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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Observamos que neste momento o personagem-título, mesmo felatizando o<br />

rapaz, age como sujeito dentro da perspectiva do desejo. Ele continua predador, e aquele<br />

que caça dentro da nossa cultura é o que se dispõe a dar o primeiro passo em direção ao<br />

objetivo. O barão, ao praticar sexo oral em rapazes, questiona valores construídos<br />

dentro da tradição judaico-cristã patriarcal hegemônica, legitimados como universais.<br />

Ao felatizar um seu igual e o outro, ao deixar-se ser felatizado por um igual, mesmo que<br />

estejam repetindo uma relação vista como reprodutora do binarismo ativo/passivo,<br />

torna-se transgressora por ser praticada entre iguais. Assim, como aponta Lugarinho<br />

(2001, p.166), “entre imputar-lhe o vício e a degradação moral e física definitiva, o<br />

narrador prefere apresentar a cena como grande momento iniciático e lírico, o momento<br />

supremo da trajetória do barão.”<br />

Por outro lado, vemos que já no início do romance, o narrador mostra em<br />

prolepse, que, apesar dos desejos de macho construídos e manifestados pelo barão,<br />

nesse já se mostrava o germe de “pregustar” ser penetrado, desconstruindo, assim, o<br />

mandamento maior da cultura machista que é “sodomizar”. É notório que o narrador<br />

onipresente, na relação entre o barão e Eugênio, nos mostra o desejo ainda não realizado<br />

do barão, mas já latente nele, que era ser femeado. Dentro da ótica construída para os<br />

papeis desempenhados na relação sexual, o narrador, anteriormente, já mostrara que o<br />

barão era casado, frequentara mulheres em bordeis, cumprindo o ritual exigido dele,<br />

dentro dos apelos do patriarcalismo. Mas em sua relação com Eugênio – jogo sexual<br />

entre iguais - outras performances sexuais passam a ser, se não vividas, pelo menos<br />

imaginadas ou desejadas como fonte de prazer pelo barão. O narrador, fechado em seu<br />

ponto de vista adquirido no qual só o penetrador usufrui de prazer, descreve o ato de ser<br />

penetrado como não prazeroso para o possuído. O Barão ao admitir tal fato, como<br />

agente da passiva, é “gozado”.<br />

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Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de<br />

penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a<br />

mulher. Todavia, em raros momentos de vertigem, ao contacto da<br />

sua carne com aqueloutra virilidade impetuosa e fresca, percorrialhe<br />

os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado;<br />

faiscava-lhe no espírito uma pregustação do prazer que tivesse por<br />

base a passividade, o abandono; entrava de supurar-lhe da vontade<br />

uma solicitação em escorço de se entregar, de ser possuído, gozado,<br />

de ser femeado em suma. (BL, 1982, p.92, grifo nosso)

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