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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Nos personagens-título dos romances O Barão de Lavos, de Abel Botelho, e<br />

Bom-Crioulo,de Adolfo Caminha, estão espelhadas teorias associadas à raça, Mistura<br />

racial (hibridismo) e dominação colonial, pois estas estavam em voga no século XIX e<br />

eram basilares e sustentáculos para as narrativas naturalistas. Em diversos momentos<br />

dos romances, os narradores, marcados pelos momentos históricos, políticos e<br />

econômicos em que estão situados Portugal e Brasil, e atrelados ao atavismo cultural,<br />

desenvolvem e direcionam seus pontos de vista sobre questões raciais e coloniais. Em O<br />

Barão de Lavos, D. Sebastião, apresenta próximo ao final na narrativa ironicamente sua<br />

genealogia moral da seguinte forma:<br />

139<br />

trago a tatuagem da infâmia. Estava escrito... A genealogia moral<br />

dos meus é edificante... Meu trisavô, inquisidor, era um verdugo e<br />

um místico; meu bisavô, um sodomita incorrigível, morreu aos<br />

dezanove anos, esgotado, tísico; um irmão dele, que foi cardeal,<br />

organizou com tiples castrados da sé e meninos do coro um harém<br />

para seu uso exclusivo; minha avó paterna, espécie de Egéria<br />

debochada e histérica, essa pagava os madrigais e os sonetos com<br />

dormidas, por escala, às noites, no seu leito, à choldra almiscarada<br />

dos seus preciosos turiferários; e meu pai... meu pai foi mignon de<br />

D. João VI... Tudo o mais assim... Ora com tais precedentes, que<br />

querias tu que eu viesse a ser, senão isto que tenho sido – um<br />

escanzelo, um pulha? (BL, 335-336).<br />

Em Bom-Crioulo, a questão do híbrido nos é apresentada tanto pelo<br />

narrador como pela imagem projetada deste mesmo narrador, através da representação<br />

onírica advinda do grumete Aleixo sobre seu ex-amante Amaro:<br />

a figura do negro acompanhava-o a toda parte, a bordo e em terra,<br />

quer ele quisesse quer não, com uma insistência de remorso.<br />

Desejava odiá-lo sinceramente, positivamente, esquecê-lo para<br />

sempre, varrê-lo da imaginação como a um pensamento mau, como<br />

uma obsessão insólita e enervante; mas, debalde! O aspecto<br />

repreensivo do marinheiro estava gravado em seu espírito<br />

indelevelmente; a cada instante lembrava-se da musculatura rija de<br />

Bom-Crioulo, de mau gênio rancoroso e vingativo, de sua natureza<br />

extraordinária – híbrido conjunto de malvadeza e tolerância -, de<br />

seus arrebatamentos, de sua tendência para o crime... (BC, 59).<br />

Assim, torna-se necessário navegar por estas teorias cientificas que<br />

tentavam demonstrar que a raça branca europeia era superior as outras, como modo de<br />

justificar as desigualdades raciais. Ao nos situarmos no tempo e no espaço em que os

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