A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>da</strong> China por causa <strong>da</strong> revolução maoísta, havia reservado uma passagem de Hong Kong para sua terra natal, a<br />
Inglaterra. Pouco antes de partir, ouviu que um ortopedista na Índia estava fazendo um trabalho experimental com<br />
pacientes de lepra. Na mesma hora, mudou seus planos e foi para Vellore. Ruth instalou uma uni<strong>da</strong>de de<br />
fisioterapia em nossa clínica, equipando-a com aparelhos para tratamento com parafina aqueci<strong>da</strong> e estímulo<br />
elétrico dos músculos. Ela foi uma pioneira, uma <strong>da</strong>s primeiras fisioterapeutas do mundo a trabalhar com<br />
leprosos.<br />
Ruth acreditava que a massagem vigorosa de mão contra mão aju<strong>da</strong>ria a impedir a rigidez <strong>da</strong>s mesmas. Todos os<br />
dias ela ficava senta<strong>da</strong> num canto acariciando, acariciando, acariciando as mãos dos pacientes de lepra.<br />
— Ruth, isso é contato íntimo de pele com pele! — eu a advertia.— Você deveria usar luvas.<br />
Ela sorria, dizia que sim com a cabeça, e continuava afagando. Ruth Thomas alcançou considerável sucesso com<br />
sua simples terapia, cujo sucesso atribuo tanto ao seu dom do toque humano quanto a quaisquer técnicas de<br />
massagem.<br />
Alguns meses depois de abrirmos a uni<strong>da</strong>de, eu estava examinando as mãos de um jovem inteligente, tentando<br />
explicar-lhe em meu tâmil desajeitado que podíamos impedir o progresso <strong>da</strong> doença e talvez restaurar alguns<br />
movimentos <strong>da</strong> sua mão, mas não seria possível fazer muito pelas suas deformi<strong>da</strong>des faciais. Brinquei um pouco,<br />
colocando a mão em seu ombro:<br />
— Seu rosto não é tão feio assim —- disse eu, piscando para ele —, e não vai piorar se tomar o remédio.<br />
Afinal de contas, nós homens não temos de nos preocupar tanto com o rosto. São as mulheres que se afligem com<br />
qualquer mancha ou ruga.<br />
Eu esperava que ele sorrisse em resposta, mas em vez disso começou a soluçar baixinho.<br />
— Eu disse alguma coisa erra<strong>da</strong>? — perguntei à minha assistente em inglês. — Ele me compreendeu mal?<br />
Ela o interrogou em tâmil e contou-me:<br />
— Não, doutor, ele disse que está chorando porque o senhor pôs a mão no ombro dele. Ninguém o tocava há<br />
anos.<br />
O PRIMEIRO CORTE<br />
Decidimos que nosso primeiro grupo-alvo para cirurgia de mão seria de meninos adolescentes. Eles pareciam ter<br />
mais probabili<strong>da</strong>des de beneficiar-se de nossas cirurgias e havia muito mais pacientes do sexo masculino para<br />
selecionar. Uma vez que nenhum ortopedista havia trabalhado com leprosos, eu não tinha manuais específicos ou<br />
estudos de caso a seguir. Senti-me muito solitário, como se tivesse acabado de entrar num país estrangeiro sem<br />
um guia.<br />
A princípio me debrucei sobre o recém-publicado manual de cirurgia de mão escrito por Sterling Bunnell, um<br />
livro destinado a tornar-se um clássico. Consolou-me o fato de Bunnell ter também começado sem treinamento<br />
especial nesse campo. Ele se especializara em ginecologia antes <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, quando foi<br />
designado para o Corpo Médico. No campo de batalha, encontrou casos de paralisia <strong>da</strong> mão causados por<br />
ferimentos de balas. Bunnell não tinha ideia de quais procedimentos eram apropriados e inventou então suas<br />
próprias técnicas, que lhe deram a reputação de "pai <strong>da</strong> cirurgia de mão". Para tratar a paralisia resultante de<br />
<strong>da</strong>nos no nervo ulnar, por exemplo, Bunnell usou músculos e tendões supridos pelo nervo mediano, cortando-os e<br />
levando-os para os novos locais como um substituto para os músculos paralisados. A operação passou a ser<br />
conheci<strong>da</strong> como "Transferência de Tendão Bunnell", e uma ilustração colori<strong>da</strong> desse método aparecia no<br />
frontispício de seu primeiro livro sobre cirurgia de mão.<br />
Embora meu treinamento como cirurgião-geral me conferisse pouco conhecimento direto dos mecanismos <strong>da</strong><br />
mão, pelo menos meu passado em obras de construção me fornecia um fun<strong>da</strong>mento sólido em engenharia. Na<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 68