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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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permanente, passando da tradição à tradução, em leituras da sexualidade que se<br />

sobrepõem espaço-temporalmente. Mas, não podemos negar que a heteronormatividade,<br />

que se ergue através do binarismo, atrelada a uma postura preconceituosa do poder<br />

patriarcal e burguês ocidental, resiste a mudanças. Contudo, as flutuações identitárias e<br />

de pertencimento, sob diversas outras performances sexuais, que não as naturalizadas,<br />

conseguem mostrar em diversos espaços suas subjetividades, mesmo que muitas vezes<br />

precisem de máscaras para que possam manifestar seu modus vivendi.<br />

As homossexualidades masculinas, um dos focos de nossos estudos nos dois<br />

romances, nos mostram que as questões de gênero não podem ser limitadas pelo sexo<br />

anatômico, demonstrando que as fronteiras impostas pelo binarismo que se impõe ao<br />

sexo estão marcadas por construções culturais. Na verdade, as performances tanto dos<br />

personagens-título como dos personagens secundários nos dois romances demonstram<br />

que os papeis sexuais são pluralíssimos e que, em suas manifestações, estão<br />

presentificados discursos, fantasias, convenções e rituais diversos. Deste modo, “se o<br />

sexo não limita o gênero, então talvez haja gêneros, maneiras de interpretar<br />

culturalmente o corpo sexuado, que não são de forma alguma limitados pela aparente<br />

dualidade do sexo” (BUTLER, 2010, p.163).<br />

Partindo do pressuposto de que o heterocentrismo, naturalizado por meio do<br />

discurso médico-juridico e cultural, devido a/e em defesa do seu caráter reprodutor, se<br />

opondo a homossexualidade patologizada, por não estar a serviço dos interesses do<br />

estado burguês, coloca em xeque a questão binária da divisão dos sexos, é que nos<br />

utilizamos, também, das categorias sexuais problematizadas e multifacetadas para<br />

abordar nossos personagens-título e suas performances. Mesmo que os personagens-<br />

título estejam agindo, segundo os narradores, sob o comando de sua genética<br />

degenerada, eles, em seus espasmos oníricos, introjetam e questionam seu procedimento<br />

sexual afastado do cânone heterocentrista. Gênero e sexo estáveis fazem parte do<br />

discurso hetero-reprodutor que tenta por diversas formas tanto marcar negativamente as<br />

categorias marginalizadas como balizar a sexualidade humana como estanque ou não<br />

mutável sócio-culturalmente. Inferir ou “dar nomes” às categorias marginalizadas quer<br />

nos induzir a acreditar que a heterossexualidade poderia ser algo natural, mas só serve<br />

para fixar o arcabouço que tenta promover o heterocentrismo como algo fundante,<br />

obrigatório e autorizado a falar por outros segmentos, inclusive por aqueles que<br />

preferem amar seus iguais. Contudo “a nomeação do sexo é um ato de dominação e<br />

coerção, um ato performativo institucionalizado que cria e legisla a realidade social pela<br />

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