10.10.2013 Views

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

nas relações Portugal-Brasil-Portugal tenham sido muito estreitas durante quase<br />

quatrocentos anos, e mesmo depois da independência brasileira. Aquelas propiciaram<br />

uma gama variada de intercâmbio intertextual e muitos dos nossos intelectuais<br />

continuaram a estudar e buscar influências tanto em Portugal, como diretamente na<br />

França. Além disso, as literaturas portuguesa e brasileira “guardam em si um vínculo<br />

placentário, no dizer de Antonio Candido, por se escreverem/falarem em um mesmo<br />

idioma, o que confere à experiência comparatista enorme vitalidade” (FIGUEIREDO,<br />

1998, p.108).<br />

Vale salientar que no final do Oitocentos a literatura brasileira ainda não<br />

havia se emancipado totalmente das influências da literatura portuguesa como também a<br />

portuguesa não estava em sua totalidade fora da órbita dos países centrais da Europa.<br />

Apesar dessas influências, as escolas naturalistas de Portugal e do Brasil se utilizaram<br />

das singularidades que as tornavam diferenciadas em relação aos citados países e<br />

mesmo entre si. De algum modo, devido à grande teia de influência entre os dois países<br />

pareceria que “o comparativismo entre essas literaturas pode até ser tautologia, tendo-se<br />

em vista o grande número de afinidades e semelhanças entre elas” (FIGUEIREDO,<br />

1998, p.111). Na verdade, esta questão do vai-e-vem das influências não segue<br />

enquadrado em caminhos definidos, mas também busca (des)caminhos próprios que as<br />

tornam autônomas. Assim, o especular entre essas literaturas (portuguesa e brasileira)<br />

valerá tanto para o estudo do diálogo que houve entre as literaturas do império e da ex-<br />

colônia no fim do Oitocentos como também para verificar as diferenças advindas das<br />

resistências e do não conformismo às influências das nações colonizadoras mais fortes<br />

militar e econômica. Estes cruzamentos de diálogos estarão à mesa nas análises pontuais<br />

dos romances naturalistas de Abel Botelho e de Adolfo Caminha.<br />

Portugal, no fim do século XIX, pode ser incluído dentro do espaço social,<br />

político, militar e econômico europeu como um país semiperiférico. “Portugal é um país<br />

essencialmente agrícola” (BL, p.237). A realidade é que Portugal, até como centro de<br />

seu próprio império estava colocado em xeque, pois o imperialismo português há muito<br />

deixara de existir de fato, devido a problemas econômicos tanto advindos das proibições<br />

inglesas ao tráfico de escravos, como também devido à perda da ex-colônia (Brasil) que<br />

dava alento a este tráfico e subsidiava economicamente os desmandos da monarquia<br />

portuguesa. Assim, a metrópole portuguesa estava impedida de ter compensações<br />

financeiras e o império português passara a ser apenas uma questão de retórica.<br />

186

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!