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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Caminha nos mostram que “a transgressão é a própria evolução criadora onde a<br />

literatura ocupa espaço tão importante.” (FERREIRA, 2007, p.XIII).<br />

Entretanto, podemos dizer que dentro das hierarquias formuladas no espaço<br />

heteronormativo machista, o homossexual, encontrando-se abaixo de todos os níveis<br />

dos estigmatizados negativamente, era obrigado a dissimular e silenciar seu agir. Ser<br />

nomeado como tal, imputava ser incluído no segmento dos “injuriados dos injuriados”,<br />

pois aquele que está incluído no “índex” como praticante da masculinidade marcada<br />

como não hegemônica pertence a uma categoria degenerada, sendo catalogado pela<br />

ciência do Oitocentos como portador de patologias irreversíveis, por ser antípoda da<br />

heteronormatividade. Este segmento, assim, precisava ser submetido ao controle social<br />

por estar, em suas performances sexuais, além fronteira da disciplina normativa do<br />

heterocentrismo. Deste modo, o praticante da homogenitalidade passa a ser<br />

estigmatizado tanto no espaço público como no particular, pois o mundo exterior é<br />

regido por normas culturalmente advindas da sociedade heterocentrada. Assim, a<br />

família burguesa-patriarcal, como célula-mãe perpetuadora e sustentáculo dessa<br />

ideologia, não poderia agir de modo distinto.<br />

Se os desejos homossexuais são incriminadores é que a família se<br />

conduz de maneira particularmente repressiva a este respeito. A<br />

possibilidade de que um menino venha a ter “tendências” ou um<br />

destino de homossexual é temida como uma calamidade pelos pais e<br />

a roda dos parentes Nos meios populares, os insultos mais graves<br />

dirigidos a um homem são certamente “pederasta”, “bicha”, “fresco”<br />

etc. De acordo com o julgamento comum, o homossexual, longe de<br />

ser um homem, não passa de um impotente – uma mulher.<br />

(FALCONNET; LEFAUCHEUR, 1977, p.109).<br />

Nas narrativas, portuguesa (Botelho) e brasileira (Caminha), em foco,<br />

podemos observar a questão do silêncio e da dissimulação da prática homogenital dos<br />

personagens-título como salvaguardando as adversidades que lhes acometeriam caso<br />

manifestassem abertamente seus comportamentos “desviantes”. Bom-Crioulo e Aleixo<br />

vão conviver na Rua da Misericórdia, microterritório permissivo na Corte brasileira. O<br />

barão mantém um “atelier”, onde jovens vão posar para suas pinturas artísticas; na<br />

verdade, o local era um disfarce para seus encontros amorosos e posteriormente tornou-<br />

se o local onde o barão alojou e cercou seu amante Eugênio de todos os favores. Por<br />

esta explicação, vemos que os praticantes da sexualidade masculina não padronizada<br />

são obrigados a se defender através de mascaramentos ou de “esconderijos”, já que se<br />

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