ENTRE SILÊNCIOS, NÓDOAS E COBIÇA - CCHLA - Universidade ...
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literário, surge o Naturalismo brasileiro, seguindo a linha básica do europeu, contudo,<br />
introjetando valores e ideias provenientes de uma economia colonial, baseada num<br />
modo de produção em que o binômio terra versus escravo servia de sustentáculo, pois a<br />
vida nas cidades brasileira no século XIX era um prolongamento do que acontecia no<br />
campo. Deste modo, o Naturalismo brasileiro, associado de perto às questões do<br />
nacionalismo, passa a elaborar em suas narrativas nosso meio e nossa raça.<br />
Havia uma necessidade de autodefinição nacional, que os escritores<br />
pareciam constrangidos se não pudessem usar o discurso para<br />
representar a cada passo o país, desconfiando de uma palavra não<br />
mediada por ele. Isso é notório no Naturalismo, que desejou uma<br />
narrativa empenhada, cheia de realidade, e que no Brasil contribuiu<br />
de maneira importante pelo fato de ter dado posição privilegiada ao<br />
meio e à raça como formas determinantes. Ora meio e raça eram<br />
conceitos que correspondiam a problemas reais e as obsessões<br />
profundas, pesando nas concepções dos intelectuais e constituindo<br />
uma força impositiva em virtude das teorias científicas do momento.<br />
(CANDIDO, 2004, p.129)<br />
Apesar dos autores naturalistas brasileiros tentarem imitar seus<br />
contemporâneos europeus, podemos afirmar que, devido às próprias condições<br />
adquiridas tanto por sermos naquele momento um país de economia colonial defasada<br />
frente aos congêneres europeus como por sermos uma sociedade organizada política e<br />
socialmente de forma diferente do modelo além-mar, no caso, Portugal, nosso<br />
Naturalismo pode ser nomeado de singular em diversos aspectos, afastando-se do<br />
cânone naturalista proveniente dos países vistos como colonizadores. “Por isso, o<br />
naturalismo brasileiro é tanto mais falso quanto mais se esforça para aproximar-se da<br />
receita externa, e tanto mais válido quanto se atém às influências peculiares ao meio<br />
nacional” (SODRÉ, 1965, p.233). Deste modo, observamos que o naturalismo<br />
brasileiro, mesmo tendo sofrido principalmente influências francesas e portuguesas,<br />
segue seus próprios caminhos atrelados às diferenças sociais, políticas e históricas que<br />
havia entre a Europa e o Brasil. Isto pode ser observado, na citação a seguir, quando o<br />
narrador, em Bom-Crioulo, ironicamente critica o colonialismo português glorificado<br />
por Camões, em Os lusíadas. Observamos que o nome de Camões estava escrito numa<br />
barca de aluguel, cujo remador era um galego. Esta barca é aquela em que Amaro<br />
embarca quando foge da prisão e que vai levá-lo à terra ao encontro fatal com Aleixo.<br />
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