10.10.2013 Views

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

147<br />

nas diferentes posições teóricas que se teceram a partir dessas<br />

relações de raças e suas misturas giram em torno de um eixo<br />

ambivalente de desejo e aversão: uma estrutura de atração, na qual<br />

as pessoas e culturas se mesclam e se fundem umas nas outras,<br />

(consequentemente se transformando), e uma estrutura de repulsão,<br />

na qual os diversos elementos permanecem distintos e são postos<br />

uns contra os outros, em forma de diálogo. (YOUNG, 2005, p.24)<br />

Por este motivo, o hibridismo biologizante, que era condenado pelo poder<br />

colonial por influência do discurso dominante, deixa de ser prefigurado como estrutura<br />

de direção única devido às “ambivalências de desejo e atração” de sentido duplo que<br />

perpassam por ele. Cria-se, assim, oportunidade para que apareçam traços da presença<br />

de diálogos entre os pólos supostamente considerados como de oposição. Deste<br />

pressuposto, observamos que algumas correntes sobre o hibridismo apoiadas nestas<br />

discussões começam a problematizar o poder colonial. Isso acontece justamente no<br />

momento em que o discurso do dominado começou a ser introduzido como outro saber<br />

dentro do espaço do saber que se supunha único. A questão sobre as misturas das raças,<br />

deste modo, dentro do campo da alteridade, passa a desequilibrar o poder dominador,<br />

subvertendo valores, resistindo a tradições e originando novas traduções. Essas, por ser<br />

instáveis, exigem sempre a criação de contínuas e novas traduções, fazendo sair da<br />

região das sombras “uma gama de vozes dissonantes e histórias dissonantes, até<br />

dissidentes – mulheres, colonizados, grupos minoritários, os portadores de sexualidades<br />

policiadas” (BHABHA, 2007, p.24).<br />

Ao se falar em hibridismo é necessário ter em mente que dentre as várias<br />

teorias que o estudam e que o sustentam no mundo oitocentista e sobre o qual nos<br />

debruçamos, escolhemos como foco de discussão e análise a heteronormatividade, como<br />

entrave às manifestações do desejo sexual entre as raças e, ao mesmo tempo, como<br />

modo de barrar a miscigenação. Este alinhamento dos estudos do elemento híbrido nos<br />

mostra que sua questão fulcral assenta-se na sexualidade reprodutiva e no controle desta<br />

tanto no ponto de vista biológico como social. Em Portugal, a questão do hibridismo<br />

perpassava também a hierarquia social, associada à exclusão do outro, já que este outro<br />

era visto como “casta” inferior na rígida e conservadora hierarquia social portuguesa. E,<br />

por este motivo, não digna de mistura com a classe superior dos intrépidos navegantes<br />

portugueses, considerados como desbravadores de mundo. Enfim, o híbrido era o outro,<br />

de uma hierarquia social e econômica inferior, colocado em situação desfavorável.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!