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A dádiva da dor - Philip Yancey.pdf (1,8 MB) - Webnode

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pacientes, porque a tecnologia não pode fazer certas coisas. Não pode segurar a sua mão, inspirar confiança,<br />

torná-lo parceiro no processo <strong>da</strong> recuperação. Usa<strong>da</strong> sabiamente, a tecnologia deve servir o lado humano <strong>da</strong><br />

medicina: ao manipular fatos e <strong>da</strong>dos, ela pode deixar o médico livre para passar mais tempo com o paciente a fim<br />

de aplicar a sabe<strong>dor</strong>ia compassiva que só pode ser ofereci<strong>da</strong> pela mente humana.<br />

Na superfície, a tarefa do médico pode assemelhar-se à de um engenheiro — ambos reparam partes mecânicas —<br />

mas só na superfície. Tratamos uma pessoa, e não uma coleção de partes, e a pessoa é bem mais do que um corpo<br />

quebrado exigindo reparos. O ser humano, ao contrário de qualquer máquina, contém o que Schweitzer chamou<br />

de "médico interior", a habili<strong>da</strong>de de consertar a si mesmo e afetar conscientemente o processo de cura. Os<br />

melhores médicos são os mais humildes, os que ouvem atentamente o corpo e trabalham para ajudá-lo no que ele<br />

já está fazendo instintivamente por si mesmo. De fato, no gerenciamento <strong>da</strong> <strong>dor</strong> não tenho escolha senão trabalhar<br />

em parceria: a <strong>dor</strong> ocorre "por dentro" do paciente, e só ele pode guiar-me.<br />

Aprendi sobre o gerenciamento <strong>da</strong> <strong>dor</strong> principalmente através <strong>da</strong> cirurgia de mão, na qual os parceiros envolvidos<br />

devem estar em sintonia com a <strong>dor</strong>. Se você machucasse a mão e viesse procurar-me para uma cirurgia, nós dois<br />

iríamos esperar que a <strong>dor</strong> aju<strong>da</strong>sse a dirigir o processo de recuperação. Eu teria condições de reduzir<br />

artificialmente a <strong>dor</strong> antes <strong>da</strong>s sessões de terapia para torná-lo mais confortável, mas se fizesse isso você poderia<br />

(como meus pacientes de lepra) exercitar-se vigorosamente demais e dilacerar os tendões transplantados. Por<br />

outro lado, se evitasse qualquer movimento que causasse a mínima <strong>dor</strong>, sua mão ficaria rígi<strong>da</strong>, pois tecidos<br />

cicatrizados encheriam os espaços e imobilizariam a mão. Juntos, podemos ir até o limiar <strong>da</strong> <strong>dor</strong> e depois<br />

atravessá-lo e passar apenas um pouco além dele. Descobri que a melhor reabilitação acontece se eu puder convencê-lo<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de de que você está fazendo tudo sozinho. Fiz o meu trabalho, rearranjando os músculos e<br />

tendões. Tudo o mais depende de você. Seu corpo terá de reunir os nervos e os vasos sanguíneos que cortei e li<strong>da</strong>r<br />

com o tecido cicatrizante e o colágeno. Liguei os tendões às suas novas posições com pontos delicados; os seus<br />

fibroblastos irão prover conexões fortes e permanentes. Seus músculos medirão as novas tensões e acrescentarão<br />

ou subtrairão pequenas uni<strong>da</strong>des chama<strong>da</strong>s sarcômeros, cobrindo os erros do cirurgião. Seu cérebro terá de<br />

aprender novos programas para coman<strong>da</strong>r os movimentos. A medi<strong>da</strong> que o ferimento sara, é você quem deve<br />

começar a mover a mão. Ela lhe pertence, e só você pode fazê-la funcionar de novo.<br />

Na clínica de Carville dispomos de instrumentos que os pacientes podem usar como um tipo de<br />

biorretroinformação do processo de cura, Ao usar uma son<strong>da</strong> termistor, por exemplo, eles podem monitorar a<br />

mu<strong>da</strong>nça de temperatura <strong>da</strong>s juntas: a temperatura sobe com a ativi<strong>da</strong>de e desce com o repouso, mas permanece<br />

alta se o paciente exercitar-se excessivamente. Informamos aos pacientes quanto inchaço podem esperar, depois<br />

<strong>da</strong>mos a eles uma vasilha com medi<strong>dor</strong> para colocar a mão. O aumento do nível <strong>da</strong> água mostrará se o paciente<br />

fez alguma coisa para causar o inchaço excessivo, até mesmo algo simples, como permitir que a mão machuca<strong>da</strong><br />

pen<strong>da</strong> abaixo <strong>da</strong> cintura. Dessa forma ensinamos os pacientes a tomarem responsabili<strong>da</strong>de pessoal por sua própria<br />

cura mesmo quando tenham perdido o monitor interno <strong>da</strong> <strong>dor</strong>.<br />

Nenhum instrumento pode, porém, medir o que é sem dúvi<strong>da</strong> o fator mais importante na terapia <strong>da</strong> mão: a<br />

vontade do paciente de recuperar-se. A mente, e não as células <strong>da</strong> mão machuca<strong>da</strong>, determinará a extensão final<br />

<strong>da</strong> reabilitação, porque sem forte motivação o paciente simplesmente não suportará as disciplinas <strong>da</strong> recuperação.<br />

Meus pacientes de cirurgia menos favoritos são aqueles envolvidos em litígios como resultado de acidentes de<br />

trabalho. Esses homens e mulheres têm um incentivo poderoso para não recuperarem plenamente o uso <strong>da</strong> mão,<br />

porque uma incapaci<strong>da</strong>de permanente significa uma indenização maior. Seu limiar <strong>da</strong> <strong>dor</strong> parece baixar ca<strong>da</strong> vez<br />

mais até que à primeira ponta<strong>da</strong> de <strong>dor</strong> eles deixam de fazer os exercícios físicos <strong>da</strong> sessão de terapia. Se tiverem<br />

êxito em evitar qualquer <strong>dor</strong>, provavelmente terão uma incapaci<strong>da</strong>de permanente. (Um estudo feito em 1980<br />

mostrou que as pessoas machuca<strong>da</strong>s na Grã-Bretanha em acidentes de trabalho nas indústrias voltavam às suas<br />

ativi<strong>da</strong>des numa proporção 25 por cento mais lenta do que aqueles que sofriam ferimentos comparáveis em<br />

acidentes rodoviários. A razão provável: nesse país os ferimentos por acidentes industriais são muito bem<br />

recompensados, <strong>da</strong>ndo ao paciente menos incentivo para recuperar-se.)<br />

Em contraste, um de meus melhores pacientes foi um presidiário <strong>da</strong> cadeia estadual <strong>da</strong> Louisiana, cuja mão tinha<br />

sido tão <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong> por uma bala que precisei inventar novas técnicas de transferência de tendão durante a<br />

A Dádiva <strong>da</strong> <strong>dor</strong> » 149

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