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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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tentou abrir a sandália, mas não conseguiu por causa <strong>da</strong> mão em posição de garra. Ca<strong>da</strong> vez que tentava puxar a<br />

tira <strong>da</strong> sandália entre seu polegar e a palma <strong>da</strong> mão, a fim de libertá-la do fecho, a tira escorregava.<br />

— Paralisia por causa de <strong>da</strong>no nervoso — comentou Cochrane.— É isso o que a doença faz. Paralisia, além<br />

de completa anestesia.Este homem não consegue sentir a tira <strong>da</strong> sandália mais do que o jovem no tear podia sentir<br />

o dedo cortado.<br />

Perguntei ao homem se podia ver sua mão. Ele levantou-se do chão, com a sandália ain<strong>da</strong> presa ao pé, e<br />

apresentou a mão direita. Os dedos tinham o tamanho certo e estavam intactos, mas praticamente inúteis. O<br />

polegar e quatro dedos se curvavam para dentro e se apertavam uns contra os outros na posição que reconheci<br />

como "mão de garra <strong>da</strong> lepra". Enquanto examinava a mão do homem, entretanto, para minha surpresa os dedos<br />

pareciam macios e flexíveis, muito diferentes dos dedos rígidos por causa <strong>da</strong> artrite e outras doenças<br />

incapacitantes. Abri os dedos e coloquei minha mão entre o polegar e os dedos curvos.<br />

— Aperte — disse eu. — O mais forte que puder.<br />

Prevendo um aperto fraco dos músculos quase paralisados, fiquei espantado ao sentir um choque de <strong>dor</strong> em minha<br />

mão. O homem tinha a força de um atleta! As unhas de seus dedos curvos se cravaram em minha carne como<br />

garras.<br />

— Pare!—-gritei.<br />

Levantei os olhos para ver uma expressão admira<strong>da</strong> no rosto<br />

dele. "Que visitante estranho!", deve ter pensado. "Pede-me que aperte forte e depois grita quando faço isso."<br />

Senti mais do que <strong>dor</strong> naquele momento. Senti um súbito despertamento, um pequeno estímulo elétrico<br />

assinalando o início de uma longa e vasta pesquisa. Tive a sensação intuitiva de estar tropeçando num caminho<br />

que levaria minha vi<strong>da</strong> em uma nova direção. Eu acabara de passar uma manhã deprimente, vendo centenas de<br />

mãos que clamavam por tratamento. Como cirurgião interessado em mãos, eu balançara tristemente a cabeça ao<br />

ver o desperdício, pois até aquele momento eu as julgara permanentemente arruina<strong>da</strong>s. Agora, no aperto <strong>da</strong>do por<br />

aquele homem, tive uma prova de que uma "mão" inútil ocultava músculos vivos e poderosos. Paralisia? Minha<br />

mão ain<strong>da</strong> doía <strong>da</strong>quele aperto.<br />

O olhar in<strong>da</strong>ga<strong>dor</strong> do homem só acentuava o mistério. Até que eu gritasse, ele não tinha ideia de que me<br />

machucara. Perdera o contato sensorial com sua própria mão.<br />

MORTE SORRATEIRA<br />

Aceitei o desafio de Bob Cochrane e, quando voltei a Vellore, verifiquei a literatura sobre os aspectos ortopédicos<br />

<strong>da</strong> lepra. Aprendi que de dez a quinze milhões de pessoas em todo o mundo sofriam do mal. Uma vez que um<br />

terço delas apresentava <strong>da</strong>nos significativos nas mãos e nos pés, a lepra representava provavelmente a maior<br />

causa do aleijão ortopédico. Uma fonte sugeriu que a lepra causava mais paralisia do que to<strong>da</strong>s as outras<br />

enfermi<strong>da</strong>des juntas. Pude, entretanto, encontrar apenas um artigo descrevendo qualquer procedimento cirúrgico<br />

além <strong>da</strong> amputação; o autor desse artigo era Robert Cochrane.<br />

A tarde em Chingleput provocara um interesse que eu não podia ignorar. Senti-me então compelido a estu<strong>da</strong>r<br />

mais profun<strong>da</strong>mente este mal cruel. O padrão <strong>da</strong> paralisia me desconcertava por contrariar ostensivamente minha<br />

experiência anterior sobre ela. O homem <strong>da</strong> sandália conseguia flexionar os dedos para dentro, mas não estendêlos;<br />

podia apertar a minha mão como um torno, mas não separar suficientemente os dedos para segurar um lápis.<br />

Por que apenas uma parte <strong>da</strong> sua mão ficara paralisa<strong>da</strong>? Como ponto de parti<strong>da</strong>, eu precisava determinar qual dos<br />

três nervos principais <strong>da</strong> mão era o responsável pela paralisia parcial.<br />

Comecei a fazer uma visita semanal a Chingleput. To<strong>da</strong>s as quintas-feiras, depois <strong>da</strong>s ron<strong>da</strong>s de rotina no<br />

hospital, eu pegava o trem <strong>da</strong> tarde que partia de Vellore e alugava depois uma carroça puxa<strong>da</strong> a cavalo para<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 59

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