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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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contato com o dr. Freudenthal, um refugiado judeu que se tornou professor no University College. Uma autori<strong>da</strong>de em verrugas e melanomas, Freudenthal<br />

havia concluído que o poder <strong>da</strong> sugestão era um pouco melhor estatisticamente falando do que qualquer outro tratamento de verrugas. Com um floreio, ele<br />

passava uma varinha negra através de uma chama verde, depois batia na verruga c dizia palavras estranhas em outra língua: "A verruga vai cair dentro de<br />

exatamente três semanas" — pronunciava solenemente.<br />

De maneira espantosa, isso frequentemente acontecia. Esse "tratamento" funcionava até em outros cientistas e médicos que não acreditavam em tais<br />

técnicas mágicas que não fazem sentido; o poder <strong>da</strong> sugestão funcionava apesar do ceticismo deles e até <strong>da</strong> hostili<strong>da</strong>de contra os métodos de Freudenthal.<br />

3 Em vista <strong>da</strong> história de cataplasmas mágicos, sangrias, banhos gelados e outras "curas" na medicina, devíamos ser gratos porque pelo menos os médicos<br />

tinham o efeito placebo trabalhando a seu favor. O dr. Franz Anton Mesmer (que nos deu o epigrama mesmerizar) "curou" pacientes com as suas teorias<br />

de Magnetismo Animal. Os reis <strong>da</strong> Inglaterra e <strong>da</strong> França trataram pacientes de escrofulose (tuberculose linfática) com o Toque Real durante setecentos<br />

anos. Dois médicos franceses do século XIX defenderam métodos de tratamento diretamente contraditórios. O dr. Raymond, em Salpetriere, Paris,<br />

suspendia os pacientes pelos pés para permitir que o sangue fluísse para as suas cabeças. O dr. Haushalter, em<br />

Nancy, suspendia a cabeça dos pacientes para cima. Resultados: exatamente a mesma porcentagem de pacientes mostrou melhoras. Norman Cousins<br />

comentou: "De fato, muitos eruditos médicos acreditaram que a história <strong>da</strong> medicina é na ver<strong>da</strong>de a história do efeito placebo. Sir William Osler enfatizou<br />

o ponto, observando que a espécie humana se distingue <strong>da</strong> ordem inferior pelo seu desejo de tomar remédios. Ao considerar a natureza <strong>da</strong>s panaceias<br />

ingeri<strong>da</strong>s no correr dos séculos, é possível que outra característica distinta <strong>da</strong> espécie seja a capaci<strong>da</strong>de de sobreviver aos medicamentos".<br />

4 O cérebro superior geralmente prega uma peça de percepção. Se eu tocar uma panela no fogão com a mão e retirá-la rapi<strong>da</strong>mente, parece que estou<br />

reagindo conscientemente ao calor. Mas o ato de puxar a mão foi na ver<strong>da</strong>de uma reação reflexa organiza<strong>da</strong> pela medula espinhal, que não consultou<br />

sequer o cérebro consciente sobre o curso adequado de ação — não podia haver demora. E necessário metade de um segundo para minha consciência<br />

classificar e interpretar uma mensagem de <strong>dor</strong>, embora a medula espinhal possa ordenar um reflexo em um décimo de segundo. Meu cérebro "preenche"<br />

antecipa<strong>da</strong>mente minha percepção ao reflexo, de modo a parecer que fiz conscientemente a escolha.<br />

A mente é seu próprio lugar e ela mesma<br />

Pode fazer um céu do inferno, um inferno do céu.<br />

JOHN MILTON, Paraíso Perdido (Tradução livre)<br />

15 Tecendo o pára-que<strong>da</strong>s<br />

Se eu tivesse nas mãos o poder de eliminar do mundo a <strong>dor</strong> física, não exerceria esse poder. Meu trabalho com<br />

pacientes que não sentem <strong>dor</strong> provou que ela nos impede de destruir a nós mesmos. To<strong>da</strong>via, sei igualmente que a<br />

<strong>dor</strong> por si mesma pode destruir, como qualquer visita a um centro de <strong>dor</strong> crônica irá evidenciar. A <strong>dor</strong> incessante<br />

esgota a força física e a energia mental e pode acabar dominando to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pessoa. A maioria de nós vive em<br />

algum ponto entre esses dois extremos, a ausência de <strong>dor</strong> e a <strong>dor</strong> crónica incessante.<br />

A boa notícia sobre o terceiro estágio <strong>da</strong> <strong>dor</strong>, a reação mental, é que ele nos permite fazer um preparo antecipado<br />

para a <strong>dor</strong>. O hipnotismo e o efeito placebo provam que a mente já possui poderes embutidos para controlar a <strong>dor</strong>.<br />

Precisamos apenas aprender a tirar proveito desses recursos. As diversas reações que observei como médico —<br />

alguns pacientes suportam a <strong>dor</strong> heroicamente, outros estoicamente, e outros ain<strong>da</strong> se encolhem em terror abjeto<br />

— me mostraram as vantagens de fazer preparativos apropriados.<br />

Gosto do conceito de "seguro <strong>da</strong> <strong>dor</strong>": podemos pagar as mensali<strong>da</strong>des de antemão, muito antes de a <strong>dor</strong> surgir.<br />

Um médico disse na série de televisão de Bill Moyers, Healing and the Mind [A Cura e a Mente]: "Você não quer<br />

começar a tecer o pára-que<strong>da</strong>s quando estiver prestes a pular do avião. Deseja ter feito isso de manhã, de tarde e<br />

de noite, todos os dias. Então, quando precisar, ele poderá realmente segurá-lo". O pior momento para pensar na<br />

<strong>dor</strong> é, de fato, quando você está sentindo seus golpes, porque a <strong>dor</strong> destrói a objetivi<strong>da</strong>de. Fiz a maioria dos meus<br />

preparativos para a <strong>dor</strong> enquanto estava saudável e o que aprendi ajudou a preparar-me para novas embosca<strong>da</strong>s.<br />

Reconheci pela primeira vez o valor <strong>da</strong> <strong>dádiva</strong> <strong>da</strong> <strong>dor</strong> quando tratava de pacientes leprosos na Índia. Mais tarde<br />

tentei transmitir esse conceito para meus seis filhos. É possível ensinar uma criança a apreciar a <strong>dor</strong>? Fiquei em<br />

dúvi<strong>da</strong>. Depois de algumas tentativas fracassa<strong>da</strong>s, concluí que uma criança de cinco anos gritando em pânico à<br />

vista do seu próprio sangue não é receptiva a essa mensagem. Meus filhos pareciam muito mais abertos a uma<br />

lição objetiva quando eu era a vítima de cortes e arranhões.<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 135

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