mais tarde, os residentes estavam experimentando um novo medicamento que prometia o que<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 26

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