ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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afetividade e a sexualidade masculina se regionalizam. Por<br />
isso, a sexualidade do “homem hegemônico” é genitalizada,<br />
onde o pênis, através da penetração, atualiza a masculinidade<br />
(MUSSKOPF, 2005, p.84-85)<br />
Na verdade, estes comportamentos, apropriados como basilares para a<br />
manifestação da masculinidade, não funcionam igualmente em todos os homens,<br />
enquanto sujeitos e corpos desejantes, em todas as culturas, em todas as épocas e em<br />
todos os níveis sociais e econômicos. Todas essas vivências de manifestação da<br />
masculinidade vêm acompanhadas tanto de conforto como de desconforto para o<br />
indivíduo masculino, podendo torná-lo tanto algoz como vítima dentro dos arranjos e<br />
das prescrições sociais que lhe são impostas nestas interrelações sociais de gênero. “Já é<br />
tempo, dizem, de os homens compreenderem que o ideal viril custa muito e que a<br />
masculinidade só se tornará menos arriscada quando deixar de ser definida por oposição<br />
à feminilidade” (BADINTER, 1993, p.146). Deste modo, podemos afirmar que<br />
desempenhar papeis sexuais pré-determinados para a masculinidade no jogo das<br />
vivências relacionais entre os gêneros ou mesmo, dentro de um mesmo gênero pode<br />
custar caro, pois coloca em xeque a já combalida, restrita e vigiada liberdade humana.<br />
O conjunto de mandamentos que norteiam a vivência da masculinidade é<br />
algo que impõe um sempre “estar” e “ser” homem, o que passa a ser de capital<br />
importância para o desempenho desse papel. Reproduzir estas vivências é algo afinado<br />
com o comportamento padrão, canônico, que exige do homem suor e sangue. Não<br />
seguir este credo faz com que o indivíduo masculino/heterossexual passe a se sentir<br />
inadequado dentro do modelo proposto. Abdicar desse privilégio pode ser visto como<br />
fracasso pelo estigma da desonra que é imputada àquele que não cumpre as prescrições<br />
cunhadas pela exigência social estabelecida hierarquicamente no regime codificado para<br />
os gêneros. Assim, “esta é a lógica configuradora do discurso da abjeção que circula de<br />
forma legítima entre o senso comum, que torna indignos e desonrados todos os que não<br />
se comportam de acordo com o ideal vigente de masculinidade” (OLIVEIRA, 2004,<br />
p.269). Viver e usufruir daquilo que a sociedade prescreve para o grupo não-marcado<br />
torna-se um imperativo. Por isso, na tentativa manter seu status privilegiado nesta<br />
estrutura de lugares demarcados “todos os homens, de alguma forma, confiscam para si<br />
o valor positivo atribuído aos caracteres identificados com a masculinidade, ainda que<br />
nem todos se comportem seguindo de maneira estrita sua rígida cartilha” (OLIVEIRA,<br />
2004, p.270).<br />
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