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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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tanto tempo, eles agora se viam como tais.<br />

A BARREIRA DD MEDO<br />

Quando comecei a tratar pacientes de lepra, tive de confrontar meu próprio preconceito e medo profundos. Os<br />

pacientes apresentavam as mais horríveis e purulentas feri<strong>da</strong>s para tratamento, e muitas vezes o o<strong>dor</strong> pungente do<br />

pus e <strong>da</strong> gangrena enchia o depósito. Embora eu tivesse ouvido as afirmações de Bob Cochrane garantindo o<br />

baixo índice de contágio, como a maioria <strong>da</strong>s pessoas que trabalhava com a lepra naquela época, eu me<br />

preocupava constantemente com a infecção. Comecei a fazer um mapa de minhas mãos. Sempre que me picava<br />

acidentalmente numa cirurgia, com uma agulha ou com a extremi<strong>da</strong>de agu<strong>da</strong> de um osso, marcava o local <strong>da</strong><br />

feri<strong>da</strong> no mapa, anotando a hora e o nome do paciente que estivera tratando para que se viesse a contrair lepra,<br />

pudesse encontrar a fonte. Abandonei essa política depois que o total de pica<strong>da</strong>s, cortes e arranhões chegou a<br />

treze.<br />

Minha esposa, Margaret, ajudou-me a vencer o medo do contato mais próximo. Certo fim de semana em que eu<br />

estava ausente, um riquixá parou em nossa casa no campus <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de de medicina. Dele saiu um homem<br />

magro, de vinte e poucos anos. Margaret foi recebê-lo. Ela notou que seus sapatos eram abertos na frente e que<br />

seus pés estavam completamente enfaixados. Cicatrizes brancas cobriam grande parte <strong>da</strong> superfície de um olho e<br />

ele procurava manter a vista baixa para evitar o clarão do sol.<br />

— Perdoe-me, senhora — disse o homem respeitosamente —, poderia dizer-me onde posso encontrar o<br />

doutor Paul Brand?<br />

Margaret respondeu que o dr. Brand, seu marido, não voltaria antes de terça-feira, <strong>da</strong>li a três dias. Evidentemente<br />

desapontado, o homem agradeceu e voltou-se para ir embora. Seu riquixá já tinha partido e ele começou então a<br />

voltar para a ci<strong>da</strong>de com passos desajeitados, manquejando.<br />

Minha esposa, que tem um coração de ouro, não pôde suportar virar as costas para alguém necessitado. Ela o<br />

chamou de volta.<br />

— Você tem para onde ir, não é? — perguntou.<br />

Foi necessário um pouco de persuasão, mas após alguns minutos Margaret conseguiu extrair a história de Sa<strong>da</strong>n,<br />

uma história bem típica de rejeição e abuso. Ele notara as manchas na pele aos oito anos de i<strong>da</strong>de. Expulso <strong>da</strong><br />

escola, se tornara um pária. Seus antigos amigos atravessavam a rua para evitá-lo. Os restaurantes e lojas se<br />

recusavam a servi-lo. Depois de seis anos perdidos, ele encontrou finalmente uma escola missionária que o<br />

aceitou, mas mesmo com um diploma ninguém quis <strong>da</strong>r-lhe emprego. Tinha conseguido juntar dinheiro para a<br />

passagem de trem até Veliore. Uma vez ali, porém, o motorista do ônibus público impediu que subisse no veículo.<br />

Sa<strong>da</strong>n gastara então todo o dinheiro que lhe restava para alugar o riquixá que o transportara até a facul<strong>da</strong>de de<br />

medicina. Não, ele não tinha para onde ir. Mesmo que um hotel o recebesse, não podia pagar pelo quarto.<br />

Num ímpeto, Margaret convidou-o a <strong>dor</strong>mir em nossa varan<strong>da</strong>. Ela arranjou um leito confortável para ele, e o<br />

rapaz passou três noites ali até a minha volta. Admito com certa vergonha que não reagi bem quando as crianças<br />

vieram correndo contar-me sobre o nosso novo hóspede, um simpático rapaz leproso. Nossos filhos tinham sido<br />

expostos à doença? Margaret só ofereceu esta pequena explicação:<br />

— Mas, Paul, ele não tinha para onde ir.<br />

Um pouco mais tarde, ela contou-me que naquela manhã havia lido a passagem do Novo Testamento em que<br />

Jesus disse: "Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de bebêr; era forasteiro, e me<br />

hospe<strong>da</strong>stes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes" (Mt 25:35-36). Nesse estado de espírito, ela<br />

convi<strong>da</strong>ra Sa<strong>da</strong>n para entrar em nossa casa, uma decisão pela qual agora sou eternamente grato. Além de ensinarnos<br />

sobre nossos temores exagerados, Sa<strong>da</strong>n tornou-se um de nossos amigos mais queridos.<br />

Uma missionária fisioterapeuta, Ruth Thomas, nos ajudou a superar a barreira do medo. Ela fugira recentemente<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 67

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