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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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A Índia é afortuna<strong>da</strong> por ter a comuni<strong>da</strong>de embuti<strong>da</strong> na estrutura familiar, um sistema que não pode e<br />

provavelmente não deve ser imposto a uma socie<strong>da</strong>de muito diversa no ocidente. To<strong>da</strong>via, temos muita coisa a<br />

aprender com seu exemplo de uma comuni<strong>da</strong>de maior absorvendo o impacto <strong>da</strong> <strong>dor</strong>. Vi algo comparável acontecer<br />

em Londres durante a guerra, quando to<strong>da</strong> uma ci<strong>da</strong>de se reuniu no propósito comum de aju<strong>da</strong>r as pessoas<br />

que sofriam. Um corpo de voluntários surgiu espontaneamente, formado por aju<strong>da</strong>ntes de enfermagem. As<br />

pessoas começaram a procurar regularmente os vizinhos. Os feridos não eram ocultados, mas honrados. Por que,<br />

então, devemos esperar momentos de emergência antes de formar um senso de comuni<strong>da</strong>de?<br />

Talvez por causa <strong>da</strong> influência indiana, inclino-me a confiar em minha própria família como uma comuni<strong>da</strong>de de<br />

apoio à <strong>dor</strong>. Estou agora me aproximando <strong>da</strong> última fase <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>. Em vez de esperar passivamente por<br />

algum desastre, tenho tentado envolver minha família no que está à frente. O processo começa com minha mulher,<br />

minha companheira há cinco déca<strong>da</strong>s. Margaret está me ensinando algumas <strong>da</strong>s complexi<strong>da</strong>des do cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong><br />

casa que nunca dominei. Eu a ensino a cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s contas, de modo que se eu morrer antes do pagamento do<br />

imposto de ren<strong>da</strong>, ela não fique desarvora<strong>da</strong>. Admito que nós dois nos preocupamos com a possibili<strong>da</strong>de de<br />

depender demais um do outro. E se um de nós tornar-se incontinente? Ou sofrer um derrame e perder as funções<br />

mentais? Margaret sofreu certa vez uma per<strong>da</strong> de memória temporária, mas quase total, depois de uma que<strong>da</strong> grave,<br />

<strong>da</strong>ndo-me uma ideia do que poderá acontecer inespera<strong>da</strong>mente. Juntos, estamos tentando vencer qualquer<br />

sentimento de vergonha em vista <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de virmos a ser dependentes.<br />

Um grupo de apoio pode tornar-se uma comuni<strong>da</strong>de de <strong>dor</strong> compartilha<strong>da</strong>. O mesmo se aplica a uma igreja ou<br />

sinagoga. Margaret e eu podemos precisar de aju<strong>da</strong> em algumas emergências, e sei que posso contar com a<br />

comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> igreja para dividir o fardo. Onde quer que estivéssemos, procuramos e tivemos a felici<strong>da</strong>de de<br />

encontrar uma igreja amorosa. De fato, nossa igreja atual tomou a decisão prudente de iniciar um plano para uma<br />

casa de repouso. Trinta e dois voluntários fizeram um curso de treinamento oferecido por um programa do<br />

hospital local. Enquanto tivermos condições, ca<strong>da</strong> um aju<strong>da</strong>rá os outros. Quando tivermos necessi<strong>da</strong>des, eles nos<br />

aju<strong>da</strong>rão.<br />

O programa <strong>da</strong> casa de repouso alivia parte <strong>da</strong> nossa ansie<strong>da</strong>de nos preparativos para a morte. Preparamos e<br />

assinamos também um "testamento em vi<strong>da</strong>" que estabelece limites estritos sobre o prolongamento artificial <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. A morte é a única certeza <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, é claro. Confio nas palavras do salmista: "Ain<strong>da</strong> que eu ande pelo vale <strong>da</strong><br />

sombra <strong>da</strong> morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo". Aprendi que o melhor meio de afastar meus<br />

temores sobre a doença terminal e sobre a possibili<strong>da</strong>de de grande sofrimento é enfrentá-los antecipa<strong>da</strong>mente,<br />

diante de Deus e junto a uma comuni<strong>da</strong>de que irá compartilhá-los.<br />

Notas<br />

1 Admito que grande parte <strong>da</strong> culpa cabe às instituições médicas. Imagine o dilema ético de um jovem cirurgião, sobrecarregado de dívi<strong>da</strong>s com a escola<br />

de medicina, que analisa as opções de uma paciente. A abor<strong>da</strong>gem mais conserva<strong>dor</strong>a pediria que a paciente assumisse responsabili<strong>da</strong>de pela sua própria<br />

saúde, exercitasse, fizesse fisioterapia, mu<strong>da</strong>sse de dieta, procurasse ajustar seu estilo de vi<strong>da</strong>, aprendesse a viver com um pouco de <strong>dor</strong>. Em troca desses<br />

conselhos, o cirurgião recebe cinquenta dólares pela consulta. A abor<strong>da</strong>gem radical envolve intervenção cirúrgica, admissão ao hospital, e os honorários<br />

do cirurgião chegam talvez a quinhentos dólares.<br />

Um estudo feito por William Kane em 1980 mostrou que os médicos americanos tinham sete vexes mais probabili<strong>da</strong>des do que os <strong>da</strong> Suécia e Grã-<br />

Bretanha de realizar laminectomias lombares para problemas de coluna. Na déca<strong>da</strong> anterior o número total de operações de hérnia de disco nos Estados<br />

Unidos aumentara de quarenta mil para 450 mil.<br />

A "civilização" muitas vezes nos leva a ignorar sinais simples de <strong>dor</strong>. Lembro-me de um comentário dos meus tempos de estu<strong>da</strong>nte no Textbook on<br />

Surgery (Manual de Cirurgia), de Hamilton Bailey. Os cães selvagens, disse ele, não sofrem de aumento <strong>da</strong> próstata, mas os domésticos tendem a ter os<br />

mesmos problemas que os seus donos. Quando os cães (e os humanos) aprendem a ignorar sinais <strong>da</strong> bexiga e esperam horários "mais apropriados" para<br />

aliviar-se, seus corpos pagam pelas consequências.<br />

Do mesmo modo, a civilização torna socialmente difícil para respondermos como deveríamos à necessi<strong>da</strong>de de um movimento intestinal. Perguntamos<br />

pelo "banheiro" e a anfitriã baixa os olhos e aponta para o fim do corre<strong>dor</strong>, enquanto nos desculpamos e saímos furtivamente. Ou, mais grave ain<strong>da</strong>,<br />

podemos adiar até mais tarde o que nossos corpos estão dizendo que devemos fazer agora. Ao chegarmos em casa, o reto, pelo fato de sua mensagem ter<br />

sido ignora<strong>da</strong>, talvez não colabore. O esforço resultante pode acabar em hemorrói<strong>da</strong>s. A maior parte <strong>da</strong> prisão de ventre que as pessoas sofrem quando<br />

idosas é devi<strong>da</strong> 1) à falta de respeito pelos reflexos normais, protelando a ação por razões sociais, ou 2) a uma dieta dependente de alimentos<br />

industrializados e deficientes em volume e fibras.<br />

E uma distorção imaginar o ser humano como uma geringonça vacilante, falível,<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 146

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