ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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Agindo assim, o narrador “faz o romance perder em muito a sua estética literária, mas o<br />
coloca como documento intrigante e digno de ser discutido” (LUGARINHO, 2001,<br />
p.165). Poderíamos afirmar que algo análogo ocorre em Bom-Crioulo, de Caminha, nos<br />
momentos em que o narrador romanceia a relação entre Amaro e Aleixo.<br />
Mesmo que o barão não consiga afastar-se de sua condição homossexual,<br />
adquirida geneticamente, segundo o olhar naturalista, podemos observar que aquele,<br />
como indivíduo inserido numa cultura baseada no desejo heterossexual reprodutivo ou<br />
com fins reprodutivos, fica perturbado ao se imaginar pego em deslizes por suas<br />
práticas sexuais heterodoxas, afastada das exigências dos padrões burgueses.<br />
O barão ia se traindo. A súbita aparição daquele par honesto e<br />
simples, caindo de chofre, com toda a galhardia e lúcida expansão<br />
duma vida exemplarmente calma no torvelinho mistério da<br />
alucinação do seu vício, envergonhou-o, aclarou-o a razão, deu-lhe a<br />
medida do próprio aviltamento, e, como um raio de luz faiscando<br />
nas estalactites duma caverna, acordou-lhe na consciência um<br />
repelão de remorsos. Corou, atabalhoou, agitou-se. (BL, p.11)<br />
A voz narrativa nos aponta, no início do romance, que o Barão era somente<br />
ativo sexualmente dentro do binarismo que perpassa a questão de gênero. Isto servirá<br />
para demonstrar, na sequencia do romance, sua “decadência” quando este se<br />
“desencaminha” por prazeres sexuais supostamente não condizentes com sua posição de<br />
macho viril, pelo menos aos olhos do narrador. Vejamos como esse demonstra a<br />
felicidade do barão quando descobre que ele foi o homem que desvirginou o<br />
inexperiente e, até então, imaculado Eugênio:<br />
Agora homem em cima de mim, antes do senhor, nem sombras do<br />
primeiro! - Acredito! - explodiu o barão, radiante. E abraçando o<br />
efebo, com esta fusão de ternura envaidecida e grata que nos faz<br />
estreitar ao coração a virgem que se nos deu inteira: Como te<br />
chamas tu, afinal! - O meu nome é Eugênio... (BL, p.98)<br />
A tradição cultural herdada do patriarcado impõe que o passivo é aquele que<br />
é desonrado, pois ser penetrado é ser subjugado. Este atavismo nos chega, através da<br />
cultura machista, de que ser passivo é algo negativo e ligado ao feminino. No<br />
patriarcado, pois, é uma exigência que os privilégios determinantes da masculinidade se<br />
imponham, principalmente no campo do desempenho dos papeis sexuais. Contudo,<br />
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