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ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...

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Ao aproximar-se do desenlace da obra, o narrador nos indica que a<br />

“degradação” do barão acontece quando ele permite, não mais só no desejo, mas na<br />

prática, ser “efemeado”. Como se no ato de ser penetrado houvesse um a priori que<br />

inferiorizasse o homem em seu suporte de masculinidade. Deste modo, esta cultura<br />

construída e moldada nos privilégios do macho, da qual o narrador é porta-voz, é<br />

problematizada toda vez que o barão, mesmo que seja empurrado por sua genética<br />

degenerada através de seus agires homossexuais, se impõe como sujeito do desejo.<br />

Mesmo que este desejo culmine numa prática sexual desconsiderada dentro dos moldes<br />

da cultura heterossexual burguesa, suas performances desautorizam o poder patriarcal<br />

que tenta impor como degradante qualquer ato que desabone a heteronormatividade.<br />

Assim, a débâcle da virilidade do barão, segundo o ponto de vista do<br />

narrador, acompanha sua descida ao fundo do poço. De passo em passo, o narrador,<br />

seguindo os mandamentos heterocentristas, vai tecendo a derrocada do personagem-<br />

título em função da busca do barão pelo prazer, dantes resguardado. Quanto mais este<br />

busca satisfazer seus desejos “desviantes”, mais ele se afasta do convívio de suas<br />

relações sociais e, ao mesmo tempo, passa a ser considerado um ser abjeto dentro do seu<br />

círculo. Ele desvia-se dos prazeres coercitivos ligados à cultura patriarcal, no qual o<br />

macho deve ser o “possuidor” e, libertando-se deste jugo, torna-se adepto fervoroso de<br />

formas outras de prazer. O Barão, neste “pregustar” e “degustar” ser penetrado,<br />

enquanto livre do assujeitamento, vai em busca da libertação erótica do seu corpo e<br />

passa a usufruir de prazeres outros, através de outras performances no exercício do<br />

desejo.<br />

102<br />

Trágico, com fortes marcas melodramáticas também, pois o modo,<br />

entretanto, com que o narrador nos apresenta aquele instante é<br />

bastante suspensivo e problematizador(...) sem dúvida, nele<br />

encontramos o momento em que, supostamente, o Barão estaria<br />

descendo mais baixo na sua condição moral, entretanto, fica<br />

explícito a consciência de que tal instante é fulcral para o já dito<br />

processo iniciático que o Barão atravessara. Iniciação e degradação<br />

são, certamente, semas que, tradicionalmente, não se coadunam<br />

entre si e, indicam um movimento, apontam em direção opostas!<br />

Aqui, o discurso indireto livre toma a forma mais bem acabada no<br />

romance, e temos, assim, o ponto de vista do barão que suplanta a<br />

voz do narrador(...) (LUGARINHO, 2001, p.166).<br />

Mesmo que o narrador atribua ao homossexual um determinismo genético,<br />

biológico e para seu proceder, seus atos vão em direção oposta ao apregoado pela

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