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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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pesquisa<strong>dor</strong>es que se seguiram a Lewis iriam refinar ain<strong>da</strong> mais seus testes nessa área, usando novas técnicas, tais<br />

como on<strong>da</strong>s sonoras de alta frequência, luzes ultravioleta, arames de cobre super-resfriados e gera<strong>dor</strong>es<br />

repetitivos de faíscas, mas todos confirmaram essencialmente as descobertas feitas por Lewis durante aquele<br />

período de guerra. Devo admitir, no entanto, que parecia levemente estranho ficar sentado num laboratório<br />

infligindo <strong>dor</strong> em nós mesmos enquanto outros ci<strong>da</strong>dãos a recebiam de maneira absolutamente involuntária por<br />

meio dos bombardeiros alemães.<br />

Só para variar, nós, voluntários isquêmicos, também experimentamos <strong>dor</strong> cutânea e <strong>dor</strong> visceral. Para testar a <strong>dor</strong><br />

cutânea, Lewis usou a rede de pele entre o polegar e o dedo indica<strong>dor</strong>, uma vez que a anatomia ali, constituí<strong>da</strong> de<br />

pele dobra<strong>da</strong> sobre pele, garantiria <strong>dor</strong> cutânea de puríssima quali<strong>da</strong>de. Ele prendeu a rede de pele do polegar em<br />

um torno-miniatura calibrado, e a ca<strong>da</strong> volta <strong>da</strong> rosca respondíamos com um número de um a dez, quantificando a<br />

<strong>dor</strong>. Essa <strong>dor</strong> induzi<strong>da</strong> por pressão causava uma sensação distinta de "queimação", enquanto os testes com<br />

alfinetes e cer<strong>da</strong>s de javali produziam uma <strong>dor</strong> de "ferroa<strong>da</strong>". Lewis descobriu que as cobaias ven<strong>da</strong><strong>da</strong>s não<br />

podiam distinguir entre os tipos de <strong>dor</strong> causados por pontas agu<strong>da</strong>s, puxões de cabelo, calor, correntes elétricas ou<br />

venenos irritantes: to<strong>da</strong>s as <strong>dor</strong>es de ferroa<strong>da</strong> pareciam iguais.<br />

Das três categorias de <strong>dor</strong> de Lewis, achei a <strong>dor</strong> visceral a mais fascinante. Esse tipo de <strong>dor</strong> mais lento, menos<br />

localizado, adverte de problemas nas profundezas do corpo. Aprendi que órgãos internos, tais como o estômago e<br />

os intestinos, têm um suprimento escasso de sensores de <strong>dor</strong>. (Essa escassez é que torna as úlceras gástricas<br />

perigosas: o ácido pode destruir o revestimento do estômago antes que o paciente note quaisquer efeitos<br />

secundários.) O cirurgião usa anestésicos principalmente para ultrapassar a barreira de pele. Corte o intestino com<br />

uma faca, queime-o com um bisturi elétrico ou aperte-o com o fórceps e o paciente na<strong>da</strong> sentirá. Tempos depois<br />

tratei de um homem na Índia que havia sido chifrado por um touro: ele ficou sentado calmamente na sala de<br />

espera, segurando os intestinos num pe<strong>da</strong>ço de pano, como um embrulho de uma loja, sem qualquer indício de <strong>dor</strong><br />

visceral.<br />

Porém, o estômago e o intestino possuem extraordinária sensibili<strong>da</strong>de a um tipo específico de <strong>dor</strong>, a <strong>dor</strong> <strong>da</strong><br />

distensão. Os voluntários de Tommy Lewis engoliam corajosamente um tubo armado com um balão na<br />

extremi<strong>da</strong>de. Uma vez que o tubo passasse do estômago para o intestino, Lewis começava a soprar o balão. Dentro<br />

de alguns segundos os voluntários resmungavam e faziam gestos aflitos para que ele parasse. Estavam<br />

experimentando uma <strong>da</strong>s <strong>dor</strong>es mais agu<strong>da</strong>s que o corpo humano conhece: a <strong>dor</strong> <strong>da</strong> cólica, que resulta quando<br />

alguma coisa tenta passar através de uma abertura pequena demais, esteja ela nos rins, na bexiga ou no intestino.<br />

Os órgãos internos possuem células nervosas que reagem aos principais perigos que provavelmente irão<br />

confrontar; o corpo econômico considera redun<strong>da</strong>nte fazer com que eles avisem, por exemplo, sobre um corte<br />

quando os sensores <strong>da</strong> pele li<strong>da</strong>m muito bem com essa tarefa.<br />

Enquanto aprendia sobre a <strong>dor</strong> em primeira mão nas experiências de Tommy Lewis, eu também comecei a<br />

pesquisar formalmente o assunto nas bibliotecas. A fascinante complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> rede de <strong>dor</strong> me surpreendeu.<br />

Comecei a estu<strong>da</strong>r a <strong>dor</strong> por simples curiosi<strong>da</strong>de, não tendo ideia de que estava preparando um fun<strong>da</strong>mento para o<br />

trabalho de minha vi<strong>da</strong>. Terminei essa primeira pesquisa com um senso permanente de reverência e<br />

agradecimento a essa sensação que a maioria <strong>da</strong>s pessoas vê com ressentimento.<br />

O corpo tem milhões de sensores nervosos, que não são distribuídos ao acaso, mas exatamente de acordo com a<br />

necessi<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> parte. Uma bati<strong>da</strong> leve no pé passa despercebi<strong>da</strong>, na virilha provoca <strong>dor</strong>, e no olho causa<br />

angústia. As estatísticas do cientista alemão Max von Frey sobre a <strong>dor</strong> cutânea mostram claramente a diferença:<br />

são necessários 0,2 grama de pressão por milímetro quadrado para que a córnea do olho sinta <strong>dor</strong>, em comparação<br />

com vinte gramas no antebraço, duzentos na sola do pé e trezentos na ponta dos dedos.<br />

O olho é mil vezes mais sensível à <strong>dor</strong> do que a sola do pé porque enfrenta riscos peculiares. A visão requer que o<br />

olho seja transparente, limitando assim o número de vasos sanguíneos (opacos) imediatamente disponíveis.<br />

Qualquer intruso, até mesmo uma partícula de sujeira ou fio de fibra de vidro, representa uma ameaça, porque<br />

com seu suprimento limitado de sangue, o olho não pode curar facilmente a si mesmo. Para proteger-se, o olho<br />

tem uma reação tão rápi<strong>da</strong> que virtualmente qualquer coisa que toque nele provoca <strong>dor</strong> e atrapalha o reflexo do<br />

pestanejar.<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 43

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