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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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Os treina<strong>dor</strong>es dos esportistas profissionais se empenham em eliminar os sinais de <strong>dor</strong>. Os joga<strong>dor</strong>es de futebol<br />

machucados vão para o vestiário receber uma injeção de analgésico, depois voltam ao campo com um dedo ou<br />

costela quebrado envolto em faixas. Num jogo de basquete <strong>da</strong> NBA foi pedido a um joga<strong>dor</strong> famoso, Bob Gross,<br />

que jogasse apesar do tornozelo bastante prejudicado. O médico <strong>da</strong> equipe injetou Marcaine, um analgésico forte,<br />

em três lugares diferentes do pé de Gross. Durante o jogo, enquanto ele disputava um rebote, um estalo forte fezse<br />

ouvir em todo o estádio. Por não sentir <strong>dor</strong>, Gross atravessou a quadra duas vezes e depois tombou<br />

pesa<strong>da</strong>mente no chão. Embora alheio à <strong>dor</strong>, um osso do seu tornozelo havia quebrado. Ao interromper o sistema<br />

de alarme <strong>da</strong> <strong>dor</strong>, Gross ficou propenso a um acidente que provocou <strong>da</strong>no definitivo e acabou prematuramente<br />

com a sua carreira no basquete.<br />

O segundo exemplo foi extraído de uma visita que fiz na déca<strong>da</strong> de 1960 ao dr. John Boswick, uma autori<strong>da</strong>de em<br />

ulceração causa<strong>da</strong> pelo frio intenso, no Cook County Hospital de Chicago. Ele me levou a uma grande enfermaria<br />

onde 37 vítimas desse mal estavam deita<strong>da</strong>s, com os lençóis puxados para expor 74 pés enegrecidos. (Ao tratar<br />

dessas ulcerações, os médicos deixam a parte afeta<strong>da</strong> exposta para que possa secar; o corpo em pouco tempo<br />

livra-se do tecido necrosado, que então pode ser removido.) O o<strong>dor</strong> nauseante <strong>da</strong> gangrena pairava no ar. Nunca<br />

antes presenciara uma cena como aquela em parte alguma e fiquei estarrecido.<br />

— Pensei que a ci<strong>da</strong>de de Chicago oferecesse um abrigo para esses sem-teto. — exclamei.<br />

Boswick riu.<br />

— Esses não são sem-teto, Paul! Todos têm acesso a abrigos e alguns pertencem à classe média. Na ver<strong>da</strong>de,<br />

são alcoólatras ou viciados em drogas. Saem de casa e depois <strong>da</strong> farra não sabem mais voltar. Ou talvez alguém os<br />

deixe na porta de casa, mas estão bêbados demais para enfiar a chave na fechadura. Então deitam e <strong>dor</strong>mem no<br />

degrau <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> ou sobre um monte de neve. O álcool embotou to<strong>da</strong> sensação de <strong>dor</strong> e de frio a essa altura, e a<br />

neve parece ótima. E até mesmo agradável. Eles a<strong>dor</strong>mecem e na manhã seguinte a família os encontra no jardim,<br />

<strong>dor</strong>mindo tranquilos. Trato dos <strong>da</strong>nos causados pelas células de <strong>dor</strong> <strong>dor</strong>mentes.Olhe para esses sujeitos — alguns<br />

podem perder um pé inteiro.<br />

Esses dois exemplos servem como um aviso para a socie<strong>da</strong>de moderna, descrevendo extremos do que pode<br />

acontecer quando a <strong>dor</strong> é silencia<strong>da</strong>. Vivi muitos anos entre indivíduos que não sentem <strong>dor</strong>, e eles devem causar<br />

compaixão, e não ser invejados. Em vez de tentar "resolver" a <strong>dor</strong>, eliminando-a, devemos aprender a ouvi-la e<br />

depois a li<strong>da</strong>r com ela. Essa mu<strong>da</strong>nça exigirá uma perspectiva radicalmente nova, que contrarie o otimismo<br />

comum do americano de que ele pode "consertar tudo".<br />

UM SUBSTITUTO MEDÍOCRE<br />

Durante algum tempo dirigi duas clínicas regulares a ca<strong>da</strong> semana, uma em Baton Rouge, frequenta<strong>da</strong><br />

principalmente por pacientes de artrite reumatóide, e outra em Carville, para diabetes e lepra. A artrite reumatóide<br />

é um distúrbio auto-imune em que as juntas incham e inflamam causando <strong>dor</strong>, e o corpo acaba atacando o seu<br />

próprio tecido. Algumas vezes usei pacientes de lepra como lição objetiva para aqueles com artrite reumatóide, no<br />

esforço de convencê-los <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>dor</strong>.<br />

— Olhem para esses pacientes de lepra — disse. — Vocês os invejam? A moléstia que vocês têm é muito mais<br />

destrutiva para o corpo do que a infecção <strong>da</strong> lepra. (Na artrite reumatóide o osso fica poroso e frágil, os<br />

ligamentos se soltam <strong>da</strong>s juntas, os músculos esticam e ficam desalinhados.) To<strong>da</strong>via, olhem para as suas mãos<br />

perfeitas! Todos têm os cinco dedos intactos. Souberam proteger-se muito melhor do que o pessoal que sofre de<br />

lepra — simplesmente porque sentem <strong>dor</strong>. Eles têm ossos e juntas fortes, mas notem os dedos faltantes.<br />

Agradeçam à <strong>dor</strong>. Ela impede que vocês abusem de seus dedos.<br />

Minhas admoestações caíam em ouvidos moucos. Os pacientes de artrite reumatóide nem sempre agradecem pela<br />

<strong>dor</strong> que poupa suas mãos e pés; em vez disso, suplicam para que o médico os livre dela. Alguns, em busca de<br />

alívio, tomam esteróides em doses tão maciças que seus ossos se descalcificam e os nós dos dedos oscilam, sem<br />

juntas. Uma paciente acima do peso, acama<strong>da</strong>, tomou tantos esteróides que quando finalmente se aventurou a<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 120

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