A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode
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Num círculo vicioso, os nervos morrem devido aos problemas metabólicos <strong>da</strong> diabetes, 1 os pés se ferem por causa<br />
<strong>da</strong> falta de <strong>dor</strong> e os ferimentos resultantes não se curam facilmente porque o paciente continua an<strong>da</strong>ndo sobre eles.<br />
É ver<strong>da</strong>de que o suprimento sanguíneo reduzido causado pela diabetes complica a cura, mas concluí que o pé<br />
diabético típico possui suprimento sanguíneo abun<strong>da</strong>nte para controlar a infecção e curar os ferimentos, desde que<br />
seja protegido de novos estresses.<br />
Recapitulei para o Clube do Açúcar nossa longa história sobre o acompanhamento de ferimentos similares entre<br />
os pacientes leprosos na Índia e depois resumi nossas descobertas em Carville sobre estresse repetitivo e<br />
constante.<br />
— Examinei as radiografias dos diabéticos — disse a eles —, e, francamente, acho que a maioria dos ferimentos<br />
nos pés que vocês encontram são evitáveis. Essas lesões são causa<strong>da</strong>s por estresse mecânico que não é notado<br />
porque o paciente perdeu a sensação de <strong>dor</strong>. An<strong>da</strong>r sobre os pés feridos aprofun<strong>da</strong> a infecção de modo a atingir<br />
ossos e juntas, e com o an<strong>da</strong>r contínuo, os ossos são absorvidos e as juntas se deslocam. Descobrimos com nossos<br />
pacientes de lepra que repousar o pé machucado numa atadura de gesso rígi<strong>da</strong> acelera a recuperação. Prover<br />
sapatos adequados para os pés do paciente irá evitar novos ferimentos. Posso praticamente garantir que os sapatos<br />
certos reduzirão drasticamente o número de problemas que encontramos hoje nos pés de diabéticos.<br />
O presidente do Clube do Açúcar fez alguns comentários depois de minha apresentação.<br />
— Uma palestra fascinante, doutor Brand. Estou certo de que temos muito a aprender com suas experiências em<br />
Carville. Entretanto, o senhor deve reconhecer que os diabéticos possuem certos problemas únicos. Falo<br />
especialmente <strong>da</strong> per<strong>da</strong> vascular. Faltam aos diabéticos as proprie<strong>da</strong>des de cura de seus pacientes de lepra.<br />
Minha mente reportou-se às reuniões de especialistas em lepra onde eu ouvira falar de "carne incurável". Ao que<br />
parecia, onde quer que fosse eu encontrava ceticismo sobre os perigos de longo alcance <strong>da</strong> ausência de <strong>dor</strong>.<br />
Quando retornei a Carville, informei aos médicos locais que nossa clínica de pés ofereceria consultas a quaisquer<br />
de seus pacientes diabéticos com problemas nos pés. Além de testar a sensação, também avaliávamos o<br />
suprimento geral de sangue nos pés. Os pés infeccionados dos diabéticos eram quentes ao toque, e o termógrafo<br />
revelou que as feri<strong>da</strong>s na maioria dos pacientes de diabetes produziam pontos quentes quase com a mesma<br />
regulari<strong>da</strong>de que nos pacientes de lepra. Tal evidência confirmou que grande parte desses pacientes diabéticos<br />
tinha suprimento de sangue suficiente para serem curados.<br />
Os testes de sensibili<strong>da</strong>de verificaram que todos os diabéticos com feri<strong>da</strong>s haviam perdido de fato a sensação:<br />
aqueles com as piores feri<strong>da</strong>s não tinham sensibili<strong>da</strong>de à <strong>dor</strong> na sola dos pés. Além disso, as feri<strong>da</strong>s nos pés<br />
diabéticos tendiam a ocorrer nos mesmos lugares que as dos pacientes de lepra. Parecia claro para nós que a causa<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> era a mesma em ambos os casos, uma interrupção do sistema de <strong>dor</strong>. Na<strong>da</strong> aparentemente<br />
alertava os diabéticos quando cruzavam um limiar de perigo, e eles continuavam a an<strong>da</strong>r sobre o tecido inflamado<br />
e deteriorado, provocando mais <strong>da</strong>nos. Quando testei os diabéticos nas slipper-socks descobri um padrão familiar.<br />
Da mesma forma que os meus pacientes de lepra, eles an<strong>da</strong>vam com um passo invariável, forçando a mesma<br />
superfície do pé continuamente com estresse repetitivo. Eu sabia agora que os diabéticos estavam destruindo os<br />
seus pés pela mesma razão que meus pacientes leprosos: faltava-lhes a sensação de <strong>dor</strong>.<br />
Estudei a literatura médica sobre diabetes. Ela alertava os médicos para esperarem ferimentos e infecção no pé<br />
diabético, frequentemente apontando a falta de circulação como causa. Os cirurgiões supunham que os diabéticos,<br />
com seu suprimento de sangue reduzido, tinham feri<strong>da</strong>s incuráveis. Senti outra on<strong>da</strong> de déjà vu, lembrando dos<br />
argumentos sobre a "carne má" que havia ouvido de alguns médicos na Índia, que eram contra tratar os pacientes<br />
de lepra. Como era prática entre os especialistas em lepra, quando uma feri<strong>da</strong> infeccionava num pé diabético, os<br />
cirurgiões geralmente cortavam a perna abaixo do joelho antes que a gangrena tivesse tempo de espalhar-se.<br />
Fiquei atônito ao ler que os diabéticos estavam sendo submetidos a cem mil amputações por ano, respondendo por<br />
metade de to<strong>da</strong>s as amputações realiza<strong>da</strong>s nos Estados Unidos. Um paciente de mais de 65 anos tinha<br />
praticamente uma chance em dez de amputação do pé. Se as nossas teorias estivessem corretas, dezenas de<br />
milhares de pessoas estavam perdendo seus membros desnecessariamente. Mas como um médico com<br />
A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 115