ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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estaria tendo outro relacionamento ou se envolvendo com alguém sexualmente. O<br />
grumete não sai de sua cabeça, se fixa nela como uma obsessão. O distanciamento faz<br />
com que o desespero aumente mais e mais, principalmente pelo fato de que Aleixo não<br />
o procura, nem para uma visita rápida ao hospital em que Bom-Crioulo se recupera da<br />
grande “surra” que levou, por causa das “loucuras” praticadas devido à separação de<br />
Aleixo. O ciúme, associado a uma paixão desesperada, torna-se alento para que este<br />
adquira forças para viver e procurar Aleixo. Ainda havia nele um fio de esperança, no<br />
sentido de salvar sua relação. Nesta dúvida, Amaro pede a um empregado do hospital<br />
que escreva um bilhete para Aleixo, para que esse viesse visitá-lo no hospital. O bilhete<br />
é entregue à Rua da Misericórdia, em mãos de Carola Bunda que, com pavor do que<br />
poderia ocorrer se Bom-Crioulo soubesse do relacionamento dela com Aleixo, o rasga<br />
imediatamente, após ler a mensagem. “Fê-lo em miunçalhas atirando os bocadinhos no<br />
caixão do cisco – Ora, adeus! aquilo não servia para nada!” (BC, 66). Amaro aguarda<br />
em vão pela visita de seu amado ao hospital. Na inútil espera, esse se desconcerta, já<br />
que “a paixão é um desequilíbrio, uma desordem que alguém nos provoca pelo simples<br />
fato de existir, e sobre essa existência não temos nenhum comando” (NUNES FILHO,<br />
1997, p.132).<br />
Depois dessa infinita espera e da desesperança do reencontro, em Amaro<br />
eclode um turbilhão de ódio, associado ao desencontro dos amantes: violência e paixão<br />
passam a ocupar o mesmo coração. “Os homens apaixonados “ardem” – uma velha<br />
imagem que recorda a força da vida e também o aniquilamento, a consumação”<br />
(CARUSO, 1984, p. 220). Dessa forma, Amaro viabiliza sua fuga do hospital para ir ao<br />
encontro do amado a fim de verificar in loco o que estava ocorrendo. Abandona, assim,<br />
o lugar do que espera para tornar-se, quando chegar à Rua da Misericórdia, no não-<br />
esperado desesperado, ou seja, naquele que surpreende. Já que não pode possuir o<br />
objeto amado, talvez fosse melhor acabar sua paixão, matando o outro, seguindo<br />
raciocínio lógico da desrazão passional.<br />
123<br />
Quando se perde alguém que se ama, e esse amor- essa pessoa-<br />
continua vivo(a) há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de<br />
não ter o que se ama torna-se tão irremediável quanto não ter<br />
NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo porque se poderia<br />
ter, já que esta vivo(a) (ABREU, 2006, p.30).<br />
Renasce em Bom-Crioulo o furor de possuir Aleixo de qualquer maneira.<br />
Ensandecido por ter sido abandonado, este vai em busca de seu objeto do desejo