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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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plástica que pudesse ajudá-lo. Os japoneses haviam desenvolvido procedimentos para transplantar fios de cabelos<br />

individuais, folículo por folículo, como plantas novas num arrozal. Outro procedimento, que requeria menos<br />

tempo, envolvia a transferência de pe<strong>da</strong>ços do couro cabeludo na forma de sobrancelhas para um novo local. Se<br />

tivéssemos sucesso em preservar o suprimento de sangue, o transplante garantiria a Kumar sobrancelhas cerra<strong>da</strong>s<br />

— tão grossas quanto o cabelo preto e espesso em sua cabeça. Expliquei o processo e ele concordou<br />

entusiasmado.<br />

O problema era encontrar um pe<strong>da</strong>ço de couro cabeludo ligado a vasos sanguíneos suficientemente longos para<br />

chegar até a altura <strong>da</strong>s sobrancelhas. Antes <strong>da</strong> cirurgia cortei o cabelo de Kumar bem curto e mandei que corresse.<br />

Quinze minutos mais tarde, quando subiu as esca<strong>da</strong>s do consultório, seu coração batia apressado e pude ver as<br />

artérias pulsando sob o couro cabeludo. Usando um marca<strong>dor</strong>, tracei o contorno <strong>da</strong> artéria temporal, escolhi<br />

alguns ramos longos e desenhei duas formas largas e grossas de sobrancelhas, uma de ca<strong>da</strong> lado de sua cabeça<br />

raspa<strong>da</strong>.<br />

No dia seguinte, Kumar estava deitado na mesa de operação. Cortei as formas de sobrancelha que havia marcado<br />

e as soltei do couro cabeludo. Ain<strong>da</strong> liga<strong>da</strong>s a uma artéria e veia, elas pendiam como dois ratos pendurados pela<br />

cau<strong>da</strong>. A seguir removi a pele onde se encontravam suas antigas sobrancelhas e fiz túneis sob a pele de ca<strong>da</strong> uma<br />

delas na direção <strong>da</strong> abertura no couro cabeludo. Usando fórceps compridos entrei pelo túnel, agarrei as seções<br />

pendentes do couro cabeludo e cui<strong>da</strong>dosamente as puxei até suas novas posições, acima dos olhos de Kumar.<br />

Depois de transplanta<strong>da</strong>s, as seções pareciam tão grandes que fiquei tentado a apará-las um pouco, mas temi<br />

cortar as artérias curvas que manteriam vivas as novas sobrancelhas.<br />

Não precisava ter-me preocupado com o tamanho delas. Desde o instante em que seus curativos foram removidos,<br />

Kumar deliciou-se com as novas sobrancelhas. Quando os pêlos começaram a crescer e não pararam mais, sua<br />

alegria aumentou. Quando expliquei que teria de apará-las, caso contrário cresceriam corno um cabelo no couro<br />

cabeludo, Kumar insistiu que as queria compri<strong>da</strong>s. Antes de deixar Vellore, sobrancelhas cerra<strong>da</strong>s pendiam sobre<br />

os seus olhos.<br />

E claro que Kumar acabou aparando as sobrancelhas, mas na sua aldeia natal a própria exuberância delas causou<br />

sensação. Antigos fregueses se alinharam para vê-las e desta vez quando lhes mostrou seu certificado de cura <strong>da</strong><br />

lepra, eles acreditaram.<br />

NARIZES<br />

Nossa experiência com as sobrancelhas de Kumar abriu uma área inteiramente nova para a cirurgia corretiva: o<br />

rosto. A seguir nos confrontamos com narizes. Espaços vazios de sobrancelhas eram um problema menor se<br />

comparados com os narizes "em forma de sela" que desfiguravam muitos pacientes.<br />

Como os bacilos <strong>da</strong> lepra preferem áreas frias, o nariz se torna um importante campo de batalha. A reação do<br />

corpo aos invasores provoca inflamação, a qual, se persistir, pode bloquear as vias aéreas. Com o tempo o<br />

revestimento mucoso fica ulcerado por infecções secundárias e o nariz pode encolher até quase seu desaparecimento<br />

total. A ponte eleva<strong>da</strong> de cartilagem some, deixando um pe<strong>da</strong>ço de pele destruído e duas narinas que<br />

se abrem diretamente para fora. E no mínimo desconcertante olhar para a fisionomia de uma pessoa com lepra e<br />

ver as cavi<strong>da</strong>des nasais.<br />

Todos na Índia reconheciam o nariz arruinado como um sinal de lepra — alguns acreditavam que o nariz<br />

"apodrecia" como os dedos dos pés e <strong>da</strong>s mãos —, e qualquer indivíduo com esse problema enfrentava uma vi<strong>da</strong><br />

de estigma e ostracismo. Uma mulher com um nariz assim não tinha esperanças de se casar, mesmo com um<br />

certificado negativo de lepra e sem quaisquer outras marcas <strong>da</strong> doença.<br />

A medi<strong>da</strong> que mais pacientes com deformi<strong>da</strong>des faciais chegavam à nossa clínica, senti-me grato por ter sido<br />

exposto à cirurgia plástica durante os dias de guerra em Londres. Um dos pioneiros nesse campo, sir Archibald<br />

Mclndoe, havia obtido fama nacional na Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial por seus esforços heróicos na reconstrução <strong>da</strong>s<br />

faces arruina<strong>da</strong>s de pilotos <strong>da</strong> Real Força Aérea. Fiz uma série de estudos de acompanhamento sobre alguns<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 89

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