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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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mais tecido. Uma infecção pode estabelecer-se. Se não for trata<strong>da</strong>, essa infecção pode alastrar-se até o osso, onde<br />

não irá sarar se não for feito repouso completo. Ao estu<strong>da</strong>r uma sucessão de radiografias, aprendemos como uma<br />

infecção profun<strong>da</strong> pode ser perniciosa: fragmentos de ossos se destacam e são expulsos com as secreções dos<br />

ferimentos até que a infecção leve eventualmente à per<strong>da</strong> de dedos ou até do pé inteiro. Todo esse tempo, o<br />

paciente de lepra talvez continue an<strong>da</strong>ndo sobre o ferimento, sem manquejar de modo algum.<br />

Havíamos resolvido o mistério <strong>da</strong> falta de dedos — eles são destruídos, pouco a pouco, por causa <strong>da</strong> infecção —,<br />

mas como quebrar o ciclo? Para combater o problema do estresse repetitivo sobre os pés insensíveis, tínhamos de<br />

nos tornar experts em sapatos. Partindo do zero, testei centenas de modelos, experimentando-os numa rota<br />

regular, an<strong>da</strong>ndo do hospital até a estação ferroviária. Precisávamos de um material macio que se a<strong>da</strong>ptasse à<br />

forma do pé do paciente e distribuísse o esforço por uma área ampla, combinado com uma sola firme que<br />

impedisse que o pé do paciente dobrasse. Experimentamos ataduras de gesso, solas de madeira fina e sapatos<br />

plásticos fabricados com moldes de cera. Viajei a Calcutá para aprender como misturar cloreto de polivinil e para<br />

a Inglaterra para testar plásticos pulverizados. Finalmente encontramos a combinação certa: uma plataforma de<br />

borracha microcelular, uma firme barra "oscilante" [com movimento de balanço], que serviria para dirigir o an<strong>da</strong>r,<br />

e uma entressola de couro sob medi<strong>da</strong>. Sa<strong>da</strong>n foi um dos primeiros pacientes a ganhar sapatos novos feitos sob<br />

medi<strong>da</strong> para seus pés curtos e grossos.<br />

O apoio a esse projeto veio de várias fontes, inclusive a Madras Rubber Company e a Bata Shoes. Com o tempo<br />

construímos nossa própria fábrica de borracha microcelular e empregamos meia dúzia de aprendizes de sapateiro<br />

numa oficina perto de Vellore. Perseveramos porque sabíamos que podíamos beneficiar muito mais leprosos<br />

treinando alguns bons sapateiros para aju<strong>da</strong>r a prevenir deformi<strong>da</strong>des do que ensinando um grande número de<br />

cirurgiões ortopédicos a corrigi-las.<br />

SINAIS DAS MÃOS<br />

Quando ain<strong>da</strong> solucionávamos o problema <strong>da</strong>s feri<strong>da</strong>s dos pés, um problema potencialmente devasta<strong>dor</strong> apareceu<br />

entre nossos primeiros pacientes de cirurgia de mãos. Alguns voltaram à clínica com a notícia desanima<strong>dor</strong>a de<br />

que seus dedos novos móveis estavam encurtando. Embaraçados, porque sabiam quanto tempo e esforço tínhamos<br />

dedicado à Uni<strong>da</strong>de de Pesquisa de Mãos, eles admitiram que seus dedos estavam desenvolvendo feri<strong>da</strong>s e úlceras<br />

a um ritmo muito mais rápido do que antes <strong>da</strong> cirurgia.<br />

Meu coração partiu-se quando examinei aquelas mãos recém-machuca<strong>da</strong>s.<br />

— Não perca tempo com a lepra, Paul — meus colegas haviam me avisado.<br />

Talvez estivessem certos. Havíamos feito muito progresso nas técnicas cirúrgicas; mas, de que valia uma mão<br />

repara<strong>da</strong> se o paciente acabava por destruí-la? Fizemos curativos nas feri<strong>da</strong>s e as enrolamos em gesso calcinado.<br />

Meses mais tarde os mesmos pacientes voltaram com novos sinais de <strong>da</strong>nos no tecido.<br />

O padrão me intrigou durante meses e ameaçou arruinar todo o nosso programa de tratamento <strong>da</strong> lepra. Antes de<br />

continuar, era necessário descobrir a causa dos problemas <strong>da</strong> mão, assim como fizéramos com os pés. Decidi<br />

passar muito mais tempo com os pacientes cirúrgicos reabilitados, a fim de observar sua rotina normal. Muitos<br />

dos adolescentes que haviam passado pela cirurgia moravam agora numa aldeia improvisa<strong>da</strong> de cabanas de barro<br />

com teto de palha, perto de Vellore. Pedimos aos meninos, cerca de 25, que nos aju<strong>da</strong>ssem a descobrir o mistério<br />

dos ferimentos espontâneos.<br />

Em primeiro lugar fiz uma pesquisa básica, desenhando o traçado <strong>da</strong>s mãos dos meninos num pe<strong>da</strong>ço de papel e<br />

marcando ca<strong>da</strong> cicatriz ou sinal de <strong>da</strong>no nos dedos. Durante semanas e até meses, eu os visitei quase todos os<br />

dias, examinando e medindo as mãos, observando-os trabalhar, estu<strong>da</strong>ndo ca<strong>da</strong> pequena anormali<strong>da</strong>de. Não levou<br />

muito tempo para entender como os meninos que conseguiam ficar livres de <strong>da</strong>nos antes <strong>da</strong> cirurgia tinham mais<br />

problemas depois dela. Com a nova mobili<strong>da</strong>de e força em suas mãos, estavam mais aptos a trabalhar arduamente<br />

e deste modo enfrentar mais riscos.<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 78

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