10.10.2013 Views

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sexualidade, passa ser presentificado na conduta de seu praticante como algo<br />

patológico, anormal. Segundo Foucault, os dois últimos séculos do segundo milênio<br />

“foram, antes de mais nada, a idade da multiplicação: uma dispersão de sexualidades,<br />

um esforço de suas formas absurdas, uma implantação múltipla das “perversões”. Nossa<br />

época foi iniciadora de heterogeneidades sexuais” (FOUCAULT, 1985, p.38). A partir<br />

de então, o homossexual deixou de ser alguém com desejos pelo mesmo sexo e passa a<br />

ser uma categoria, uma espécie nomeada. Espécie que poderia ser diagnosticada por<br />

exames médicos. “Os médicos haviam aprendido a detectar o homossexual, o qual,<br />

entretanto, se escondia. O exame do ânus ou do pênis bastava para desmascará-lo.<br />

Apresentavam deformidades específicas, como os judeus circuncidados” (ARIÈS, 1986,<br />

p.81).<br />

Seguindo este raciocínio, podemos observar as variações de juízo moral pelo<br />

qual passou o comportamento homossexual e suas configurações em diferentes recortes<br />

históricos e em diferentes culturas. Do ponto de vista essencialista, a homossexualidade,<br />

como representação, está situada no rol das práticas sexuais antinaturais, e carrega o<br />

peso de seu papel sexual que é ser estigmatizada negativamente e condenada, já que a<br />

heterossexualidade foi culturalmente legitimada como o natural e universal. A partir<br />

desta lógica, as outras formas de práticas sexuais, que não a heterossexualidade,<br />

tornaram-se desvios e patologias. Contudo, os olhares que recaem sobre a<br />

homogenitalidade nos mostram que estas se manifestam sob conjunto de<br />

regulamentações históricas e culturais alicerçadas no binarismo que tenta regulá-las,<br />

afirmando o que é interdito, o que é permitido socialmente. 10 Deste olhar , “temos,<br />

assim, um fenômeno curioso, qual seja, o de que algo suposto ser meramente biológico<br />

e meramente natural (sexo) sofre modificações quanto ao seu sentido, à sua função e à<br />

sua regulação ao ser deslocado do plano da natureza para o da Sociedade, da Cultura e<br />

da História” (CHAUÍ, 1984, p.10). Na verdade, os diversos caminhos e as diversas<br />

interpretações que perpassam as homossexualidades nas diversas culturas nos fazem<br />

rejeitar a questão essencialista. As masculinidades, como qualquer outra forma de<br />

desejo sexual, não podem ser configurados em modelos pré-determinados, já que é<br />

inerente à condição humana múltiplas performances no campo do exercício do desejo<br />

sexual, ultrapassando até mesmo as imposições sociais, culturais, políticas e históricas.<br />

10 Aqui podemos ver delineado o que se entende por “consciência social”, já que esta serve como juízo de<br />

valores e tem, por conseguinte, um papel crítico sobre os atos e desatos dos homens. A consciência social<br />

é gerida pela sociedade que dita o que pode e não pode ser feito, a não ser que aquele que se afastar das<br />

regras deseje receber sanções.<br />

67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!